segunda-feira, 1 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – navegação pelo rio do Ouro; as missões de Antão Gonçalves; João Fernandes entre os azenegues, aprendizado e inclusão no grupo para informações especiais sobre a África; o embaixador Jorge, representante do imperador da Abissínia; o mapa de Fra Mauro de 1459 e citações sobre o Preste João; informações sobre os mapas de Andrea Bianco e Marino Samuto

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_72.html antes de ler esta postagem:

De fato, após as conquistas marítimas portuguesas realizadas durante a década de 1420 e a ultrapassagem do Cabo do Bojador em 1434, o Infante D. Henrique ainda mais se animou para novos projetos... Como vimos, as muitas informações obtidas em registros diversos e a cartografia mais embasada do início do século XV passaram a dar conta de que o Preste João e seu maravilhoso império situavam-se na costa oriental da África. Tudo isso trouxe maiores esperanças ao Infante que não havia desistido de firmar a aliança cristã para derrotar os muçulmanos.
Não era por acaso que o Infante dava ordens aos seus navegadores de recolherem o máximo de informações sobre as localidades onde viessem a aportar na Costa da África. Deviam coletar também a maior quantidade de informações a respeito do prestigioso imperador.
(...)
Principalmente a partir de 1442 as determinações de D. Henrique se tornaram mais incisivas e frequentes. Nesse ano, Antão Gonçalves, que exercia a função de “guarda-roupa” do Infante, navegou o Rio do Ouro com a tarefa de devolver certo líder tribal de nome Andahu à sua gente (no ano anterior este Andahu havia sido sequestrado pelos portugueses)... Gonçalves havia sido expressamente orientado a procurar informações sobre o Preste João junto aos mouros nômades.
Esse projeto de contactar a gente local para se extrair o máximo de informações foi levado tão a sério que em 1445 D. Henrique deu ordens para que em outra expedição comandada pelo mesmo Antão Gonçalves seguisse certo João Fernandes, que seria deixado em terras africanas para conviver com os azenegues (berberes que viviam às margens do rio do Ouro), aprender sua língua e recolher informações...
Sobre este João Fernandes, sabe-se que, apesar de não ter obtido nenhuma informação ou recolher qualquer indício a respeito do Preste João, durante o período de mais de meio ano em que permaneceu na África, foi bem sucedido em sua missão... Acompanhado de Diogo Afonso e Garcia Homem, ele foi resgatado por homens da Companhia dirigida por D. Henrique mais ao sul da ilha de Arguim (Mauritânia).
Ao retornar para Portugal, João Fernandes foi integrado ao grupo de informantes do Infante e especificamente no que se referia aos assuntos sobre a área dos azenegues desde a costa da Mauritânia, “ao sul do Marrocos, até Senegal”.
(...)
Até a primeira metade do século XV o governo português não recebeu nenhum relatório de seus navegadores a respeito do Preste João na Costa Ocidental Africana... Mas já em 1451 e 1452 chegou a Lisboa um embaixador africano chamado Jorge. Pelo visto tratava-se de um dos membros da comitiva enviada pelo imperador da Abissínia a Roma... Este acontecimento empolgou as autoridades. Primeiro porque confirmava-se que no leste africano havia mesmo núcleos cristãos (de fato, desde o século IV). Segundo porque o imperador africano bem podia ser o tão aguardado Preste João ou um seu descendente.
Alguns anos depois, os portugueses haviam recebido o mapa-múndi que, certamente por ordem de D. Henrique, haviam encomendado junto ao cosmógrafo veneziano Fra Mauro (observações de Tinhorão nos dão conta que este era um “frade beneditino leigo, de hábito branco da comunidade fundada por São Romualdo no século XI”; sobre o mapa, cabe destacar que Fra Mauro pode ter incluído “informações sobre a Carta da África” que obteve junto a outro cosmógrafo veneziano, Andrea Bianco*). O mapa que data de 1459 trazia um registro acima de uma cidade anteriormente descrita por Marco Polo... Nele se lia “Aqui o Preste João tem sua principal residência”.

                   * Este tomara conhecimento das conquistas portuguesas alguns anos antes e as registrara “num portulano - carta marítima – que incluía uma ilha situada a 1500 milhas a ocidente do Cabo Verde, já apontadas como possível representação do Brasil, realmente distante 1520 milhas da costa africana”.

O mapa encomendado corroborava informações que podiam ser observadas em outro trabalho de pelo menos um século antes... Tratava-se do mapa de Marino Samuto, igualmente cosmógrafo veneziano.
Conta-se que Samuto realizou viagem que teve como pontos principais a Armênia, o Egito, a Palestina e a ilha de Chipre. Seu mapa apresenta a África, embora mais curta, situada entre os oceanos Atlântico e índico. Vê-se ainda uma representação do “Preste João com mitra, báculo e cruz grega na costa índica do Malabar. E a olhar um pouco acima do Equador para a fronteira da etiópia, a ‘Terra Nigrorum’ debruçada sobre as águas vizinhas do Mar Arábico e do Oceano Índico”.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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