segunda-feira, 14 de junho de 2021

“O Estrangeiro”, de Albert Camus – as testemunhas foram chamadas e Meursault as viu se retirando para local específico; Raimundo, Masson, Salamano, o velho Tomás Perez, a ansiosa Maria e o Celeste; a mulherzinha que fizera a refeição em sua mesa parecia acompanhar o dono do restaurante; a “estranha figura” e o jovem jornalista não deixavam de fitar o réu; calor intenso, folhas de jornal agitadas; leques de palha para os juízes; questões iniciais sobre a identidade e a respeito da internação da mãe no asilo; o procurador quer ir direto ao ponto

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/06/o-estrangeiro-de-albert-camus-um.html antes de ler esta postagem:

O presidente do tribunal que se reuniu para o julgamento de Meursault esclareceu que passaria a chamar as testemunhas. Um bedel anunciou alguns nomes e, conforme eram chamados, levantavam-se e dirigiam-se a uma porta lateral.
Foram chamados “o velho Tomás Perez, Raimundo, Masson, Salamano e Maria”. Meursault mostrou-se surpreso por não os ter notado antes na sala. Percebeu que Maria dirigiu um aceno carregado de ansiedade para ele, mas ela logo passou pela porta. Na sequência foi anunciado o nome do Celeste.
O rapaz viu o dono do restaurante se levantar e observou que ao seu lado estava a mulher que outro dia havia se sentado à mesma mesa onde ele fazia sua refeição, aquela de modos agitados, que atacou os petiscos com voracidade e apreciava a programação radiofônica... Como vimos, na ocasião. Meursault resolveu segui-la por algum tempo (conferir em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-jantando.html).
(...)
Ele não pensou muito mais sobre a mulher. Talvez tivesse curiosidade de saber o motivo de ela comparecer ao seu julgamento e de se colocar junto ao Celeste...
O presidente passou a fazer esclarecimentos a respeito da postura do público durante os debates que teriam início. Disse que não precisava advertir que todos deveriam manter a calma e o respeito. Acrescentou que dirigiria a sessão com imparcialidade, que pretendia considerar tudo o que se referisse ao caso com a máxima objetividade e que o “espírito de justiça” certamente levaria o júri à sentença. Por fim, alertou que “se fosse preciso, mandaria evacuar a sala ao mínimo incidente”.
(...)
Sem dúvida o calor havia aumentado. As pessoas se abanavam com folhas de jornais e os papéis amarrotados provocavam um incômodo barulho. A um sinal do presidente, o bedel providenciou “três leques de palha entrançada que os três juízes começaram imediatamente a utilizar”.
Na sequência, o presidente fez perguntas ao Meursault. Este considerou que o juiz o questionava com calma e até com certa cordialidade. As perguntas iniciais eram a respeito de sua identificação. Evidentemente isso aborrecia o rapaz, mas ele entendeu que, mesmo depois de tanto responder as mesmas coisas, o procedimento era natural para o processo, algo bem sério, já que “um homem seria julgado por outro”.
Depois o presidente passou a relatar o que se havia apurado a respeito do crime contra o árabe... A cada três frases perguntava ao réu se o que ele acabava de ouvir estava de acordo com o que havia se passado. Seguindo as orientações que o advogado lhe dera, Meursault respondia objetivamente, “sim, Sr. Presidente”.
Esse interrogatório inicial foi bem demorado porque o relato era pormenorizado. Meursault conseguiu notar que os jornalistas escreviam freneticamente. O mais novo deles continuava a olhá-lo insistentemente. Também a estranha mulher do restaurante fazia o mesmo. Os jurados haviam se voltado para o presidente enquanto ele fazia o relato e as perguntas ao réu.
(...)
O presidente tossiu, folheou as páginas do processo e, sem parar de se abanar, dirigiu-se mais uma vez ao Meursault. Explicou que abordaria umas “questões aparentemente estranhas”, todavia importantes e que o tacavam de modo especial.
O rapaz logo percebeu que seria questionado a respeito de sua mãe e o seu falecimento. Sentiu um profundo aborrecimento por causa disso. O presidente quis saber do motivo que o levara a mandá-la para o asilo... Meursault respondeu que não “ganhava o bastante” para a manter junto a si e que o seu ordenado era tão minguado que sequer teria condições de “cuidar dela como devia ser”.
Depois o presidente quis saber se ele, “pessoalmente”, havia sofrido por a ter mandado ao asilo. O rapaz respondeu que nem ele, nem a mãe, esperavam “alguma coisa um do outro”. E acrescentou que ambos não esperavam qualquer coisa de ninguém, já que tinham se habituado às vidas que passaram a levar.
O presidente ouviu a resposta do réu e disse “que não queria insistir neste ponto”. Depois quis saber se o procurador pretendia fazer alguma pergunta. O homem, que estava “quase de costas” para Meursault, principiou a dizer que, “com a autorização do presidente”, queria saber se ele havia “voltado à nascente com a intenção de matar o árabe”.
O rapaz respondeu negativamente. Então o procurador perguntou por que ele voltara “armado e precisamente àquele lugar”. Meursault respondeu que “o acaso o levara até lá”.
O procurador assumiu “ares malévolos” e concluiu com um “por agora, é tudo”.
Leia: “O Estrangeiro”. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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