segunda-feira, 29 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – fidalgos negros levados por Diogo Cão a D. João II; informações de Rui de Pina sobre o tratamento dispensados aos sequestrados do Congo e estratégia para políticas futuras; promoções e benefícios ao capitão Diogo Cão; o manicongo retribui diplomaticamente; tramas da nobreza contra D. João II; episódios em Évora, prisões e punições; execução do duque de Viseu e prisão do bispo D. Garcia de Menezes

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_23.html?zx=b0ccbe85ff0a1efe antes de ler esta postagem:

Alguns meses depois, ao retornar à desembocadura do rio poderoso, Diogo Cão decepcionou-se por não encontrar os que haviam sido enviados ao encontro do manicongo... Assim decidiu voltar a Portugal levando consigo “quatro fidalgos negros”. Rui de Pina esclarece que esses haviam “entrado nos navios para verem as novidades das coisas”... O capitão assegurou que os traria de volta depois de “quinze luas ou quinze meses”.
Na verdade, essa iniciativa contrariava o “regulamento do rei”, todavia, ao saber que os que chegavam da África com Diogo Cão “eram fidalgos e príncipes”, D. João aprovou a iniciativa e os recebeu com alegria. Os “sequestrados do Congo” foram tratados com dignidade e receberam roupas e serviços dispensados aos que são investidos de majestade.
Sem dúvida o rei sabia da importância da relação amistosa, pois planejava futuros empreendimentos na África... Ainda sobre a boa recepção aos africanos com vistas às relações futuras com o manicongo, os registros de Rui de Pina nos dão conta de que:

                   “o dito capitão dos navios entregou ao rei estes negros, não como prisioneiros, mas como amigos, para que aprendessem os hábitos e a língua do reino durante aquele tempo para depois de regressados à pátria, aquela nação bem amestrada através da doutrina e virtude daqueles negros que regressaram conosco, mais facilmente pudessem ser convertidos e compreendidos”.

Em 1484 o rei agraciou Diogo Cão com relevantes benefícios: uma “tença vitalícia anual de mil reais brancos” e mais o “direito ao uso de um brasão em cota, elmo ou escudo e em ‘todas as outras coisas em que os nobres filhos de algo de antiga linhagem podem trazer’”.
No ano seguinte, o capitão retornou ao Congo para devolver os negros que havia levado ao seu país. De fato, depois das “quinze luas” os fidalgos negros já possuíam informações suficientes acerca dos “benefícios culturais” que os portugueses estavam dispostos a lhes oferecer.
(...)
O manicongo mostrou-se satisfeito com o retorno de sua gente... Gostou de ver os trajes ocidentais nos homens chegados de Portugal e manifestou sua vontade de “tomar o santo batismo e a fé de Cristo”.
Quando retornou a Portugal no ano de 1486, Diogo Cão se fez acompanhar de uma “embaixada oficial do chefe negro do Congo”, que levava ao rei português significativos presentes como “dentes de elefantes e coisas de marfim lavradas, e muitos panos de palma bem tecidos com finas cores”.
(...)
Como se vê, a diplomacia entre D. João II e o manicongo teve bom início... Porém os tais esforços se esfriaram durante certo tempo devido a entreveros do rei com a nobreza de seu país, “senhora de privilégios”.
Desde 1481 os nobres já se dispunham a destituí-lo e consta mesmo que tramavam atentar contra a sua vida. O livro nos dá conta de que durante a “reunião das Cortes em Évora” a situação atingiu maior gravidade, tanto é que o rei deu início a processos contra o duque de Bragança, D. Fernando, reconhecidamente o principal líder de seus desafetos, que terminou degolado em praça pública na mesma Évora. Também o marquês de Montemor e o conde de Faro foram condenados... Porém o primeiro conseguiu fugir do país, e o conde morreu antes do processo de execução.
A trama dos nobres contra o rei prolongou-se... Os rebeldes tentaram matá-lo no desembarque em Alcácer do Sal, mas o rei, prevenido, fez o percurso por terra. E logo que chegou ao seu destino intimou D. Diogo (duque de Viseu, “primo e cunhado de D. João e irmão da rainha D. Leonor”), reconhecidamente um dos principais insurrectos.
O próprio rei apunhalou seu desafeto “com todo o respeito da lei”, dado que a ação foi lavrada e reconhecida por duas testemunhas. De acordo com nota de “Rei do Congo”, “o auto de ocorrência” foi “lavrado na presença do juiz dr. Nuno Gonçalves” e “teve como testemunha das razões alegadas para justificar o fato D. Vasco Coutinho”, que era “irmão do implicado na trama D. Guterre Coutinho, comendador de Sesimbra”, e “Diogo Tinoco, irmão da amante do condenado bispo de Évora, D. Garcia de Menezes, senhora a ‘quem se devia a informação sobre a conspiração’”. Sobre o citado bispo, diz-se que foi “encerrado numa cisterna da torre de menagem da cidade de Palmela, onde após poucos dias morreu, ‘dizem que com peçonha’”.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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