O Infante D. Henrique morreu em 1460... Seu
sobrinho, o rei D. Afonso V, era mais interessado pelos confrontos com Castela
e projetos belicistas destinados aos conflitos no norte da África... Essa
situação arrefeceu a febre que os lusitanos tinham pelo Preste João e seu
reino. E isso num momento em que eles mais vinham se animando com a expectativa
de encontrá-los na África.
Apenas quinze anos
depois da morte de D. Henrique, quando terminou o contrato que o rei havia
firmado com Fernão Gomes para o “arrendamento dos negócios da Guiné”, é que o
governo voltou a dar sinais de que pretendia retomar a investigação sobre o
reino cristão na África.
O rei D. Afonso V morreu em 1481. O trono foi assumido por seu filho D.
João. Ele mesmo que em 1475 havia recebido do pai o “controle dos negócios do
Atlântico”.
(...)
D.
João II definiu iniciativas importantes em relação ao avanço da costa africana
tomando como referência a linha do Equador. Os “negócios da Guiné” estavam no
primeiro plano, mas a ideia de que a Abissínia reservava boas surpresas
incentivou o seu governo a novas empreitadas.
Em 1486, o
experimentado piloto de grandes naus, João Afonso de Aveiro, recolheu
informações no Benin sobre a existência de “um rei poderoso chamado Ogané” numa
área a “250 léguas a leste do Benin”, o que equivalia “a 20 luas de andadura”.
Ao regressar a Portugal, Afonso de Aveiro logo transmitiu as novidades a D.
João II. O dado que mais chamava a atenção era o que atribuía ao Ogané um poder
extraordinário, inclusive ao ponto de os chefes tribais de vasta região terem
de lhe prestar obediência e homenagem.
As
novidades trazidas por Afonso de Aveiro agitaram o governo português, que
tratou de consultar os cosmógrafos para se certificar de que Ogané podia ser o
Preste João. Não foi por acaso que no ano seguinte, em 1487, D. João II definiu
três missões de busca ao tão falado monarca. Duas expedições seguiriam por
terra e uma pelas águas.
Por mar seguiu a
missão comandada por Bartolomeu Dias... Com ele partiram também dois negros e
quatro negras em uma das caravelas que compunham a frota. A estratégia era
simples. Tratava-se de africanos que já haviam assimilado a doutrinação
lusitana. Eles foram preparados com belas vestimentas para que causassem boa
impressão aos nativos e foram deixados em pontos diversos da costa africana
mais abaixo do Equador e, uma vez instalados, procurariam firmar boa
convivência com os locais e colher informações sobre o reino africano anunciado
por Afonso de Aveiro.
A respeito da
expedição de Bartolomeu Dias, sabe-se que ele a prolongou até o extremo sul
africano, tendo atingido com sucesso o Cabo das Tormentas, depois chamado pelos
portugueses de “Boa Esperança” por possibilitar o avanço às Índias.
(...)
A primeira missão por terra ficou ao cargo de Mem Rodrigues e Pedro
Astoniga, emissários pessoais de D. João II.
Desde o Golfo da Guiné, os dois deviam avançar pelas terras dos fulas,
que os portugueses entendiam como “descendentes de etíopes migrados do oeste”,
e também obter informações de quem esperavam ser o Preste João. As informações
dão conta de que os dois conseguiram caminhar até Jerusalém. Ao menos deve ser
isso o que relataram às autoridades. Retornaram a Portugal por não falarem árabe.
Em maio de 1487 partiu a segunda missão por
terra. D. João desejava obter um roteiro seguro tanto para a Índia quanto para
a Etiópia. Foi com este objetivo que consultou os cosmógrafos e encarregou dois
experientes escudeiros da tarefa: Afonso Paiva e Pero da Covilhã. Ambos
conheciam a linha árabe e, além de buscar informações sobre o percurso da
pimenta e especiarias diversas desde o Oriente até a Europa, deviam esclarecer
“a verdade sobre a desafiadora figura do Preste João para os lados da Etiópia”.
Deixaram Santarém
guardando o segredo da missão... Decorrido mais ou menos um ano, quando chegou
a Alexandria, Afonso Paiva morreu. Pero da Covilhã prosseguiu a caminho da
Índia sem saber da morte do companheiro, já que cada um estava encarregado de
cumprir parte específica da missão. Depois de dois anos, Covilhã dirigiu-se ao
Cairo, onde os dois deviam se encontrar.
Em vez do companheiro Paiva, Pero da Covilhã encontrou dois judeus
portugueses que lhe traziam cartas de D. João II. O rei solicitava o retorno
dos dois a Portugal caso tivessem concluído a missão. Mas se ainda não tinham
cumprido suas metas, principalmente em relação às verdades sobre o Preste João
na Etiópia, deviam dar prosseguimento às investidas.
(...)
Como se pode
concluir, Afonso Paiva havia ficado com a missão de chegar “às verdades sobre o
Preste João na Etiópia”, enquanto Pero da Covilhã ficou com a parte que dizia
respeito ao “caminho seguro para a Índia e suas especiarias”. Este respondeu ao
rei que assumiria a tarefa que era de Paiva e na mesma carta relatou que,
“partindo do mar da Guiné em direção às costas de Sofala ou de Madagascar”, os
portugueses poderiam chegar à Índia com facilidade.
Em
1491, Pero da Covilhã iniciou novo trajeto... Partiu do porto de Judá e avançou
pelo Mar Vermelho, chegou à Arábia e passou por Meca e Medina. Navegou até
Zeila (Etiópia) e entre 1492 e 1493 alcançou a Abissínia.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_4.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto