domingo, 4 de abril de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill - comparações entre o filme e o texto da peça no episódio da captura do Navalha; decadente “Balada do Cafetão”; policial Smith golpeado e o bandido foge pela janela; o trunfo da Senhora Peachum


É certo que o Barata não entendia a maior parte dos conceitos utilizados pelo velho em sua explanação a respeito da “lei social” imposta pela alta burguesia... O que ele pensava sobre “pequenos burgueses”? Não temos condições de saber, mas podemos dizer que ele compreendia a indignação que o outro dispensava ao “estado de coisas” definido pelos mais ricos... Assim, entendia que os “pequenos burgueses” se tornavam ridículos ao não perceberem que reproduziam o “modo de ser” dos mais ricos sem terem condições materiais para isso.
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Podemos dizer que a avaliação que o velho fazia a respeito do “estado de coisas” social tinha a ver com a “hegemonia burguesa”. Barata respondeu que “ridículos são os que têm vergonha de ser pobres”...
O outro aproveitou para completar que há os “pobres de luxo”, uns tipos “que empenham os móveis para ir ao Municipal” e a eventos da alta burguesia... Há os que fingem ser ricos e passam fome para se vestirem com as melhores roupas.
Dito isso, o velho sentiu-se em condições de explicar como a humanidade está dividida em “miseráveis, falsos ricos e ricos falsos”. Emendou que “a pior classe é a dos falsos ricos”, já que seus membros chegam a sofrer mais do que os miseráveis, mas fingem nada sofrer. Esses têm vergonha de dizer que sofrem e, dessa forma, chegam à impressão de que não precisam melhorar a vida... Sofrem calados e esperam resignados pelo dia em que deixarão de sofrer.
Barata arriscou dizer que conhecia “uma família que não tinha o que comer”. Ele morava bem ao lado e todas as manhãs ouvia “barulho de garfo em prato de louça” como se estivessem preparando ricas fritadas... O velho não duvidou e admitiu que, como a família citada, havia muitas outras que se comportam como se não precisassem de nada... Mentem, pois querem aparentar uma falsa condição de felicidade.
A respeito dessa parcela da sociedade, o velho podia dizer que grande parte da fortuna que acumulara na vida provinha de esmolas desse tipo de gente... Era como se, dando esmolas, pagassem o “tributo pela burrice”.
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Barata concluiu que essas pessoas iludidas podiam pensar como o companheiro afortunado e, assim, tudo seria diferente. O velho respondeu que, de fato, todos pensavam como ele, mas carregavam um “medo moral” de coisas que não podem ver... Seria medo de Deus?
Sim, ele confirmou e acrescentou que “ninguém cumpre o que Deus determinou pela palavra do Messias”. Creem que o dinheiro resolva tudo e “compram o seu perdão” ofertando miseráveis migalhas a mendigos como eles dois.
Será que não está faltando uma “religião perfeita?”, foi o que Barata perguntou... O velho explicou que todas as religiões são perfeitas. A imperfeição está nos homens... E provocou o colega dizendo que se fundassem uma seita que oferecesse “suculento bife com batatas à hora da comunhão” seria bem diferente. Barata espantou-se, mas garantiu que ele mesmo compareceria para “comungar todos os dias”.
O velho quis mostrar que o raciocínio do companheiro não tinha nada de extravagante... No fundo, todos esperam “resultados imediatos” para os dramas que carregam, mas sequer refletem sobre as palavras que repetem quando rezam o “Padre Nosso”. Citou o trecho em que se pede ao Senhor que “perdoe as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” e perguntou: ”Quem é que perdoa as dívidas?” Acrescentou que também as religiões são intransigentes, referiu-se aos “suicidas” e ao modo implacável como lhes tiram o direito a uma celebração post-mortem...
O simplório Barata quis saber se o colega filósofo achava que Deus concorda com esse tipo de procedimento... Em resposta, o velho sentenciou que “não tem outro remédio” e acrescentou que os homens colocaram-se acima de Deus, e foi assim que resolveram “os casos omissos”... Mas então, “quem é que fala em nome de Deus”? Todos! “Menos aqueles que obedecem cegamente”...
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O velho citou alguns expoentes que se esmeraram em sua busca pela verdade e crescimento espiritual (Buda, Confúcio, Sócrates, Platão)... Depois lamentou que  as pessoas não os levam em consideração, preferindo seguir apenas os que “falam em nome de Deus”... Todavia advertiu que caso “convocassem um congresso de todas as igrejas para discutir os pontos controversos, acabariam por negar a existência de Deus”.
Barata sentiu-se em condições de concluir que, exatamente por causa disso, “se diz que sobre religião não se deve discutir”.
Leia: “Deus lhe pague”. Ediouro.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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