Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_28.html antes
de ler esta postagem:
Peachum
repetiu a palavra separando bem as sílabas: “i-no-fen-si-vo”!
Essa era a senha para que os mendigos da banda iniciassem compassos
musicais... E foi isso o que aconteceu. O chefe Brown assustou-se e perguntou o
que aquilo significava. O “rei dos mendigos” esclareceu que era simplesmente
música, tudo o que os seus companheiros podiam fazer. Cantariam “a canção da
ineficácia”. Será que o chefe da polícia não conhecia? Era ouvir e aprender!
(...)
“Canção da Ineficácia do
Empenho Humano”
"Quem vive da cabeça
De lucros não transborda.
Tenta: que da cabeça
Só um piolho engorda.
Pois
que nessa vida
O
espertalhão não tem vez:
Nunca é
percebida
Manha e
malvadez
Faça um grande projeto
Seja a luz brilhante,
Faça um outro projeto –
Ambos não vão avante.
Pois que nesta vida
O charlatão não tem vez:
Só na dura lida
Achas altivez.
Corra atrás da sorte,
Mas não corra demais;
Todos correm atrás da sorte
E a sorte – sempre mais.
Pois nesta
vida
O sôfrego
não tem vez:
A gana
desmedida
Leva ao
xadrez".
(...)
Esse encontro de Brown com
Peachum e a “canção da ineficácia” não são reproduzidos no filme.
Todavia
vimos que, no filme, após a parte em que o “rei dos mendigos” ficou sabendo que
o Navalha se tornara presidente de Banco e saiu tresloucadamente para impedir a
marcha dos miseráveis, o narrador pronunciou algumas palavras semelhantes à da
canção. Isso pode ser conferido em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_21.html.
(...)
Após a canção, Peachum dirige algumas duras palavras ao chefe Brown...
Disse-lhe que seu plano “era genial, mas infalível”. Depois de tudo o que
verificara, podia entender que em seu escritório só conseguiria prender “alguns
jovenzinhos” que se reuniam ali para festejar “a coroação de sua rainha com um
baile a fantasia”.
Disse ainda que os “verdadeiros
miseráveis” estavam para chegar. Milhares deles... E então o chefe de polícia
teria uma noção mais próxima da realidade da gente pobre... Ali em sua rouparia
não encontraria nada demais! O caso é que as pessoas que vivem bem já “esqueceram
o espantoso número de pobres”.
Peachum aproveitou que o policial o ouvia com atenção
e emendou que era preciso imaginar os miseráveis à porta da igreja onde se
celebraria a coração... É claro que “é uma visão nada festiva”, pois “o aspecto
deles não agrada mesmo”.
Acaso o chefe de polícia saberia o que é erisipela? Se sim, deveria
pensar que a jovem rainha merece “estar entre rosas e não entre pessoas
erisipelosas”. E o que dizer dos mutilados que se amontoariam “no portal da
igreja”? Ele, enquanto chefe da segurança, precisava evitar aquilo.
Brown não sabia o que dizer, então Peachum continuou falando
que talvez ele estivesse pensando que seus homens armados pudessem conter os “pobres
coitados”... Puro engano! Será que ele podia imaginar seiscentos aleijados
sendo derrubados pelos policiais com seus cassetetes? Seria muito feio. Ainda mais
no momento da coroação! Algo nojento, de dar náuseas.
Por fim, Peachum disse que de tanto falar sobre
aquelas coisas medonhas até se sentia mal... Por isso pediu uma cadeirinha para
se sentar e respirar mais calmamente.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_2.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto