Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_7.html antes
de ler esta postagem:
O
velho se retirou...
Péricles ficou visivelmente chocado, indeciso e com os olhos arregalados
focou o dinheiro e depois a porta... Por fim decidiu pegar os pacotes e
encaminhar-se para a saída.
Nancy retornou à sala e o
chamou assim que o flagrou... Assustado, o rapaz deixou o dinheiro cair. A
mulher afastou os pacotes com o pé e foi lhe dizendo que a “conquista da
felicidade” era mesmo perigosa e que “o dinheiro dos infelizes” é inútil.
Visivelmente amargurada, manifestou que tinha a impressão de que a viam como “uma
lata de lixo”, onde se atiram papéis sujos. Por fim, perguntou-lhe se sabia
quanto aqueles cem contos valiam em suas mãos.
Envergonhado, Péricles respondeu que não sabia, então
ela afirmou que, nas mãos dele, aquele dinheiro não valia nada. Provocou-o
dizendo que ele sequer tinha noção de que o que havia nos pacotes era dinheiro.
Pegou um dos pacotes e leu que os papéis eram “promessas” e que, “no Thesouro Nacional”,
seriam pagas em ouro (o lastro). Vociferou que “ninguém buscaria o ouro!” As
notas eram trocadas “por um pouco de felicidade”. Mas evidentemente ele não
saberia onde encontrar.
(...)
O rapaz estava mesmo encabulado e sem condições de encará-la... Respondeu
que de fato não sabia, mas tudo indicava que a felicidade estivesse nas mãos do
“velho miserável”, a quem o dinheiro pertencia.
Essas últimas palavras foram ouvidas pelo velho que
retornava à sala naquele momento... Ele chegou afirmando que os pacotes
pertenciam ao Péricles... Disse também que, com aquele dinheiro, havia comprado
“um pouco de felicidade para Nancy”.
A mulher o interrompeu e disparou que o dinheiro comprara apenas a
desgraça do rapaz... Mas por quê? O velho quis saber... O dinheiro não chegara
a tempo?
Péricles acabou confessando que não era irmão de Nancy. Pediu perdão e o
velho manifestou espanto enquanto o rapaz explicava que havia tramado uma
chantagem apenas para fugir com ela, pois “era apenas apaixonado”.
O velho cumprimentou-o com
um “meus pêsames”, depois voltou-se para Nancy e perguntou-lhe a respeito de
sua participação na trama. Cabisbaixa, deixou escapar que “era uma infeliz”.
Mas será que esperavam
viver felizes só com aquela quantia? O velho lançou essa pergunta e, dando
tapinhas no ombro de Péricles, emendou que podia ficar com o dinheiro... E
podia ficar com Nancy também.
(...)
A
atmosfera tornou-se bem pesada na grande sala. O velho vaticinou que o dinheiro
ainda “voltaria par ele”... Quanto a Nancy... Não podia cravar nada a seu
respeito, então pôs-se a sair desejando-lhes “boa noite; sejam felizes”.
Ela o interceptou sem saber o que dizer. Ele a consolou afirmando que entendia
bem que a dúvida permanecia em seu espírito... Sim, algo horrível, ela
confirmou.
(...)
O velho ia se retirar, mas
decidiu demorar-se um pouco mais para dissipar a dúvida que ela tinha sobre a
sua condição. Então pediu aos dois que se sentassem. Na sequência revelou-lhes
que era “um reles mendigo de porta de igreja”.
Nancy e Péricles sorriram nervosamente, pois não
podiam crer na informação que acabavam de ouvir... Então o dono da mansão
cravou que “as grandes verdades são tão absurdas que é muito difícil
acreditar-se nelas”.
Atônita, Nancy perguntou-lhe se era mesmo um mendigo. O velho respondeu
que era um “falso mendigo”, já que os “verdadeiros” eram os que lhe davam
esmolas. Péricles se intrometeu dizendo que ele devia se disfarçar muito bem.
Para matar a curiosidade do outro, o velho esclareceu
que tinha apenas de trocar de roupa e colocar barbas postiças... Só isso? O moço
não podia crer e tampouco entender como as pessoas se iludem umas com as outras
apenas pela aparência e roupas que vestem.
Mas será que o homem não tinha medo de ser descoberto? Péricles lançou
mais essa dúvida e o velho, como que a dizer o óbvio, respondeu que “o dinheiro
encobre as misérias”.
(...)
Péricles e Nancy se entreolharam. Depois, quase que simultaneamente,
voltaram os olhares para os pacotes de dinheiro... Provavelmente suspiraram
enquanto pensavam nas últimas palavras que tinham ouvido.
Ela perguntou novamente se
o velho era mesmo um mendigo. Ele confirmou e emendou que ela não precisava
pensar mais nele... E não havia por que hesitar entre um velho mendigo e um
jovem rapaz prestigiado socialmente. Que ficasse com o rapaz! E esse era o
último conselho que tinha para lhe dar.
E o que mais? Que ficassem
juntos... “Um dia, quando sentissem que a felicidade lhes escapa, poderiam
percorrer as igrejas”... Certamente o encontrariam, e ele lhes venderia “a
troco de um tostão”.
Cumprimentou-os novamente... Boa noite!... E
enfim se retirou.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_14.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto