Alvarez e Nancy ficaram a sós na grande sala...
Thomaz chegou oferecendo uma taça de champanhe... Ela recusou, mas o marido
aceitou de bom grado e foi dizendo ao mordomo que teria de fechar a porta da
garagem sempre que o motorista descesse à calçada... Emendou que o jardineiro
deveria ser despedido logo ao amanhecer.
(...)
À Nancy exibiu o
traje, mostrando que teve tempo de vesti-lo antes do fim da festa. Ela
respondeu que mais um pouco e poderia ter aparecido com traje de dormir. Ele
prometeu que chegaria mais cedo na próxima festa... Nancy estava bem chateada e
redarguiu que não haveria próxima festa.
Alvarez tratou de contemporizar... Disse que ela adotasse os
procedimentos que achasse melhor. Ressaltou que no início do relacionamento ela
aparentava a “imagem da mulher feliz” e emendou que ao menos chegou a tempo de
dizer-lhe que estava muito bonita. Ela perguntou: “quanto tempo durará esta
vida?”. Ele respondeu que “esta vida durará sempre” e na sequência quis saber
por que ela indagava... Faltava-lhe algo?
Nancy
respondeu que precisava entender. Alvarez perguntou se não era suficiente saber
que a amava... Mas não era apenas uma questão de dizer-lhe. Então não tinha
tudo o que sempre quis? Joias, casa e criados... Jamais pedira-lhe algo que não
recebesse! Ele lembrou-lhe que no dia anterior pedira um colar de rubis... Foi
difícil, mas encontrou a linda peça.
(...)
Nancy trazia muitas
amarguras... Havia passado de uma vida cheia de dificuldades e dívidas para uma
repleta de conforto ao lado do Alvarez milionário... Mas ela nada sabia do
homem que garantia-lhe todo conforto material... Evidentemente sentia-se só e
tinha outras necessidades afetivas.
Alvarez
percebeu sua angústia e disse que entendia que a mulher tem necessidade de
brilhar tanto quanto o ambiente que a rodeia. As joias e os belos vestidos,
tudo faz parte de seu cenário ideal. Nancy quis saber se ele pensava que o
dinheiro dele podia comprar tudo, inclusive sua consciência e condição de
mulher.
Ele se sentiu
ofendido por essa indagação. Disse que jamais pensara algo assim e que ela devia
se lembrar das condições que ele impôs e que ela as aceitou. Por fim ela
sentenciou que ele não devia se sentir culpado... Afinal, como poderia saber
que a mulher que encontrou na rua pudesse merecer algo diferente?
Alvarez exclamou que
jamais quis saber do passado dela... Ela devolveu-lhe que só fez isso para que
não lhe perguntasse do passado dele. Como poderia agradecer-lhe? Bem podia ser
que, por necessidade, frequentasse ambientes degradantes... Mas não se podia
dizer que não tivesse uma alma limpa. Insistiu que ele poderia deixar tais
ambientes “tão limpo” como quando havia entrado.
Nancy caiu em prantos... Ao que tudo indica pensava que estava pronta
para encarar o fim da relação. Ele a deixaria e continuaria a se sentir “limpo”.
Pediu perdão. De sua parte, Alvarez disse que não havia lhe perguntado nada e
que não havia necessidade de ela prosseguir com o desabafo. Insistiu que haviam
feito o trato e que ela prometera respeitá-lo.
Ele não queria que ela continuasse a chorar. Disse-lhe que seria muito
difícil viver sem ela e que talvez um dia lhe revelasse coisas que a deixariam
mais tranquila. Nancy quis saber o que ele poderia lhe explicar... Alvarez
disse que “revelaria tudo” e só então saberia os motivos de ele mesmo sentir
horror: “a mentira burguesa”, “decência, honestidade, justiça”...
Ele pediu que ela acreditasse... Disse
enigmaticamente que vivia “na multidão que enche a cidade”, e assim conhecia
“do mais alto ao mais baixo”. Sabia que todos mentiam e viviam de mentir. Nancy
respondeu que acreditava em suas palavras. Por fim Alvarez cravou que “só é
verdade o que é bonito e está no alcance”; “o que se pode fechar com a chave”;
“o que não pode tirar a calúnia nem a difamação”... No final das contas quis
saber o que importava o que pensavam de cada um deles e da relação que viviam...
Ele entregou-lhe o
colar de rubis e acrescentou que as mentiras do mundo não poderiam evitar que
ele lhe enfeitasse o belo pescoço. Ela se tornou radiante. Esse foi o pedido de
perdão para a sua chegada tardia à festa tão bem preparada por ela.
(...)
Nancy fez um gesto de quem quer dizer algo...
Ele
quis saber...
Ela manifestou que
era uma pena ele odiar as mentiras...
Porque
naquele instante iria dizer-lhe uma.
Disse que o
adorava...
Abraçaram-se
e com um beijo selaram o fim do mal estar da noite.
Indicação (não informada)
Um abraço,
Prof.Gilberto