Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_21.html antes
de ler esta postagem:
É
certo que o Barata não entendia a maior parte dos conceitos utilizados pelo
velho em sua explanação a respeito da “lei social” imposta pela alta
burguesia... O que ele pensava sobre “pequenos burgueses”? Não temos condições
de saber, mas podemos dizer que ele compreendia a indignação que o outro
dispensava ao “estado de coisas” definido pelos mais ricos... Assim, entendia
que os “pequenos burgueses” se tornavam ridículos ao não perceberem que
reproduziam o “modo de ser” dos mais ricos sem terem condições materiais para
isso.
(...)
Podemos dizer que a avaliação que o velho fazia a respeito do “estado de
coisas” social tinha a ver com a “hegemonia burguesa”. Barata respondeu que “ridículos
são os que têm vergonha de ser pobres”...
O outro aproveitou para completar
que há os “pobres de luxo”, uns tipos “que empenham os móveis para ir ao
Municipal” e a eventos da alta burguesia... Há os que fingem ser ricos e passam
fome para se vestirem com as melhores roupas.
Dito isso, o velho sentiu-se em condições de explicar
como a humanidade está dividida em “miseráveis, falsos ricos e ricos falsos”.
Emendou que “a pior classe é a dos falsos ricos”, já que seus membros chegam a
sofrer mais do que os miseráveis, mas fingem nada sofrer. Esses têm vergonha de
dizer que sofrem e, dessa forma, chegam à impressão de que não precisam melhorar
a vida... Sofrem calados e esperam resignados pelo dia em que deixarão de
sofrer.
Barata arriscou dizer que conhecia “uma família que não tinha o que
comer”. Ele morava bem ao lado e todas as manhãs ouvia “barulho de garfo em
prato de louça” como se estivessem preparando ricas fritadas... O velho não
duvidou e admitiu que, como a família citada, havia muitas outras que se
comportam como se não precisassem de nada... Mentem, pois querem aparentar uma
falsa condição de felicidade.
A respeito dessa parcela da sociedade, o velho podia
dizer que grande parte da fortuna que acumulara na vida provinha de esmolas
desse tipo de gente... Era como se, dando esmolas, pagassem o “tributo pela
burrice”.
(...)
Barata concluiu que essas pessoas iludidas podiam pensar como o companheiro
afortunado e, assim, tudo seria diferente. O velho respondeu que, de fato,
todos pensavam como ele, mas carregavam um “medo moral” de coisas que não podem
ver... Seria medo de Deus?
Sim, ele confirmou e acrescentou que “ninguém cumpre o que Deus
determinou pela palavra do Messias”. Creem que o dinheiro resolva tudo e “compram
o seu perdão” ofertando miseráveis migalhas a mendigos como eles dois.
Será que não está faltando
uma “religião perfeita?”, foi o que Barata perguntou... O velho explicou que todas
as religiões são perfeitas. A imperfeição está nos homens... E provocou o
colega dizendo que se fundassem uma seita que oferecesse “suculento bife com
batatas à hora da comunhão” seria bem diferente. Barata espantou-se, mas
garantiu que ele mesmo compareceria para “comungar todos os dias”.
O velho quis mostrar que o
raciocínio do companheiro não tinha nada de extravagante... No fundo, todos
esperam “resultados imediatos” para os dramas que carregam, mas sequer refletem
sobre as palavras que repetem quando rezam o “Padre Nosso”. Citou o trecho em
que se pede ao Senhor que “perdoe as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos
nossos devedores” e perguntou: ”Quem é que perdoa as dívidas?” Acrescentou que
também as religiões são intransigentes, referiu-se aos “suicidas” e ao modo
implacável como lhes tiram o direito a uma celebração post-mortem...
O
simplório Barata quis saber se o colega filósofo achava que Deus concorda com
esse tipo de procedimento... Em resposta, o velho sentenciou que “não tem outro
remédio” e acrescentou que os homens colocaram-se acima de Deus, e foi assim
que resolveram “os casos omissos”... Mas então, “quem é que fala em nome de
Deus”? Todos! “Menos aqueles que obedecem cegamente”...
(...)
O velho citou alguns expoentes que se esmeraram em sua busca pela
verdade e crescimento espiritual (Buda, Confúcio, Sócrates, Platão)... Depois
lamentou que as pessoas não os levam em
consideração, preferindo seguir apenas os que “falam em nome de Deus”...
Todavia advertiu que caso “convocassem um congresso de todas as igrejas para
discutir os pontos controversos, acabariam por negar a existência de Deus”.
Barata sentiu-se em condições de concluir que,
exatamente por causa disso, “se diz que sobre religião não se deve discutir”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto