Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_30.html antes
de ler esta postagem:
A
respeito do marquês de Sade se diz que, com ele, o romance gótico extrapolou o
sensacionalismo e a insensatez. O autor transformou o gênero literário “numa
pornografia explícita da dor, reduzindo deliberadamente a seu núcleo sexual as
longas e dilatadas cenas de sedução de romances mais antigos, como ‘Clarissa’,
de Richardson”.
As leituras inspiravam sentimentos de benevolência e empatia. Mas isso
foi desconstruído pelo marquês de Sade, para quem as narrativas revelavam
apenas “sexo, dor e poder”, sem qualquer possibilidade para a fraternidade e o
amor tal como defendiam os que se levantavam em favor dos direitos.
O que contava para Sade nas
relações humanas era o poder, a dominação que podia-se exercer sobre os demais.
O texto sugere que a atmosfera da Revolução Francesa, foi determinante para o
seu modo de ser e pensar. Aliás, a maioria de seus romances datam dessa época.
(...)
Tudo isso parece confirmar que, de fato, com os
processos de sensibilização pelos direitos houve também a apologia das relações
odiosas... Lynn Hunt lembra que “a reivindicação de direitos universais, iguais
e naturais” estimulou, por mais contraditório que possa parecer, “o crescimento
de novas e às vezes fanáticas ideologias da diferença”.
E mais... Os esforços que visaram melhorar as relações humanas, tornando
a empatia uma constante, foram confrontados por aqueles que viam nos objetos de
campanha “o caminho para um sensacionalismo da violência”.
Isso ocorreu também em relação à luta contra a
crueldade praticada nos processos judiciais e “suas amarras religiosas”. O
próprio esforço nesse sentido acabou divulgando violentações “como ferramenta
diária de dominação e desumanização”.
Por fim cabe dizer que os “crimes desumanos” que ocorreram no século
passado “só se tornaram concebíveis quando todos puderam afirmar serem membros
iguais da família humana”. Se não reconhecermos essas “dualidades” não teremos
como refletir sobre os direitos humanos e tampouco vislumbrar um futuro de
menos agressões às suas premissas.
Embora essas constatações possam passar uma impressão de desalento, o
texto nos anima a acreditar que, apesar da violência e dos exemplos de
autoritarismos atrozes, “a empatia não se exauriu” e permanece como uma
“poderosa força na construção do bem”.
(...)
Os direitos humanos não são
tema ultrapassado.
Devemos assumir sua defesa
e usá-los como o principal suporte na luta contra todos os males que corrompem
a dignidade humana. Quanto mais propagamos conhecimentos acerca dos direitos,
mais contribuímos para que as ambiguidades que ainda persistem sejam
eliminadas.
O livro nos lembra que há grandes e polêmicas
discussões na atualidade. Elas dizem respeito, por exemplo, à questão do
direito ao aborto e à do “direito de um feto viver”; à questão do “direito de
morrer com dignidade” e à do “direito absoluto à vida”; “os direitos dos
inválidos; os direitos dos homossexuais; os direitos das crianças; os direitos
dos animais”... Uma “cascata de direitos” que não termina.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/06/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_3.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um
abraço,
Prof.Gilberto