De fato, após as conquistas marítimas portuguesas realizadas durante a década de 1420 e a ultrapassagem do Cabo do Bojador em 1434, o Infante D. Henrique ainda mais se animou para novos projetos... Como vimos, as muitas informações obtidas em registros diversos e a cartografia mais embasada do início do século XV passaram a dar conta de que o Preste João e seu maravilhoso império situavam-se na costa oriental da África. Tudo isso trouxe maiores esperanças ao Infante que não havia desistido de firmar a aliança cristã para derrotar os muçulmanos.
Não era por acaso que o Infante dava ordens aos seus navegadores de recolherem o máximo de informações sobre as localidades onde viessem a aportar na Costa da África. Deviam coletar também a maior quantidade de informações a respeito do prestigioso imperador.
(...)
Principalmente a partir de 1442 as determinações de D. Henrique se
tornaram mais incisivas e frequentes. Nesse ano, Antão Gonçalves, que exercia a
função de “guarda-roupa” do Infante, navegou o Rio do Ouro com a tarefa de
devolver certo líder tribal de nome Andahu à sua gente (no ano anterior este
Andahu havia sido sequestrado pelos portugueses)... Gonçalves havia sido
expressamente orientado a procurar informações sobre o Preste João junto aos
mouros nômades.
Esse
projeto de contactar a gente local para se extrair o máximo de informações foi
levado tão a sério que em 1445 D. Henrique deu ordens para que em outra
expedição comandada pelo mesmo Antão Gonçalves seguisse certo João Fernandes,
que seria deixado em terras africanas para conviver com os azenegues (berberes que
viviam às margens do rio do Ouro), aprender sua língua e recolher
informações...
Sobre este João Fernandes,
sabe-se que, apesar de não ter obtido nenhuma informação ou recolher qualquer
indício a respeito do Preste João, durante o período de mais de meio ano em que
permaneceu na África, foi bem sucedido em sua missão... Acompanhado de Diogo
Afonso e Garcia Homem, ele foi resgatado por homens da Companhia dirigida por
D. Henrique mais ao sul da ilha de Arguim (Mauritânia).
Ao
retornar para Portugal, João Fernandes foi integrado ao grupo de informantes do
Infante e especificamente no que se referia aos assuntos sobre a área dos
azenegues desde a costa da Mauritânia, “ao sul do Marrocos, até Senegal”.
(...)
Até a primeira metade
do século XV o governo português não recebeu nenhum relatório de seus
navegadores a respeito do Preste João na Costa Ocidental Africana... Mas já em
1451 e 1452 chegou a Lisboa um embaixador africano chamado Jorge. Pelo visto
tratava-se de um dos membros da comitiva enviada pelo imperador da Abissínia a
Roma... Este acontecimento empolgou as autoridades. Primeiro porque
confirmava-se que no leste africano havia mesmo núcleos cristãos (de fato,
desde o século IV). Segundo porque o imperador africano bem podia ser o tão
aguardado Preste João ou um seu descendente.
Alguns anos depois,
os portugueses haviam recebido o mapa-múndi que, certamente por ordem de D. Henrique,
haviam encomendado junto ao cosmógrafo veneziano Fra Mauro (observações de Tinhorão
nos dão conta que este era um “frade beneditino leigo, de hábito branco da
comunidade fundada por São Romualdo no século XI”; sobre o mapa, cabe destacar
que Fra Mauro pode ter incluído “informações sobre a Carta da África” que
obteve junto a outro cosmógrafo veneziano, Andrea Bianco*). O mapa que data de
1459 trazia um registro acima de uma cidade anteriormente descrita por Marco
Polo... Nele se lia “Aqui o Preste João tem sua principal residência”.
*
Este tomara
conhecimento das conquistas portuguesas alguns anos antes e as registrara “num
portulano - carta marítima – que incluía uma ilha situada a 1500 milhas a ocidente
do Cabo Verde, já apontadas como possível representação do Brasil, realmente
distante 1520 milhas da costa africana”.
O mapa encomendado corroborava informações que podiam ser observadas em
outro trabalho de pelo menos um século antes... Tratava-se do mapa de Marino
Samuto, igualmente cosmógrafo veneziano.
Conta-se
que Samuto realizou viagem que teve como pontos principais a Armênia, o Egito,
a Palestina e a ilha de Chipre. Seu mapa apresenta a África, embora mais curta,
situada entre os oceanos Atlântico e índico. Vê-se ainda uma representação do “Preste
João com mitra, báculo e cruz grega na costa índica do Malabar. E a olhar um
pouco acima do Equador para a fronteira da etiópia, a ‘Terra Nigrorum’
debruçada sobre as águas vizinhas do Mar Arábico e do Oceano Índico”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_3.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto