Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_19.html antes
de ler esta postagem:
Em
suas explicações sobre a “história da vida”, o velho falou sobre a necessidade
de uma nova organização (social) para que as desigualdades fossem corrigidas...
Barata dizia que o desequilíbrio e as injustiças sociais não tinham solução,
manifestou seu entendimento a respeito da “incoerência” de uma proposta de
“viés igualitário” porque isso anularia as diferenças resultantes do esforço e
mérito de cada um... Para se fazer entender pelo companheiro intelectual, perguntou
se seria justo um “burro” ter a mesma vida de um “inteligente”.
(...)
O velho respondeu recorrendo a explicações vinculadas ao “materialismo
histórico”.
Primeiro disse que “uns dependem dos outros”, assim os
“inteligentes” dependem dos “burros” e, dessa maneira, é justo que se dê a
esses “o mesmo direito de viver”... Para explicar melhor, disse que “se o
carroceiro não der capim ao burro, não terá quem lhe puxe a carroça”...
Barata não conseguiu ver
associação entre as sentenças... Então o velho cravou que “o capitalista vive
do povo consumidor, mas, se ele reduz o povo à miséria, o povo não poderá
consumir”. Novamente o companheiro pediu explicações e o velho completou:
“O
operário produz na fábrica aquilo mesmo que terá de comprar para viver. O dono
da fábrica armazena sua produção. Os preços sobem. O operário fica
impossibilitado de comprar. A produção armazenada aumenta. O dono é obrigado a
fechar a fábrica. O operário fica privado do que produziu, mas em compensação o
dono da fábrica não tem quem lhe compre a produção. A vida para. O operário
morre às portas do armazém e o dono da fábrica morre dentro do armazém, como o
avarento que morreu asfixiado dentro do próprio cofre”.
Depois dessas palavras, quis saber se o colega havia compreendido
melhor... Barata disse que entendeu, mas continuou a afirmar que a situação não
tem solução. O velho lhe propôs refletir sobre “a história do cavalo do
inglês”... Então Barata emendou que “quando o cavalo já estava quase habituado
a viver sem comer, morreu”...
O velho lembrou ao Barata que aquela história nos leva
a entender que os ingleses “passaram a dizer que os fatos são obstinados” e que
“ninguém pode lutar contra a força lenta e sutil dos fatos”... Em outras
palavras, as pessoas passam a acreditar que “não há outra saída ao cavalo”.
Barata sugeriu que “os fatos são sempre os mesmos”... E parecia mesmo
que o velho queria que o companheiro chegasse àquela afirmação, pois no mesmo
instante sentenciou que “não adianta fugir à compressão dos fatos”, e que,
quando instituíram a mentira (e isso deve ser atribuído aos primeiro dos
“mistificadores da humanidade”), criou-se um “regime de ilusões” que tornou a
vida uma falsidade assim como é proclamado por muita gente.
E mais o velho afirmou:
“Todos se queixam de que a vida é falsa, todos lamentam
os aborrecimentos causados pelo convencionalismo da vida, e anseiam o conforto
que nos traz a verdade, mas ninguém tem coragem de violar o Código do Bom
Tom!”.
Foi preciso explicar este
“Código do Bom Tom”... E o velho o definiu como “a única lei social que a burguesia
respeita” e que “obriga as pessoas a uma série de coisas horríveis, que são
feitas com muito prazer”...
Barata
entendeu que “tais coisas” são típicas da gente mais rica... Sim! O velho poderia
assentir, pois na sequência disse que os pequenos burgueses fazem de tudo para
a imitar a gente rica, e assim causam “pena a quem lhes observa o ridículo”.
E quem são esses “pequenos burgueses”? Aqueles que na realidade
enfrentam muita dificuldade para garantir a sobrevivência... Alguns até estão
“morrendo de fome”, mas ainda assim:
“vivem,
exteriormente, como os ricos – comem as mesmas comidas, vestem as mesmas
roupas, andam nos mesmos automóveis... dormem nas mesmas camas... os ricos à
custa dos pobres, os pobres à custa da própria miséria... Como são ridículos os
pequenos burgueses”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/04/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto