quinta-feira, 11 de junho de 2020

Filme – “Dios se lo pague” – um pouco sobre a produção e referência à obra de Joracy Camargo; sobre o começo do filme em que se vê um velho mendigo acomodado na escadaria de uma igreja à noite; encontro com o Barata, pedinte que se impressiona com a inteligência do velho; aprendizado e companheirismo; à porta do clube de jogos de azar; Barata volta à igreja, faz boa coleta, retorna ao companheiro e combinam novo encontro; a jovem quem o velho desejara “boa sorte” aparece no clube de apostas proibidas

“Dios se lo pague” é filme argentino de 1948, dirigido por Luis César Amadori e adaptado por Tulio Demicheli do original “Deus lhe Pague”, de Joracy Camargo.
O texto de Joracy é do começo da década de 1930 e é considerado um marco da dramaturgia nacional, uma obra que lançou questionamentos inquietantes à sociedade dos “bem resolvidos e situados”. Como não poderia deixar de ser, a adaptação para o cinema apresentou cenários e tramas que não aparecem no texto teatral. O conteúdo e a mensagem não foram comprometidos e as duas obras merecem ser conferidas.
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Do filme:

Na escadaria de entrada de uma grande igreja vemos um mendigo que observa sentado a passagem dos fiéis. É noite... O velho homem tem um aspecto que lhe confere certa dignidade típica dos que são retratados pelos artistas. Uma senhora lhe entrega uma moeda. “Deus lhe pague”, ele agradece.
De repente chega outro maltrapilho. Humildemente, este lhe pede a permissão para também se acomodar na escadaria. Diz que não conseguiu grande coisa durante o dia e já que tinha visto a igreja aberta, decidiu abordar os que passavam ali. O velho respondeu que a igreja já estava para fechar. O outro quis desistir, mas ele o dissuadiu, disse que ficasse, pois àquela hora poderiam topar com pessoas muito necessitadas de agradar a Deus, e faziam isso ofertando esmolas aos mais necessitados.
O recém-chegado começou a se admirar ao notar que o velho sabia dizer as palavras certas quando pedia... Ele parecia mesmo entender as ansiedades dos que esperam se realizar no mundo dos negócios, em alguma falcatrua, no casamento... Notou que alguns que passavam não se importavam com suas súplicas, ao passo que atendiam prontamente ao colega, que pelo visto reconhecia os dramas que cada um carregava de acordo com suas vestes e passos. Só isso podia explicar sua sorte na coleta do dia.
Logo, o impressionado mendigo se colocou na posição de aprendiz... Apresentou-se, o chamavam de Barata, e confessou que, pelo que tinha acabado de ver e ouvir, entendeu que ainda precisa aprender muito sobre o ofício de esmolar... O velho respondeu que seria muito bom contar com a companhia do Barata, um tipo sincero e ideal para conversar.
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A igreja foi fechada... O velho explicou que iria à porta do clube. Barata quis acompanhá-lo porque percebeu que podia aprender muito mais com o companheiro.
Pararam diante da entrada principal, numa placa lia-se “biblioteca”... Logo se acomodaram a um canto e, mal se sentaram, dois frequentadores que chegavam atiraram moedas ao chapéu do velho sem que este pedisse. Cada vez mais o Barata se admirava. Achou interessante notar a chegada de uma moça que anteriormente havia ido à igreja e que deixou uma nota de cinco depois de ouvir o velho desejar-lhe “boa sorte”... O homem parecia conhecer as demandas de todos! Barata despediu-se dizendo que voltaria à igreja que parecia ainda ter algum movimento... Precisava testar as habilidades aprendidas.
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A jovem que acabou de chegar à “biblioteca” foi abordada por uma vendedora de caramelos e chocolates... Agradecida, a mulher ofereceu-lhe um amuleto de “boa sorte”, uma camélia de tecido que a moça poderia colocar em sua carteira.
Aos poucos percebemos que aquele ambiente disfarçava um grande salão de jogos proibidos. Os apostadores chegavam, passavam pela área da biblioteca já inativa pelo adiantado da hora, e só os reconhecidos pela recepção eram admitidos. A jovem trocou de roupa na antessala, perfumou-se e passou a usar um vestido provocativo, que a tornou bem mais atraente.
No grande salão, a roleta proibida e outros divertimentos extravagantes. A jovem posicionou-se para as primeiras apostas... Seu charme e sorte inicial atraíram a atenção de vários dos frequentadores.
(...)
Do lado de fora, Barata acabava de retornar junto ao velho. Estava empolgado por ter usado suas dicas e por arrecadar soma considerável, satisfatória para um bom prato e uma cama quente. Dessa vez ouviu o velho dizer que os jornais informavam diariamente a respeito da fome pelo mundo afora. A situação não tem sido boa para a maioria... Os mendigos podem pedir, e esse direito ninguém lhes tira.
O velho dizia essas coisas e emendou que não provocavam inveja a ninguém... Além disso, os que dão esmolas sentem-se aliviados com Deus. Barata observou que até sentia que as pessoas observam os mendigos com simpatia. O velho respondeu que a razão para isso pode ser o fato de que eles já não representam nenhuma afronta à sociedade, pois os pedintes não passam de “uma gente que já não luta”.
Barata se encantou com tudo o que ouviu e quis saber se o companheiro era leitor de livros... A resposta foi afirmativa, os pobres de espírito só podem pedir esmola “aos que muito sabem”. Tudo isso deixou o Barata confuso... Talvez tenha sido por causa da fome, por isso foi orientado pelo velho a se alimentar antes de se encontrarem no dia seguinte. Barata concordou e despediu-se chamando-o de “Mestre”.
Indicação (não informada)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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