Mario Alvarez disse ao Barata que na época em
que foi preso trabalhava “como uma besta” numa fábrica... Trabalhava dia após
dia numa época em que ainda não haviam inventado as leis de patentes. Durante a
noite dedicava-se a desenhar projetos para uma máquina que tinha tudo para
revolucionar a indústria têxtil e, se obtivesse a patente do invento,
garantiria vida melhor à família.
Barata quis saber se
o amigo tinha filhos. Alvarez explicou que a vida miserável que levava não lhe possibilitava
pensar em filhos... O seu salário mal dava para satisfazer as necessidades da
esposa, Maria, ela também operária explorada numa fábrica.
O amigo apontou para uma moldura que destacava a fotografia de uma
mulher... Alvarez admitiu que era ela e emendou que se tratava de uma pessoa
simples e analfabeta, até porque apenas os endinheirados podiam dedicar-se à educação
formal. Barata quis saber se ela ainda vivia... Então Alvarez pôs-se a
contar-lhe sua história.
(...)
Certa
tarde, enquanto Alvarez descansava antes de assumir a jornada noturna, Maria tratou
de cuidar dos afazeres da casa quando foi surpreendida pela chegada de um
cavalheiro muito bem vestido... O homem atravessou o portão do cortiço onde
viviam e foi direto à porta. Entrou sem bater e foi perguntando à Maria se ali
morava o senhor Yuca (assim Alvarez era chamado no passado). Ela respondeu
afirmativamente e disse que ele estava doente.
O tipo disse que
sabia e que estava ali para se certificar de que o médico da fábrica lhe fizera
uma visita como ele havia ordenado. No mesmo instante Maria reconheceu que
aquele só podia ser o dono da fábrica onde o marido trabalhava. Ele confirmou e
emendou que Yuca era um de seus empregados. Ela respondeu que o médico viera à
casa e que recomendou repouso ao marido. Depois agradeceu a gentileza do
patrão.
Maria
perguntou se era necessário despertar Yuca, mas o cavalheiro adiantou-lhe que queria
tratar diretamente com ela. E foi dizendo que se ela amava o esposo devia
cuidar bem dele, pois o médico lhe dissera que o estado dele era grave. Ela
respondeu que fazia o que podia, pois também era muito atarefada. Como que a
dar uma advertência, o patrão reprovou o fato de Yuca trabalhar à noite, fora
do expediente da fábrica. Por isso é que só podia dormir mal e sofrer problemas
com a saúde!
A ingênua Maria foi
logo dizendo que o patrão tinha razão, mas o marido estava muito envolvido numa
“invenção”. O patrão a desdisse garantindo que aquilo de invenção era algo que
o esposo queria que ela acreditasse. Depois perguntou que invenção seria...
Maria se mostrou surpresa... Então o patrão não sabia? Pois Yuca lhe dissera
que já havia falado a ele!
Na sequência, Maria
contou que se tratava de um tear e que já estava quase pronto. O dono da
fábrica garantiu que não sabia de nada... Será que poderia dizer ao Yuca que a
própria esposa lhe revelara o segredo? A mulher se mostrou apavorada e implorou
que não lhe dissesse nada, pois o marido a fizera jurar que jamais falaria
sobre o projeto com ninguém.
O empresário foi ardiloso e disse à Maria que aquilo só podia indicar
que o empregado o vinha enganando... Ela garantiu que não havia enganação e que
o projeto estava na casa e que ela mesma o guardava. O homem estava mesmo mal
intencionado e redarguiu garantindo que, se era assim, o empregado cometia o
erro de não lhe falar a respeito. Maria quis saber em que o marido errava... O
tipo disse que precisava saber se o projeto era importante...
Antes que continuasse, a própria Maria adiantou que o projeto possibilitaria
que um único tear realizasse o trabalho de cem empregados. O patrão explicou que
se fosse verdade poderia permitir que Yuca trabalhasse em casa, receberia
salário sem que precisasse ir à fábrica. Ela mostrou-se admirada... Poderia
mesmo fazer isso pelo marido?
O patrão respondeu que precisaria ver os planos,
desenhos... Se conseguisse acessar os papéis concederia uma licença médica para
começar. Mas sem os papéis ele só podia lamentar... Mas a mulher não havia dito
que guardava os papéis? Mas e o juramento? O homem quis passar-lhe confiança e
acrescentou que não tinha nenhuma intenção de prejudicar o seu melhor
empregado.
Maria vacilava... Todavia
o patrão sabia como lidar com a situação... Ele se virou na direção da porta e
deu a entender que, já que ela não confiava nele, não podia fazer nada e iria
embora.
No
último instante Maria pediu ao homem que não se fosse.
Indicação (não informada)
Um abraço,
Prof.Gilberto