segunda-feira, 21 de junho de 2021

“Berlin Alexanderplatz”, de Alfred Döblin – uma introdução à guisa de homenagem; um pouco sobre o autor e a produção de Fassbinder; Franz Biberkopf, que cumpriu pena de quatro anos de prisão, se viu diante da imensa cidade em transformação e resolveu levar uma vida decente; das imensas dificuldades para se manter no propósito; continua?

Alfred Döblin, o quarto filho de Max Döblin e de Sophie Freudenheim, nasceu em Stetin, Alemanha, a 10 de agosto de 1878. Para muitos especialistas, ele é “um dos maiores romancistas alemães do século XX e do período expressionista”.
“Berlim Alexanderplatz”, excelente romance deste autor, é outro livro que merece nossa atenção.
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Este blog não pode ser extinto sem uma homenagem a ele. E é isso o que os registros pretendem, homenagear a obra. Assim é com todas as outras que aparecem por aqui.
É claro que tudo o que se registre sempre ficará aquém do merecido. Mas não haverá sossego de nossa parte enquanto as “mal traçadas linhas” não se tornarem postagem.
Antes do livro conhecemos a série que foi exibida no cinema durante a década de 1980... Aquela produzida magistralmente pelo Fassbinder. Depois os episódios foram passados na televisão e foram lançados VHS e DVD. O texto que inspira roteiristas e diretores de filmes é sempre mais interessante e completo, como não podia deixar de ser.
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Döblin é autor de muitos outros livros. Este “Berlim Alexanderplatz”, o mais importante deles e inicialmente publicado sob a forma de folhetim no “Frankfurter Zeitung” durante o segundo semestre de 1929, apresenta os dramas existenciais de Franz Biberkopf que, depois de cumprir quatro anos de prisão por um brutal “assassinato passional”, teve dificuldades para reassumir uma condição de liberdade.
Franz, antigo operário da construção civil e do setor dos transportes, assustou-se com os sons e movimentos assim que os portões do presídio de Tegel abriram-se. Iniciar a nova vida não lhe seria fácil. Muitas mudanças saltaram-lhe aos olhos, mas ele teria de encará-las a qualquer custo, pois o cárcere lhe fora imposto exatamente para que pudesse pagar pelo crime e voltar ao convívio social.
Obviamente não podia voltar à prisão, onde já não tinha lugar e não podia ser contado entre os detentos. Restava-lhe avançar em liberdade para a cidade de onde havia sido recolhido.
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Um retorno doloroso diante da necessidade de se recolocar entre os que vivem em liberdade... É isso.
O homem precisava se situar. Suas referências só podiam ser as de antes do encarceramento. Ir ao encontro de pessoas e ambientes que conhecia tornou-se possibilidade que não podia descartar. Mas Franz sabia que não poderia cometer os erros do passado e que devia começar uma vida decente. Este passou a ser o seu propósito.
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“Berlim Alexanderplatz” é romance daqueles “de muitas páginas”. Nelas, acompanhamos a trajetória do Franz Biberkopf, sua dedicação a atividades que exigiam aprendizado na luta pela sobrevivência, seu envolvimento com a bebida, com mulheres e com tipos metidos na agitação política e em negócios ilícitos.
Houve quem se importasse com ele... Houve quem o desprezasse e até desejasse sua desgraça. Algumas pessoas o decepcionaram profundamente; elas e os seus próprios equívocos o levaram a romper com o compromisso de vida decente.
Foram muitas as agressões, e elas se tornaram ainda mais dramáticas para o personagem conforme se sucederam e se acumularam. É de causar indignação... Como não soube reconhecer e se libertar da maldade que Reinhold trazia estampada nos olhos?
Biberkopf experimentou as dores por não saber interpretar a realidade que o cercava, as da traição, a da mutilação e a da injustiça contra sua protetora, a bela, pequena e despojada Mieze, que ele também havia maltratado.
Seres etéreos o sondaram e somos tentados a imaginar que o protegiam e que o pudessem conduzir. Todavia eram as decisões do próprio Biberkopf que podiam mantê-los atentos ou afastá-los definitivamente...
As desilusões o arrasaram física e mentalmente. Os distúrbios de consciência o conduziram para um abismo sem saída aparente, onde um novo julgamento o aguardava.
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O livro nos leva aos locais por onde o Biberkopf passou em suas andanças e por outros onde decidiu morar. Desse modo, conhecemos detalhes da Berlim em transformação dos anos 1920 - e da gente que nela vivia, trabalhava ou por ela circulava - descritos por Döblin.
A fonte para essas informações foi a própria vivência do autor na Berlim daquele tempo. Também os detalhes sobre a evolução e o tratamento de transtornos psíquicos explicitados em determinada parte do texto se devem a estudos realizados pelo autor e à sua própria experiência clínica. 
O anteriormente destacado pode ser conferido a partir da leitura dos dados biográficos que constam dessa edição da Editora Martins Fontes (com tradução de Irene Aron).
Continua?
Leia: Berlin Alexanderplatz. Martins Fontes.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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