Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_14.html antes
de ler esta postagem:
Como
vimos, Péricles foi obediente ao pedido de Nancy e se retirou. Antes, porém, parou
por um instante junto à porta e assim pôde ouvir suas últimas palavras: “a
felicidade mandou-me lembranças; vou procurá-la para agradecer”.
Depois o cenário tornou-se escuro...
A luz retornou aos poucos,
mas na parte do tablado onde se encontra a igreja, onde estão o velho e seu
companheiro mendigo.
(...)
Em sua narrativa ao Barata, o velho contou-lhe
detalhes apenas até a parte em que havia se despedido dos dois após ter-lhes
revelado a sua condição de “falso mendigo”, sua “existência paralela”.
Obviamente não podia ter a menor ideia de como se desenrolou a conversa entre
Nancy e Péricles logo que os deixou a sós.
É por isso que vemos o Barata perguntando ao amigo se ele pensava que a
mulher fosse capaz de fugir com o aventureiro rapaz. O velho respondeu que não
sabia, mas, de sua parte, tinha certeza de que cumprira o dever.
Como não podia deixar de ser, também essa afirmação
provocou dúvidas ao Barata... Então o outro explicou-lhe que, em relação à
mulher, o dever do homem “é torná-la feliz”... Mas será mesmo que ela se
realizaria ao lado do jovem? Quanto a isso, tinha a dizer que, o que dependia
dele, lhe foi proporcionado... Todo o resto era por conta dela mesma.
(...)
De fato, a história era das mais intrigantes... Barata, em sua
simplicidade, não podia esconder a admiração e o espanto que sentia. Conforme
as horas se passaram, tornou-se um admirador do velho misterioso, um “filósofo”
e seus ensinamentos chocantes, um perdido entre os miseráveis.
O velho respondeu que, como
havia sido às oito horas daquela noite mesma em que haviam se conhecido na
porta da igreja, poucas horas haviam se passado. Emendou que, depois de
deixá-los na sala., resolveu “trocar o fardamento” e se retirar. Barata
concluiu que quando Nancy havia passado por eles devia estar à sua procura.
Sim. O velho disse que o
companheiro tinha razão. A mulher o estava procurando. Mas então, “por que não
se deu a conhecer?” Simplesmente para que ela tivesse tempo suficiente para
refletir sobre a felicidade que buscava.
Barata
quis saber por que o amigo resolvera confessar-lhe “que vivia na
mendicância”... O velho salientou que pretendia que ela conhecesse melhor o
contraste entre ele e o jovem concorrente... Só por isso?
Havia essa ideia, mas ele admitiu que a revelação da “existência
paralela” tinha também um caráter de vingança, pois, vaidosa como era, Nancy
deve ter experimentado certa dor ao saber que “havia vivido com um mendigo”.
Ele, que se esforçou para torná-la feliz, proporcionou-lhe “um verdadeiro
horror à felicidade”...
O velho projetou que,
doravante, a mulher teria problemas para passar pelas igrejas, transpor suas
portas; certamente teria horror a doar esmolas e até sentiria nojo do dinheiro.
Que situação! “Mendigos, igrejas e dinheiro há por toda parte”!
(...)
Barata ainda arriscou uma opinião e disse que a mulher
esqueceria toda aquela situação desagradável... O velho não concordou, pois
entendia que ela teria de se reconciliar com tudo o que havia se passado para
poder viver minimamente tranquila. A reconciliação pela qual ela teria de
passar, segundo ele, seria impossível sem a sua assistência.
(...)
Que horas seriam? Barata perguntou preocupado.
Mais ou menos meia-noite... Por onde andava a
“coitadinha”?
O velho estava convicto de que Nancy perambulava pelas igrejas. Barata
perguntou-lhe se acreditava que ela andasse à sua procura... Sim, tinha
certeza! Não fosse assim, não a teria deixado a sós com o tipo.
Ele entendia que, estando longe, a influenciaria muito mais, pois sabia
que a revelação que fizera a deixaria pensando e, por mais que o jovem
argumentasse a favor de uma “nova vida”, a “sugestão da ausência do velho
companheiro” lhe seria muito mais forte.
Ao explicar a sua estratégia, fez Barata pensar
que ele se tratava de um velho terrível... Então adiantou-se a justificar
dizendo que, no caso, era uma questão de “pontos de vista”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo-o_14.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto