quarta-feira, 31 de março de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill - comparações entre o filme e o texto da peça no episódio da captura do Navalha; decadente “Balada do Cafetão”; policial Smith golpeado e o bandido foge pela janela; o trunfo da Senhora Peachum


As seguidas postagens sobre o texto da peça se justificam na medida em que pretendemos “alcançar” o ponto a que chegamos nas postagens sobre o filme... Como devemos saber, as duas últimas postagens sobre o filme (ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_15.html e https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_18.html) trataram da “visita” do Navalha ao prostíbulo após ter passado o comando do “negócio” a Polly...
Vimos o quanto ele se divertiu com as garotas do prostíbulo. Jenny o traiu ao aceitar a proposta da Senhora Peachum, mas o ajudou a escapar da perseguição policial depois que ele declarou que jamais a esqueceria...
Vimos a fuga espetacular do bandido pelos telhados da vizinhança e o encontro inesperado e providencial com uma garota que o acolheu num momento em que os apitos anunciavam a proximidade dos policiais...
A seguir constataremos que o enredo da peça não inclui cenas como as anteriormente citadas... Ao chegarmos ao momento da captura do Navalha notaremos outras diferenciações entre as produções. Antes, porém, destacaremos a “Balada do Cafetão” que é cantada por ele e por Jenny.
(...)

“Balada do Cafetão”

Mac Navalha canta:
         “Bom tempo aquele que não volta mais.
         Como casal, vivíamos sem briga,
         No esforço para o mesmo ideal:
         Eu da cabeça, ela da barriga.
         Pode ser diferente, e pode ser tal qual.
         Quando chegava outro cavalheiro,
         Eu lhe cedia a cama prazenteiro
         E, vendo a grana, ria: Meu senhor,
         A casa é sempre sua por favor!”
                   Jenny canta:
                  “Bom tempo aquele que não volta mais.
                   Trepávamos sem conta e sem noção,
                   E ele, gastando o nosso capital,
                   Botava as minhas roupas no leilão.
                   Pode ser diferente, e pode ser tal qual.
                   Fiquei de birra, por achar-me nua,
                   E perguntei: Rapaz, qual é a tua?
                   Sua resposta foi uma porrada
                   Que me deixou, por dias, acamada.
                   Foi num bordel de fina freguesia,
                   Onde fixamos a nossa moradia.”
Mac e Jenny cantam juntos e alternando:
“Bom tempo aquele que não volta mais.
(Mac) A nossa vida era iluminada:
(Jenny) Trepávamos de dia, afinal
(Mac) A noite ela estava ocupada.
(Pode ser diferente, e pode ser tal qual.)
(Jenny) Peguei um filho deste valentão.
(Mac) Mas com prazer eu lhe servia de colchão
(Jenny) Para não esmagar no ventre a criancinha
(Mac) E que se foi pro brejo ainda bem novinha.
Foi num bordel de fina freguesia,
Onde fixamos nossa moradia.”
(...)
Depois das trágicas e degradantes revelações, a peça sugere alguns passos de dança do Navalha... Ele faz alguns gracejos com a bengala e recebe o chapéu das mãos de Jenny, mas enquanto dança não percebe a chegada do policial Smith.
(...)
O policial se aproximou levando a mão ao ombro do bandido, que foi orientado a segui-lo... O Navalha perguntou (certamente às mulheres do prostíbulo) se “a espelunca” continuava com apenas uma saída. Enquanto Smith tentou algemá-lo, foi golpeado no peito com um murro... O tira cambaleou enquanto o Navalha escapuliu pela janela.
Já na calçada, Mac Navalha encontrou a mãe de Polly acompanhada de outros policiais... Ele a cumprimentou com um “boa noite” e a ouviu dizer que o Senhor Peachum sempre falava que “os maiores heróis da história universal caíram por causa deste pequeno deslize” (certamente uma referência à sua insistência em comparecer ao casarão mesmo sabendo que estava sendo perseguido).
O bandido perguntou como estava o Senhor Peachum e a mulher respondeu secamente que ele estava melhor... Na sequência lembrou-lhe que teria de se despedir das “encantadoras damas”. A Senhora Peachum solicitou a um policial que se encarregasse do Navalha e o conduzisse “ao seu novo lar”.
Enquanto o conduziam, a mulher chegou próximo à janela para falar às garotas... Disse que, se quisessem visitá-lo, sempre o encontrariam “em casa”, ou seja em Old Bailey... Ela estava radiante, pois seu palpite sobre encontrar o criminoso vadiando entre as “mulheres de Turnbridge” havia sido certeiro.
(...)
Como vimos, o texto da peça mostra que Jenny foi decisiva para a prisão do Navalha e nada fez para impedir... Depois ela se dirigiu ao Jakob falando sobre as últimas movimentações na casa e a chegada da polícia. O outro não havia percebido nada, pois estivera o tempo todo inteirando-se dos textos do jornal... Desajeitado, e um tanto desorientado, o capanga deixou o local.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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