quarta-feira, 3 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – morte de D. Henrique, iniciativas bélicas de Afonso V e arrefecimento dos projetos sobre o Preste João; D. João II, projetos para o avanço na África e retomada da ideia de fazer aliança com algum reino cristão na África; Afonso de Aveiro e informações sobre o grande rei Ogané; a expedição de Bartolomeu Dias; Mem Rodrigues e Pedro Astoniga em percurso pelo norte africano; missões entregues a Afonso Paiva e Pero da Covilhã; em busca do Preste João e uma de rota segura para Índia

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore.html antes de ler esta postagem:

O Infante D. Henrique morreu em 1460... Seu sobrinho, o rei D. Afonso V, era mais interessado pelos confrontos com Castela e projetos belicistas destinados aos conflitos no norte da África... Essa situação arrefeceu a febre que os lusitanos tinham pelo Preste João e seu reino. E isso num momento em que eles mais vinham se animando com a expectativa de encontrá-los na África.
Apenas quinze anos depois da morte de D. Henrique, quando terminou o contrato que o rei havia firmado com Fernão Gomes para o “arrendamento dos negócios da Guiné”, é que o governo voltou a dar sinais de que pretendia retomar a investigação sobre o reino cristão na África.
O rei D. Afonso V morreu em 1481. O trono foi assumido por seu filho D. João. Ele mesmo que em 1475 havia recebido do pai o “controle dos negócios do Atlântico”.
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D. João II definiu iniciativas importantes em relação ao avanço da costa africana tomando como referência a linha do Equador. Os “negócios da Guiné” estavam no primeiro plano, mas a ideia de que a Abissínia reservava boas surpresas incentivou o seu governo a novas empreitadas.
Em 1486, o experimentado piloto de grandes naus, João Afonso de Aveiro, recolheu informações no Benin sobre a existência de “um rei poderoso chamado Ogané” numa área a “250 léguas a leste do Benin”, o que equivalia “a 20 luas de andadura”. Ao regressar a Portugal, Afonso de Aveiro logo transmitiu as novidades a D. João II. O dado que mais chamava a atenção era o que atribuía ao Ogané um poder extraordinário, inclusive ao ponto de os chefes tribais de vasta região terem de lhe prestar obediência e homenagem.
As novidades trazidas por Afonso de Aveiro agitaram o governo português, que tratou de consultar os cosmógrafos para se certificar de que Ogané podia ser o Preste João. Não foi por acaso que no ano seguinte, em 1487, D. João II definiu três missões de busca ao tão falado monarca. Duas expedições seguiriam por terra e uma pelas águas.
Por mar seguiu a missão comandada por Bartolomeu Dias... Com ele partiram também dois negros e quatro negras em uma das caravelas que compunham a frota. A estratégia era simples. Tratava-se de africanos que já haviam assimilado a doutrinação lusitana. Eles foram preparados com belas vestimentas para que causassem boa impressão aos nativos e foram deixados em pontos diversos da costa africana mais abaixo do Equador e, uma vez instalados, procurariam firmar boa convivência com os locais e colher informações sobre o reino africano anunciado por Afonso de Aveiro.
A respeito da expedição de Bartolomeu Dias, sabe-se que ele a prolongou até o extremo sul africano, tendo atingido com sucesso o Cabo das Tormentas, depois chamado pelos portugueses de “Boa Esperança” por possibilitar o avanço às Índias.
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A primeira missão por terra ficou ao cargo de Mem Rodrigues e Pedro Astoniga, emissários pessoais de D. João II.
Desde o Golfo da Guiné, os dois deviam avançar pelas terras dos fulas, que os portugueses entendiam como “descendentes de etíopes migrados do oeste”, e também obter informações de quem esperavam ser o Preste João. As informações dão conta de que os dois conseguiram caminhar até Jerusalém. Ao menos deve ser isso o que relataram às autoridades. Retornaram a Portugal por não falarem árabe.
Em maio de 1487 partiu a segunda missão por terra. D. João desejava obter um roteiro seguro tanto para a Índia quanto para a Etiópia. Foi com este objetivo que consultou os cosmógrafos e encarregou dois experientes escudeiros da tarefa: Afonso Paiva e Pero da Covilhã. Ambos conheciam a linha árabe e, além de buscar informações sobre o percurso da pimenta e especiarias diversas desde o Oriente até a Europa, deviam esclarecer “a verdade sobre a desafiadora figura do Preste João para os lados da Etiópia”.
Deixaram Santarém guardando o segredo da missão... Decorrido mais ou menos um ano, quando chegou a Alexandria, Afonso Paiva morreu. Pero da Covilhã prosseguiu a caminho da Índia sem saber da morte do companheiro, já que cada um estava encarregado de cumprir parte específica da missão. Depois de dois anos, Covilhã dirigiu-se ao Cairo, onde os dois deviam se encontrar.
Em vez do companheiro Paiva, Pero da Covilhã encontrou dois judeus portugueses que lhe traziam cartas de D. João II. O rei solicitava o retorno dos dois a Portugal caso tivessem concluído a missão. Mas se ainda não tinham cumprido suas metas, principalmente em relação às verdades sobre o Preste João na Etiópia, deviam dar prosseguimento às investidas.
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Como se pode concluir, Afonso Paiva havia ficado com a missão de chegar “às verdades sobre o Preste João na Etiópia”, enquanto Pero da Covilhã ficou com a parte que dizia respeito ao “caminho seguro para a Índia e suas especiarias”. Este respondeu ao rei que assumiria a tarefa que era de Paiva e na mesma carta relatou que, “partindo do mar da Guiné em direção às costas de Sofala ou de Madagascar”, os portugueses poderiam chegar à Índia com facilidade.
Em 1491, Pero da Covilhã iniciou novo trajeto... Partiu do porto de Judá e avançou pelo Mar Vermelho, chegou à Arábia e passou por Meca e Medina. Navegou até Zeila (Etiópia) e entre 1492 e 1493 alcançou a Abissínia.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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