“Berlim Alexanderplatz”, excelente romance deste autor, é outro livro
que merece nossa atenção.
(...)
Este blog não pode ser
extinto sem uma homenagem a ele. E é isso o que os registros pretendem,
homenagear a obra. Assim é com todas as outras que aparecem por aqui.
É claro que tudo o que se registre sempre ficará aquém
do merecido. Mas não haverá sossego de nossa parte enquanto as “mal traçadas
linhas” não se tornarem postagem.
Antes do livro conhecemos a série que foi exibida no cinema durante a
década de 1980... Aquela produzida magistralmente pelo Fassbinder. Depois os
episódios foram passados na televisão e foram lançados VHS e DVD. O texto que inspira
roteiristas e diretores de filmes é sempre mais interessante e completo, como
não podia deixar de ser.
(...)
Döblin é autor de muitos outros livros. Este “Berlim
Alexanderplatz”, o mais importante deles e inicialmente publicado sob a forma
de folhetim no “Frankfurter Zeitung” durante o segundo semestre de 1929, apresenta
os dramas existenciais de Franz Biberkopf que, depois de cumprir quatro anos de
prisão por um brutal “assassinato passional”, teve dificuldades para reassumir uma
condição de liberdade.
Franz, antigo operário da construção civil e do setor dos transportes,
assustou-se com os sons e movimentos assim que os portões do presídio de Tegel
abriram-se. Iniciar a nova vida não lhe seria fácil. Muitas mudanças saltaram-lhe
aos olhos, mas ele teria de encará-las a qualquer custo, pois o cárcere lhe
fora imposto exatamente para que pudesse pagar pelo crime e voltar ao convívio
social.
Obviamente não podia voltar à prisão, onde já não tinha lugar e não
podia ser contado entre os detentos. Restava-lhe avançar em liberdade para a
cidade de onde havia sido recolhido.
(...)
Um retorno doloroso diante
da necessidade de se recolocar entre os que vivem em liberdade... É isso.
O homem precisava se situar.
Suas referências só podiam ser as de antes do encarceramento. Ir ao encontro de
pessoas e ambientes que conhecia tornou-se possibilidade que não podia
descartar. Mas Franz sabia que não poderia cometer os erros do passado e que
devia começar uma vida decente. Este passou a ser o seu propósito.
(...)
“Berlim
Alexanderplatz” é romance daqueles “de muitas páginas”. Nelas, acompanhamos a
trajetória do Franz Biberkopf, sua dedicação a atividades que exigiam
aprendizado na luta pela sobrevivência, seu envolvimento com a bebida, com
mulheres e com tipos metidos na agitação política e em negócios ilícitos.
Houve quem se importasse com ele... Houve quem o desprezasse e até
desejasse sua desgraça. Algumas pessoas o decepcionaram profundamente; elas e
os seus próprios equívocos o levaram a romper com o compromisso de vida
decente.
Foram muitas as agressões,
e elas se tornaram ainda mais dramáticas para o personagem conforme se
sucederam e se acumularam. É de causar indignação... Como não soube reconhecer e
se libertar da maldade que Reinhold trazia estampada nos olhos?
Biberkopf experimentou as dores por não saber
interpretar a realidade que o cercava, as da traição, a da mutilação e a da
injustiça contra sua protetora, a bela, pequena e despojada Mieze, que ele também
havia maltratado.
Seres etéreos o sondaram e somos tentados a imaginar que o protegiam e
que o pudessem conduzir. Todavia eram as decisões do próprio Biberkopf que
podiam mantê-los atentos ou afastá-los definitivamente...
As desilusões o arrasaram física e mentalmente. Os
distúrbios de consciência o conduziram para um abismo sem saída aparente, onde
um novo julgamento o aguardava.
(...)
O livro nos leva aos locais por onde o Biberkopf passou em suas andanças
e por outros onde decidiu morar. Desse modo, conhecemos detalhes da Berlim em
transformação dos anos 1920 - e da gente que nela vivia, trabalhava ou por ela
circulava - descritos por Döblin.
A fonte para essas informações foi a própria vivência do autor na Berlim
daquele tempo. Também os detalhes sobre a evolução e o tratamento de transtornos
psíquicos explicitados em determinada parte do texto se devem a estudos realizados
pelo autor e à sua própria experiência clínica.
O anteriormente destacado pode ser conferido a
partir da leitura dos dados biográficos que constam dessa edição da Editora
Martins Fontes (com tradução de Irene Aron).
Continua?
Leia: Berlin
Alexanderplatz. Martins Fontes.
Um
abraço,
Prof.Gilberto