sábado, 27 de fevereiro de 2021

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – reis do Congo após a morte de D. Álvaro II até 1641; de violências e breves reinados; fim da União Ibérica, “reinado” de Garcia II, acertos com D. João IV e avanços de Angola; D. Antonio do clã dos Kinlaza, trágica guerra contra portugueses e angolanos; esfacelamento do Congo e do antigo projeto de monarquia cristã aliada no combate ao avanço árabe


Após a morte de Álvaro II ocorreu uma transição...
É que o duque de Bamba assumiu o poder até que Mpangu Nimi Lukeni lua Mbemba, irmão do finado rei, pudesse “ocupar o trono” em 1615 com o nome cristão de D. Bernardo II. Este governou por pouco tempo, já que no mesmo ano foi assassinado por Mvika a Pangu lua Mbemba, seu sobrinho (cujo nome cristão foi D. Álvaro III).
D. Álvaro III permaneceu por sete anos no poder... O livro cita seis outros “reis” do Congo após 1622:

                   * D. Pedro II Afonso – Mbemba a Mvika lua Ntumba a Mbemba, de 1622 a 1624;
                   * D. Garcia I Afonso – Mbemba a Nkanga Ntinu, de 1624 a 1626;
                   * Ambrósio I, de 1626 a 1631;
                   * D. Álvaro IV, que assumiu o trono aos treze anos e permaneceu no poder até 1636;
                   * D. Álvaro V, que governou por apenas seis meses e foi assassinado ainda em 1636;
                    * D. Álvaro VI, de 1636 a 1641.

(...)
Salientamos anteriormente que o período acima foi de condições muito desfavoráveis ao Congo e à sua gente...
Em 1640 ocorreu o fim da União Ibérica e, com D. João IV, Portugal passou pelo processo de Restauração. No território africano, Nkanga a Lukeni, D. Garcia II, foi elevado à condição de chefe de seu povo... Mesmo tendo se colocado à disposição para ajudar os holandeses em suas investidas na região, esse rei conseguiu firmar acordo de paz com D. João IV, o que lhe possibilitou permanecer no poder até 1661...
Contribuiu para isso o entrevero em Luanda (Angola), ocupada pelos holandeses desde 1641... Um dos agravantes era a “propagação do protestantismo” pelos invasores. D. João IV logo considerou a importância dos antigos aliados cristãos do Congo. Após a expulsão dos holandeses, Congo e Angola receberam especial atenção do rei português, que tratou de estabelecer a paz.
Apesar do reconhecimento demonstrado por D. João IV, a ideia de uma “reabilitação da monarquia no Congo” inspirada no antigo projeto e no “modelo europeu” não vingou.
O sucessor de D. Garcia II foi certo D. Antonio, que pertencia ao clã dos Kinlaza (ou ainda Ne Nlaza) e passou para a história como o “rei” que colocou fim à interesseira contribuição portuguesa à política institucional da África”.
Aconteceu que todos entenderam a estratégia de Portugal de, a partir de Angola, avançar para o interior do Congo a fim de explorar minas... Então, a 13 de julho de 1665, o rei D. Antonio convocou guerreiros par o combate aos “pretendidos invasores”. Cerca de cem mil congoleses estavam aptos para lutar.
(...)
O confronto teve início e, de fato, o rei do Congo formou grande exército... A batalha que definiu a guerra ocorreu a 29 de outubro de 1665, a noroeste de Luanda, em Ambuíla, junto ao rio Loje na altura em que ocorre a confluência com o Lifume. Cerca de 400 portugueses de Angola apoiados por seis mil negros impuseram massacrante derrota aos congoleses, pois contavam com poderosas armas de fogo. D. Antonio acabou morto e decapitado junto com um de seus filhos.
De acordo com o livro, este acontecimento pode ser apontado como um marco para o “começo do fim” do projeto português de um reino cristão na África, protetorado e aliado no combate ao avanço árabe pelo continente... O “reino” do Congo sofreu um esfacelamento. A notícia sobre as supostas minas no interior levou os clãs a lutas por áreas diversas... Até mesmo a capital, São Salvador, foi tomada por chefes ávidos de poder e riquezas. Fragmento de “D. Afonso I, rei do Congo”, de Antonio Lourenço Farinha, evidencia o anteriormente exposto:

                   “tempos houve, para maior infortúnio, que não existia chefe a dirigir o desditoso reino, mas nalguns anos governavam dois a três reis simultaneamente, funcionando as capitais neste ou naquele marquesado ou condado, por impossibilidade de fixarem residência, livres e sossegados, em São Salvador, onde todos pretendiam estabelecer a Corte ao mesmo tempo”.

Depois foi a desintegração... O mesmo Lourenço Farinha diz que, em 1694, a desolação chegara a tal estado que “os lobos, onças e leões ali (na capital) podiam passar muito à vontade”...
A partir de D. Antonio, o Congo teve “uma nova linhagem de ‘reis’ locais”. Esses pertenceram à linhagem (dinastia) dos Kinlaza (ou Ne Nlaza) e se sucederam por mais de duzentos anos.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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