Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_22.html antes
de ler esta postagem:
Como
pudemos notar, a chegada de Jenny com as garotas de Turnbridge à loja de
Peachum para tratar da recompensa a elas prometida por dona Célia é episódio
que não aparece no filme.
Em relação às postagens sobre o texto da peça, não podemos esquecer que
estamos no ponto em que “rei dos mendigos” lidava com os preparativos para a
“grande marcha dos miseráveis” que traria transtornos às festividades de
coroação da rainha. Por isso mesmo o local ainda estava bem agitado.
(...)
Peachum voltou-se para os
seus comandados e pediu-lhes pressa. Disse que todos ali “acabariam nas cloacas
de Turnbridge” se ele não se dedicasse diuturnamente a “cavar alguns vinténs”
da pobreza... Então ele prosseguiu com aquele discurso que já conhecemos desde
o filme (melhor seria dizer que a partir do texto projetou-se o discurso que
vemos no filme). Disse que “os donos do mundo são capazes de provocar a
miséria, mas ver a miséria, isto eles não suportam”.
No texto da peça, Peachum seguiu falando que os ricos
“são covardes e imbecis” como os próprios mendigos. Disse isso e acrescentou
que os abastados têm “com o que se empanturrar até o fim de seus dias” e podem “besuntar
o chão de suas casas com manteiga, a ponto de até as migalhas caídas de suas
mesas ficarem engorduradas”, mas não aguentam “ver com indiferença um homem
desmaiando de fome” mesmo sabendo que (este mesmo esfomeado) poderá eventualmente
desmaiar em suas portas.
A Senhora Peachum retornou com uma bandeja e xícaras de café... Ela
explicou às garotas de Turnbridge que poderiam retornar à loja no dia seguinte
para pegar o dinheiro que lhes havia sido prometido, mas acrescentou que deviam
aparecer após a coroação. Jenny disse-lhe que não tinha palavras para
agradecer...
(...)
O velho Peachum voltou a chamar a atenção de todos ao
dizer que em uma hora todos os mendigos deviam se reunir “em frente ao palácio
de Buckingham”. Era bom se apressarem.
Essas orientações foram interrompidas por Filch que acabava de voltar da
delegacia. Chegou esbaforido e querendo explicar que nem bem chegara ao posto
policial e se deparara com os policiais a caminho da loja de Peachum. O patrão
arregalou os olhos e gritou para que todos se escondessem. Orientou a esposa
para preparar o “pessoal da banda” com urgência.
Ele tinha um plano... Receberia os tiras e embalaria uma conversa até o
momento em que dissesse a palavra “inofensivo” separando bem as sílabas... Dona
Célia não entendeu e, quando o marido começou a explicar o que deveriam fazer
após aquele sinal, os policiais começaram a bater na porta... Foi só o tempo de
ele dizer que, ao ouvi-lo dizer “i-no-fen-si-vo”, a banda deveria iniciar uma “música
qualquer”.
(...)
Célia Peachum se retirou
com os mendigos para o local onde puderam se esconder... Uma jovem que segurava
o cartaz com os dizeres “Vítima da arbitrariedade militar” permaneceu.
Obviamente, como veremos a seguir, isso não foi por acaso.
(...)
Devemos lembrar que Brown
havia convocado uma reunião extraordinária assim que Peachum o deixou... Ele
sentiu-se ameaçado e por isso procurou barrar qualquer ação de retaliação do
líder dos mendigos à inoperância da polícia diante da fuga do Navalha.
O
chefe de polícia já chegou dizendo que “o negócio agora é sério” e ordenou ao
Smith que algemasse o “amigo dos mendigos”. Não foi preciso muito esforço para
notar que estiveram trabalhando com uns cartazes, e ele logo viu a moça com
aquele sobre a “arbitrariedade militar”. Ao ler, quis saber da jovem se ela era
“a vítima”...
Nenhuma resposta lhe foi dada porque Peachum o interrompeu com um “Bom
dia, Brown”. O tira não gostou da intimidade diante de seus subordinados, por
isso perguntou-lhes se o tipo estava falando mesmo com ele, se o velho conhecia
um dos policiais, pois ele mesmo ainda não tivera o prazer de conhecê-lo.
Novamente, e para provocá-lo,
Peachum disparou novo “Bom dia, Brown”. O chefe dos policiais ordenou que
arrancassem o chapéu da cabeça do abusado. Smith cumpriu a ordem no mesmo
instante.
Ainda com ares de deboche, Peachum se dirigiu com
intimidade ao Brown e lhe disse que, já que estava passando por ali (e reforçou
a palavra “passando” pronunciando-a bem devagar), podia aproveitar a
oportunidade para finalmente prender “um certo Macheath”.
Brown não conseguiu esconder o nervosismo e disse que “o homem
enlouqueceu”... teve de advertir Smith que pôs-se a rir e perguntou-lhe como
era possível que o “criminoso notório” ainda circulasse por Londres.
Bem podia ser que o chefe de polícia estivesse se
referindo ao próprio Peachum, mas este não lhe deu chance de ser mais assertivo
porque o interrompeu que o “criminoso notório” era seu amigo, amigo do próprio
chefe de polícia!
Brown disfarçou e, querendo mostrar-se
desentendido, perguntou “ele quem?” Quem era seu amigo? Então Peachum respondeu
imediatamente que era o Mac Navalha. Não ele, Peachum. Acaso era um criminoso?
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_28.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um
abraço,
Prof.Gilberto