quinta-feira, 29 de abril de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – a banda de mendigos toca os acordes para a “Canção da Ineficácia do Empenho Humano”; duras e ameaçadoras palavras de Peachum ao chefe de polícia; os ricos parecem esquecer do quão numerosos são os miseráveis; certamente a rainha merece aparecer entre rosas e não em meio a pestilentos e aleijados; a policia teria coragem de os massacrar?


Peachum repetiu a palavra separando bem as sílabas: “i-no-fen-si-vo”!
Essa era a senha para que os mendigos da banda iniciassem compassos musicais... E foi isso o que aconteceu. O chefe Brown assustou-se e perguntou o que aquilo significava. O “rei dos mendigos” esclareceu que era simplesmente música, tudo o que os seus companheiros podiam fazer. Cantariam “a canção da ineficácia”. Será que o chefe da polícia não conhecia? Era ouvir e aprender!
(...)
“Canção da Ineficácia do Empenho Humano”

"Quem vive da cabeça
De lucros não transborda.
Tenta: que da cabeça
Só um piolho engorda.
         Pois que nessa vida
         O espertalhão não tem vez:
         Nunca é percebida
         Manha e malvadez
Faça um grande projeto
Seja a luz brilhante,
Faça um outro projeto –
Ambos não vão avante.
         Pois que nesta vida
         O charlatão não tem vez:
         Só na dura lida
         Achas altivez.
Corra atrás da sorte,
Mas não corra demais;
Todos correm atrás da sorte
E a sorte – sempre mais.
         Pois nesta vida
         O sôfrego não tem vez:
         A gana desmedida
         Leva ao xadrez".

(...)
Esse encontro de Brown com Peachum e a “canção da ineficácia” não são reproduzidos no filme.
Todavia vimos que, no filme, após a parte em que o “rei dos mendigos” ficou sabendo que o Navalha se tornara presidente de Banco e saiu tresloucadamente para impedir a marcha dos miseráveis, o narrador pronunciou algumas palavras semelhantes à da canção. Isso pode ser conferido em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_21.html.
(...)
Após a canção, Peachum dirige algumas duras palavras ao chefe Brown... Disse-lhe que seu plano “era genial, mas infalível”. Depois de tudo o que verificara, podia entender que em seu escritório só conseguiria prender “alguns jovenzinhos” que se reuniam ali para festejar “a coroação de sua rainha com um baile a fantasia”.
Disse ainda que os “verdadeiros miseráveis” estavam para chegar. Milhares deles... E então o chefe de polícia teria uma noção mais próxima da realidade da gente pobre... Ali em sua rouparia não encontraria nada demais! O caso é que as pessoas que vivem bem já “esqueceram o espantoso número de pobres”.
Peachum aproveitou que o policial o ouvia com atenção e emendou que era preciso imaginar os miseráveis à porta da igreja onde se celebraria a coração... É claro que “é uma visão nada festiva”, pois “o aspecto deles não agrada mesmo”.
Acaso o chefe de polícia saberia o que é erisipela? Se sim, deveria pensar que a jovem rainha merece “estar entre rosas e não entre pessoas erisipelosas”. E o que dizer dos mutilados que se amontoariam “no portal da igreja”? Ele, enquanto chefe da segurança, precisava evitar aquilo.
Brown não sabia o que dizer, então Peachum continuou falando que talvez ele estivesse pensando que seus homens armados pudessem conter os “pobres coitados”... Puro engano! Será que ele podia imaginar seiscentos aleijados sendo derrubados pelos policiais com seus cassetetes? Seria muito feio. Ainda mais no momento da coroação! Algo nojento, de dar náuseas.
Por fim, Peachum disse que de tanto falar sobre aquelas coisas medonhas até se sentia mal... Por isso pediu uma cadeirinha para se sentar e respirar mais calmamente.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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