domingo, 18 de abril de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – ainda a questão da “missão civilizatória”; opiniões de Stuart Mill a respeito das classificações das raças e de seu contato direto com nativos da Índia; citação de Richard Burton, ideia de “inferioridade” dos africanos que também podia ser aplicada à justificativa de que apenas os superiores têm condições de dinamizar a economia; a “missão civilizatória” dos franceses na Argélia; discípulos de Gobineau em franca perseguição aos judeus; Houston Stewart Chamberlain e a propagação antissemita

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_7.html antes de ler esta postagem:

Vimos que ao tempo do imperialismo neocolonialista propagou-se a ideia de que os europeus assumiram a “missão civilizatória”... Muitos estudiosos garantem que o chamado “fardo europeu” de “civilizar” povos dominados na África, Ásia e Oceania na verdade escondia o principal objetivo das missões exploradoras dos recursos naturais, de mão-de-obra e do mercado consumidor.
Vimos também que o racismo fez parte das “aventuras imperiais”. O texto destaca que nem todos defenderam o “racismo explícito” e cita John Stuart Mill, que trabalhou durante certo período para a Companhia Britânica das Índias Orientais e não aceitava “as explicações biológicas da diferença”. Apesar disso, Mill admitia que “os estados principescos da Índia eram ‘selvagens’” eram desprovidos de legislação e ainda considerava que sua condição era “muito pouco acima do mais elevado dos animais”.
(...)
O caso é que o imperialismo neocolonialista colocou em preeminência os europeus, a “raça conquistadora” que se serviu da ciência racial para impor as teses raciais como verdades absolutas para, desse modo, “justificar o imperialismo”.
Para melhor ilustrar o anteriormente afirmado, podemos recorrer à citação de Richard Burton, explorador britânico que em 1861 tratou de apresentar uma definição a respeito do africano:

                   “possui em grande medida as piores características dos tipos orientais inferiores – estagnação da mente, indolência do corpo, deficiência moral, superstição e paixão infantil”.

O entendimento era de que apenas a “raça superior” teria condições de explorar adequadamente as riquezas do continente africano. Além disso, ao mesmo tempo em que impulsionavam a economia, os europeus podiam se dedicar à educação dos nativos e tirá-los do “atraso e da barbárie”.
A década seguinte foi marcada pela massificação desses (pre)conceitos a partir da publicação em “jornais de produção barata, semanários ilustrados e exposições etnográficas”. Sem dúvida um público cada vez maior passou a ter acesso e a adotar o discurso racial...
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A propaganda a respeito da “missão civilizadora” não considerava a elevação dos dominados à condição de cidadãos. Em relação à Argélia, por exemplo, o texto esclarece que, mesmo sendo admitida como “parte da França após 1848”, só depois de muitos anos os nativos foram contemplados com direitos. Em 1865 foram declarados súditos (todavia sem qualquer status de cidadãos) do país europeu por decreto de governo... Cinco anos depois, os judeus argelinos foram aceitos como “cidadãos naturalizados”. Já os muçulmanos da Argélia só tiveram tais direitos reconhecidos pelo Estado francês apenas em 1947.
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Neste ponto do texto voltamos às referências deixadas por Gobineau e notamos que ele não havia implicado com os judeus a ponto de sua formulação da ciência racial inclui-los numa categoria que merecesse atenção crítica. Seus discípulos, ao contrário, se dedicaram a escancarados ataques antissemitas.
O livro faz referência à publicação na Alemanha, em 1899, de “Foundations of the Nineteenth Century”. Nessa obra, o britânico Houston Stewart Chamberlain relacionava as ideias de Gobineau relativas à raça ao “misticismo alemão” do “Volk”, tecendo ataques ferrenhos aos judeus. Num trecho específico, Chamberlain acusa “esse povo estrangeiro” de ter escravizado “os nossos governos, a nossa lei, a nossa ciência, o nosso comércio, a nossa literatura, a nossa arte”. Nem é preciso muito esforço para entendermos o quanto isso influenciou os nazistas.
Para Hitler e seus asseclas era evidente que apenas dois povos mantiveram pureza racial, arianos e judeus... Passaram a anunciar que a História teria reservado a eles um conflito definitivo, assim, um combateria o outro até a eliminação definitiva.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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