segunda-feira, 14 de junho de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – um jornalista conhecido do policial revela o interesse que o caso de Meursault despertou no rastro do caso do parricida; as personalidades tomam seus lugares; três juízes, o promotor, os jurados, o advogado; conselhos da defesa, leitura do ato de acusação e reconhecimento de nomes e sítios citados

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/06/o-estrangeiro-de-albert-camus-ninguem.html antes de ler esta postagem:

Meursault foi conduzido ao tribunal... A sala estava lotada e bem quente. Ele observou os jurados e não conseguiu traçar distinções uns dos outros.
(...)
Também não conseguia associar a presença das pessoas a uma curiosidade por ele ou o seu caso. Normalmente isso não ocorria, pois ninguém se interessava pela sua pessoa.
Para se certificar de que era isso mesmo, virou-se ao policial e comentou a respeito da “grande quantidade de gente”. O tira falou que “era por causa dos jornais”, depois o fez olhar “por debaixo do banco do júri” e observou que havia uma mesa ocupada por vários jornalistas.
Um deles era conhecido do policial... Era um tipo “de certa idade, simpático” e, de acordo com Meursault, tinha a “cara vincada”. Este jornalista especificamente resolveu dirigir-se ao local onde ele estava e cumprimentou o policial, seu conhecido.
Meursault olhou à volta e viu que todos conversavam. Parecia mesmo que haviam se reunido ali porque tinham conversas para colocar em dia. Era como um “clube”, onde os que pertencem ao “mesmo meio” gostam de se encontrar. Desse modo, viu-se como alguém que “está a mais”, sobrando. E essa “impressão bizarra” o levou a se considerar “um intruso”.
O jornalista mostrou-se simpático com Meursault e conversou com ele. Falou “que esperava que tudo corresse bem”. Ele agradeceu e ouviu que os jornais se empenharam na cobertura de seu caso porque durante o verão não há muitos eventos a serem retratados. Emendou que o caso dele e o do parricida eram as histórias que valiam a atenção do público.
O repórter mostrou-lhe um tipo da imprensa que estava com o “grupo que acabara de deixar”. Este era de um jornal de Paris, um tipo gordo, que usava “grandes óculos de aros negros”. Certamente não tinha vindo da França por causa do caso de Meursault e sim pela repercussão do crime do parricida, mas, já que estava em Argel, o jornal pediu-lhe que aproveitasse para cobrir outros julgamentos.
O homem despediu-se do amigo policial e fez um “aceno cordial” ao que estava para ser julgado.
Meursault esteve a ponto de lhe agradecer, mas não o fez porque sentiu “que seria ridículo”.
(...)
O advogado que cuidava da defesa chegou devidamente paramentado para a ocasião. Alguns colegas o acompanhavam. Meursault notou que ele se colocava bem à vontade entre os jornalistas, que o cumprimentaram com aperto de mãos e troca de gracejos.
A campainha tocou e cada um dirigiu-se ao devido lugar. O advogado se aproximou dele, apertou-lhe a mão e deu alguns conselhos... Basicamente, que respondesse às perguntas sem maiores rodeios e que não tomasse iniciativas. De resto, devia confiar na defesa que ele faria.
Mais à sua esquerda, Meursault percebeu a presença do procurador, um tipo “alto e magro, vestido de encarnado, com monóculo, que se sentava dobrando cuidadosamente a toga”.
A atenção de todos voltou-se para o oficial de justiça que, em alta e clara voz, anunciou os juízes. Só neste momento é que fizeram funcionar dois grandes ventiladores da sala. Dois juízes tinham a vestimenta preta, o terceiro estava de vermelho. Assim que entraram, seguiram apressadamente para a tribuna. Levavam as pastas do processo e o que estava com a toga vermelha posicionou-se entre os outros dois. Ele tirou o gorro, usou um lenço para limpar a careca e foi dizendo que a sessão se iniciava naquele momento.
Meursault voltou os olhos para a mesa dos jornalistas e viu que eles já tomavam seus blocos de notas e canetas. Pareciam indiferentes e até que desprezavam os rituais de início. Deu para perceber que um dos mais novos, de olhos claros e que usava um casaco “de flanela cinzenta”, não parava de encará-lo.
Meursault não conseguia definir a expressão daquele tipo, mas sentiu-se desconfortável por estar sendo “examinado”. Percebeu que o outro o analisava não por algo que sua posição ou gestos sugerissem, “mas pelo que era realmente”, ou seja, um réu que seria julgado pelo cruel assassinato do árabe.
Sem o conhecimento “dos hábitos dos tribunais”, Meursault não conseguia compreender os procedimentos que se seguiram: sorteio dos jurados, as perguntas que o presidente da sessão fez ao seu advogado, ao procurador e aos membros do corpo de jurados, que voltavam os olhares ao mesmo tempo para a tribuna a cada pergunta que lhes era dirigida... Na sequência foi feita a “leitura do ato de acusação”, e novas perguntas foram feitas ao advogado. O rapaz reconheceu em citações “os nomes de lugares e de pessoas”.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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