quarta-feira, 2 de junho de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – marquês de Sade e a desconstrução da empatia que se forjou a partir das leituras de romances clássicos; junto com a sensibilização para os direitos estruturou-se planos de maldade; apesar da violência, a empatia não se exauriu e permanece como força na construção do bem; há muitas temáticas atuais que demandam debates sobre os direitos

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_30.html antes de ler esta postagem:

A respeito do marquês de Sade se diz que, com ele, o romance gótico extrapolou o sensacionalismo e a insensatez. O autor transformou o gênero literário “numa pornografia explícita da dor, reduzindo deliberadamente a seu núcleo sexual as longas e dilatadas cenas de sedução de romances mais antigos, como ‘Clarissa’, de Richardson”.
As leituras inspiravam sentimentos de benevolência e empatia. Mas isso foi desconstruído pelo marquês de Sade, para quem as narrativas revelavam apenas “sexo, dor e poder”, sem qualquer possibilidade para a fraternidade e o amor tal como defendiam os que se levantavam em favor dos direitos.
O que contava para Sade nas relações humanas era o poder, a dominação que podia-se exercer sobre os demais. O texto sugere que a atmosfera da Revolução Francesa, foi determinante para o seu modo de ser e pensar. Aliás, a maioria de seus romances datam dessa época.
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Tudo isso parece confirmar que, de fato, com os processos de sensibilização pelos direitos houve também a apologia das relações odiosas... Lynn Hunt lembra que “a reivindicação de direitos universais, iguais e naturais” estimulou, por mais contraditório que possa parecer, “o crescimento de novas e às vezes fanáticas ideologias da diferença”.
E mais... Os esforços que visaram melhorar as relações humanas, tornando a empatia uma constante, foram confrontados por aqueles que viam nos objetos de campanha “o caminho para um sensacionalismo da violência”.
Isso ocorreu também em relação à luta contra a crueldade praticada nos processos judiciais e “suas amarras religiosas”. O próprio esforço nesse sentido acabou divulgando violentações “como ferramenta diária de dominação e desumanização”.
Por fim cabe dizer que os “crimes desumanos” que ocorreram no século passado “só se tornaram concebíveis quando todos puderam afirmar serem membros iguais da família humana”. Se não reconhecermos essas “dualidades” não teremos como refletir sobre os direitos humanos e tampouco vislumbrar um futuro de menos agressões às suas premissas.
Embora essas constatações possam passar uma impressão de desalento, o texto nos anima a acreditar que, apesar da violência e dos exemplos de autoritarismos atrozes, “a empatia não se exauriu” e permanece como uma “poderosa força na construção do bem”.
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Os direitos humanos não são tema ultrapassado.
Devemos assumir sua defesa e usá-los como o principal suporte na luta contra todos os males que corrompem a dignidade humana. Quanto mais propagamos conhecimentos acerca dos direitos, mais contribuímos para que as ambiguidades que ainda persistem sejam eliminadas.
O livro nos lembra que há grandes e polêmicas discussões na atualidade. Elas dizem respeito, por exemplo, à questão do direito ao aborto e à do “direito de um feto viver”; à questão do “direito de morrer com dignidade” e à do “direito absoluto à vida”; “os direitos dos inválidos; os direitos dos homossexuais; os direitos das crianças; os direitos dos animais”... Uma “cascata de direitos” que não termina.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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