Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/06/o-estrangeiro-de-albert-camus-um.html antes
de ler esta postagem:
O
presidente do tribunal que se reuniu para o julgamento de Meursault esclareceu
que passaria a chamar as testemunhas. Um bedel anunciou alguns nomes e,
conforme eram chamados, levantavam-se e dirigiam-se a uma porta lateral.
Foram chamados “o velho Tomás Perez, Raimundo, Masson, Salamano e Maria”.
Meursault mostrou-se surpreso por não os ter notado antes na sala. Percebeu que
Maria dirigiu um aceno carregado de ansiedade para ele, mas ela logo passou pela
porta. Na sequência foi anunciado o nome do Celeste.
O rapaz viu o dono do
restaurante se levantar e observou que ao seu lado estava a mulher que outro
dia havia se sentado à mesma mesa onde ele fazia sua refeição, aquela de modos
agitados, que atacou os petiscos com voracidade e apreciava a programação
radiofônica... Como vimos, na ocasião. Meursault resolveu segui-la por algum
tempo (conferir em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/05/o-estrangeiro-de-albert-camus-jantando.html).
(...)
Ele não pensou muito mais sobre a mulher. Talvez tivesse
curiosidade de saber o motivo de ela comparecer ao seu julgamento e de se
colocar junto ao Celeste...
O presidente passou a fazer esclarecimentos a respeito da postura do
público durante os debates que teriam início. Disse que não precisava advertir
que todos deveriam manter a calma e o respeito. Acrescentou que dirigiria a
sessão com imparcialidade, que pretendia considerar tudo o que se referisse ao
caso com a máxima objetividade e que o “espírito de justiça” certamente levaria
o júri à sentença. Por fim, alertou que “se fosse preciso, mandaria evacuar a
sala ao mínimo incidente”.
(...)
Sem dúvida o calor havia aumentado. As pessoas se
abanavam com folhas de jornais e os papéis amarrotados provocavam um incômodo
barulho. A um sinal do presidente, o bedel providenciou “três leques de palha
entrançada que os três juízes começaram imediatamente a utilizar”.
Na sequência, o presidente fez perguntas ao Meursault. Este considerou que
o juiz o questionava com calma e até com certa cordialidade. As perguntas
iniciais eram a respeito de sua identificação. Evidentemente isso aborrecia o
rapaz, mas ele entendeu que, mesmo depois de tanto responder as mesmas coisas,
o procedimento era natural para o processo, algo bem sério, já que “um homem
seria julgado por outro”.
Depois o presidente passou a relatar o que se havia apurado a respeito
do crime contra o árabe... A cada três frases perguntava ao réu se o que ele
acabava de ouvir estava de acordo com o que havia se passado. Seguindo as
orientações que o advogado lhe dera, Meursault respondia objetivamente, “sim,
Sr. Presidente”.
Esse interrogatório inicial
foi bem demorado porque o relato era pormenorizado. Meursault conseguiu notar
que os jornalistas escreviam freneticamente. O mais novo deles continuava a olhá-lo
insistentemente. Também a estranha mulher do restaurante fazia o mesmo. Os
jurados haviam se voltado para o presidente enquanto ele fazia o relato e as
perguntas ao réu.
(...)
O presidente tossiu,
folheou as páginas do processo e, sem parar de se abanar, dirigiu-se mais uma
vez ao Meursault. Explicou que abordaria umas “questões aparentemente estranhas”,
todavia importantes e que o tacavam de modo especial.
O
rapaz logo percebeu que seria questionado a respeito de sua mãe e o seu
falecimento. Sentiu um profundo aborrecimento por causa disso. O presidente
quis saber do motivo que o levara a mandá-la para o asilo... Meursault
respondeu que não “ganhava o bastante” para a manter junto a si e que o seu
ordenado era tão minguado que sequer teria condições de “cuidar dela como devia
ser”.
Depois o presidente quis saber se ele, “pessoalmente”, havia sofrido por
a ter mandado ao asilo. O rapaz respondeu que nem ele, nem a mãe, esperavam “alguma
coisa um do outro”. E acrescentou que ambos não esperavam qualquer coisa de
ninguém, já que tinham se habituado às vidas que passaram a levar.
O presidente ouviu a
resposta do réu e disse “que não queria insistir neste ponto”. Depois quis
saber se o procurador pretendia fazer alguma pergunta. O homem, que estava “quase
de costas” para Meursault, principiou a dizer que, “com a autorização do
presidente”, queria saber se ele havia “voltado à nascente com a intenção de
matar o árabe”.
O rapaz respondeu negativamente. Então o procurador
perguntou por que ele voltara “armado e precisamente àquele lugar”. Meursault
respondeu que “o acaso o levara até lá”.
O procurador assumiu “ares malévolos” e concluiu
com um “por agora, é tudo”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/06/o-estrangeiro-de-albert-camus-suspensao.html
Leia: “O
Estrangeiro”. Editora Abril.
Um
abraço,
Prof.Gilberto