domingo, 25 de abril de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – socialistas embalados pela aprovação do sufrágio universal masculino; críticas comunistas ao equívoco da participação no jogo político; Jean Jaurès, do Partido Socialista francês e sua pauta baseada nos princípios da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão; críticas de Marx ao documento legado pela Revolução Francesa; defesa da revolução das relações sociais e abolição da propriedade privada; meta da Declaração dos Direitos do povo Trabalhador e Explorado; Lênin endossa Marx, Stálin proclama Constituição contraditória

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_25.html antes de ler esta postagem:

Com a aprovação do sufrágio universal masculino, os socialistas se animaram em sua defesa do movimento político visando a disputa de cadeiras no parlamento e cargos. Obviamente estruturaram partidos de acordo com as regras estabelecidas... Por outro lado, os comunistas também vinham se organizando pelo menos desde 1840, quando “o termo comunista apareceu pela primeira vez”. Como salientou-se na última postagem, esses permaneceram irredutíveis em relação à via revolucionária para alterar a sociedade e estabelecer a “ditadura do proletariado” para garantir que as injustiças sociais fossem definitivamente suprimidas.
Os socialistas entenderam que a conquista do voto possibilitava uma melhor organização da classe trabalhadora para a disputa política... Um exemplo dessa organização é o da formação do Partido Trabalhista britânico em 1900, a partir de sindicatos diversos, “partidos e clubes preexistentes para promover os interesses e a eleição de trabalhadores”. Também os comunistas de todo mundo se animaram com o triunfo da Revolução Russa de 1917 e a tomaram como referência em sua luta pelas mudanças sociais e econômicas... Cada vez mais essa vertente se convencia de que a disputa política nos moldes impostos pela organização liberal “desperdiçava energias necessárias para outros tipos de luta”. Apesar disso, havia entre os que não dispensavam o debate e a disputa política.
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Há que se destacar ainda que socialistas e parte dos comunistas, que estavam resolvidos a de alguma forma participar do processo político, tinham suas diferenças em relação aos direitos. Os dois grupos fizeram da conquista dos direitos (e o seu exercício) uma das principais causas de luta.
Jean Jaurès, que ajudou a fundar o Partido Socialista da França, insistia que, uma vez tendo chegado ao poder, o Estado Socialista “só retém a sua legitimidade enquanto assegura os direitos individuais”. Entre as causas apoiadas por Jaurès, o livro destaca “a defesa de Dreyfus, o sufrágio universal masculino e a separação da Igreja e do Estado”... Para ele, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão havia sido uma importante conquista para as sociedades e, nesse sentido, era documento universal dos mais valiosos. Nesse sentido, o político socialista francês considerava que os direitos políticos eram para todos os homens, e isso contribuiria para a melhoria de vida da classe trabalhadora.
Comunistas e socialistas que se opunham a Jaurès eram da opinião de que o Estado estruturado a partir do liberalismo burguês não era outra coisa senão “um instrumento de conservadorismo e opressão social”.
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O livro esclarece que Marx debruçou-se sobre a questão dos direitos do homem em sua juventude... No ensaio “Sobre a questão judaica” (1843), ele condenou os fundamentos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e afirmou que nenhum dos direitos elencados no documento ia “além do homem egoísta”. A liberdade que se apregoava “só dizia respeito ao homem como um ser isolado” e não como integrante de classe ou grupo social. Em relação ao “direito de propriedade”, a crítica de Marx se dirige ao fato de ele se se ater à “busca do interesse próprio sem considerar os outros”. A respeito do “direito a liberdade de religião”, era incisivo ao afirmar que, na verdade, os homens têm necessidade de se livrarem da religião, e a mesma coisa pode-se dizer a respeito da crítica ao “direito à propriedade”, algo de que seria preciso se livrar para se constituir a nova sociedade.
Muitos outros aspectos poderiam ser elencados aqui... Marx criticava a Declaração principalmente na “ênfase política” que se dava aos direitos. Para ele, direitos políticos se referem aos meios, e não aos fins. Desse modo, insistia que “o homem político era abstrato, artificial; nada autêntico”.
Então, de acordo com Marx, de que modo o homem pode “recuperar sua autenticidade”? Em resposta a essa questão, ele diria que o homem deve reconhecer que a “emancipação humana” não é atingida através da política, mas sim através da revolução que foca “as relações sociais e a abolição da propriedade privada”.
Nem é necessário acrescentar que essas ideias, e algumas variantes delas, influenciaram socialistas e comunistas em seus movimentos sociais.
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Ao conquistarem o poder, os bolcheviques proclamaram a “Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado” (1918). O documento não trazia nenhum “direito político ou legal” e tinha como meta:

                   “abolir toda exploração do homem pelo homem, eliminar completamente a divisão da sociedade em classes, esmagar implacavelmente a resistência dos exploradores (e) estabelecer uma organização socialista da sociedade”.

Lênin, estudioso de Marx e inspirado em sua teoria, realçava a importância de se opor às tentativas de valorização dos direitos individuais, em si mesmos “uma violação da igualdade e uma injustiça”, pois se baseiam na “lei burguesa”. Tais direitos mantêm e protegem a propriedade privada, “que perpetua a exploração dos trabalhadores”.
Stálin proclamou outra Constituição (1936) que promovia “a liberdade de expressão, de imprensa e de religião”... Todavia todos sabem das perseguições promovidas por seu governo contra milhares de desafetos, “inimigos de classe, dissidentes e até colegas membros do partido para campo se prisioneiros ou execução imediata”.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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