quinta-feira, 4 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – Pero da Covilhã, tornado conselheiro do negus, comunica ao rei português que o reino africano não era do Preste João; reinado de D. Manuel e expansão global dos lusitanos; Afonso de Albuquerque, governador da Índia; atuação de mensageiros em missões secretas ainda em busca do reino do Preste João; notas de “Lendas da Índia”, de Gaspar Corrêa; o capelão João Gomes e sua aventura no interior africano

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_3.html antes de ler esta postagem:

Pero da Covilhã chegou à Abissínia e não demorou a encontrar o soberano da gente local. Aqueles etíopes eram cristãos e Covilhã não teve dúvida disso, além de constatar que seguiam o rito copta, sendo obedientes ao patriarca de Alexandria...
O grande líder político a quem daquele povo era comumente chamado de negus (ou ainda elafi ou cege), e este recebeu bem o português em seus domínios... Covilhã não tinha autorização para deixar as dependências do reino* e no máximo podia escrever ao rei português. Na primeira oportunidade, registrou em carta que, se de fato existira um Preste João, “só poderia ter sido na Ásia”.

                   *O povo local tinha este costume de manter no reino os forasteiros que a ele chegassem.

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A sentença cravada por Pero da Covilhã parecia colocar um fim no duradouro mito do Preste João... Mas isso não ocorreu naqueles anos finais do século XV. Tanto é que prevalecia o costume de referirem-se aos soberanos da África com a denominação de Johannes (ou Joões).
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Em 1495 teve início o governo do rei D. Manuel (chamado “O Venturoso”)...
No começo do século XVI, D. Manuel dera ordens de avanço “pelos mares Vermelho e da Arábia” ao comandante Afonso de Albuquerque. De modo simplificado, podemos dizer que, em que pesem os objetivos econômicos específicos, as embarcações lusitanas alcançavam “as Índias do Preste João”.
O reinado de D. Manuel ocorreu até 1521, e no período Portugal conseguiu expandir suas conquistas para além da África, atingindo a Ásia e a América (com o “descobrimento do Brasil no ano de 1500”). O rei entendia que um aliado cristão em terras orientais ainda era algo extremamente necessário para eliminar os inimigos muçulmanos que surgiam nos caminhos da expansão lusitana.
Por isso mesmo, também o rei D. Manuel tratou de confiar a certos agentes (chamados de “mensageiros”) missões secretas conforme os portugueses avançavam pela Índia em direção ao Mar Vermelho. Os agentes deviam conseguir informações a respeito da localização correta do Preste João. Por mais incrível que possa parecer, é isso mesmo! Ainda havia certa convicção de que encontrariam o lendário reino.
Talvez tenha sido na passagem de 1507 para 1508 que Afonso de Albuquerque, já nomeado governador português para a Índia, deixou no Cabo de Guardafui, no norte da Somália, bem “à vista da ilha de Socotorá”, dois dos “mensageiros” do rei prontos para avançarem em terras onde esperavam descobrir o Preste João.
Pode ser até que tenham sido esses dois agentes de D. Manuel que chegaram em 1508 aos domínios do negus, onde encontraram Pero Covilhã tornado “conselheiro do rei”, e um outro português que havia chegado à região em 1507*... O certo é que ocorreu uma visita de dois agentes portugueses ao local que já não era governado pelo antigo soberano, mas sim por sua viúva (a regente Helena) que, nessa condição de regente, aguardava a posse do futuro negus Lebna Dengel (mais tarde também chamado de Davit ou David; a viúva Helena era sua madrasta).

                   * O livro cita informações de “Lendas da Índia”, de Gaspar Corrêa, que dão conta de que, por ocasião da conquista da ilha de Sorotorá por Afonso de Albuquerque e Tristão da Cunha, “um capelão de nome João Gomes, tendo tomado ‘muita informação das coisas do Preste João’, resolveu contatá-lo. ‘Sem ninguém o sentir se vestiu em trajes de mouro, e se foi à outra banda da ilha, e como mercador se embarcou em uns zambucos (pequenos barcos usados por mercadores árabes no Índico) de mouros, e foi ter em Zeilá, onde em companhia de mercadores foi pela terra dentro ter nas terras do Preste João’”. Ainda de acordo com Gaspar Corrêa, o religioso conseguiu chegar ao lendário monarca, “dando-lhe muita conta de Portugal e das coisas da Índia, com que o Preste muito folgou, porque viu que lhe falava a verdade, e consertava com a informação que (já) lhe tinha dado Pero da Covilhã”.

(...)
A regente Helena percebeu o modo como os estrangeiros levavam em boa consideração o seu povo e, aconselhada por Pero da Covilhã, decidiu enviar uma embaixada ao rei português. Afonso de Albuquerque recebeu essa comitiva na Índia em 1512. Ela era chefiada por certo “armênio Mateus” e chegou a Lisboa apenas em 24/fevereiro de 1514.
Logo que soube da chegada da “embaixada do Preste João” à Índia, D. Manuel tratou de escrever ao papa Leão X dando conta de que possivelmente concretizariam a tão sonhada aliança com cristãos do Oriente para combater os “infiéis” muçulmanos.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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