sexta-feira, 5 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – esforço diplomático de D. Manuel e ricos presentes ao rei abexim; fragmentos de Gaspar Corrêa sobre a lista de ricos presentes; do fim dado aos regalos a partir de informações de Elaine Sanceau; Lopo Soares de Alberguia substitui Afonso de Albuquerque; Lebna Dengel, empossado negus, desdenhou da comitiva portuguesa; dos presentes entregues em 1520; D. João III recebeu a carta de amizade do rei abissínio; dificuldades para a concretização da aliança

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_4.html antes de ler esta postagem:

Depois de receber a embaixada abexim (gentílico da Abissínia) que havia sido enviada a Portugal pela regente Helena, o rei D. Manuel decidiu demonstrar o seu firme propósito de acertar a aliança para o combate aos “infiéis” muçulmanos. Fez isso ao enviar valiosos presentes por embaixadores portugueses que acompanharam os africanos no retorno ao seu reino.
(...)
O citado autor de “Lendas da Índia”, Gaspar Corrêa, foi escrivão de Afonso de Albuquerque, governador português na Índia... Em seus registros, destacou a impressionante riqueza dos artigos enviados por D. Manuel como presentes à Abissínia.
Em síntese, os presentes constituíam-se de:

                   “luxuoso leito provido de um dossel valorizado por pinturas artísticas, do alto de cuja armação cairiam, fechando-o a toda volta, cortinas de tafetá azuis e amarelas. Como complemento, colchão estofado de lã a ser recoberto por finos lençóis de linho, e travesseiros bordados a ouro a descansarem sobre uma coberta de damasco e veludo de costura acabada em fio de ouro. O que se completava com uma mobília de jantar e mais serviços completos de mesa, com toalhas e guardanapos naturalmente bordados a ouro.”

Em nota de Tinhorão ficamos sabendo que a descrição acima foi transcrita por Elaine Sanceau em “Etiópia e Portugal”, publicado pela Revista “Ocidente” de 1959. A respeito do destino do tesouro, a historiadora emendou que: “tudo isso levava o velho embaixador Duarte Galvão e tudo se perdeu devido à incúria de Lopo Soares, indigno sucessor de Afonso de Albuquerque”.
(...)
D. Manuel procurou encaminhar da melhor maneira possível a diplomacia com o reino africano e a
tão sonhada aliança militar parecia se encaminhar a contento...
Mas ocorreu que, entre os portugueses, teve início um entrevero que desestabilizou a organização da administração da Índia. Por causa disso, o competente Afonso de Albuquerque teve de entregar o cargo de governador a Lopo Soares de Alberguia... Este, além de não contribuir para que a embaixada de D. Manuel chegasse à Abissínia, armazenou os ricos presentes num depósito de Cochim, conforme explicado por Elaine Sanceau.
A embaixada enviada pelo rei português ao reino cristão abexim só chegou cinco anos depois da posse de Lopo Soares. Por essa ocasião, Lebna Dengel já havia assumido o posto de negus, mas, em vez de receptivo, tratou os lusitanos com frieza e o “distanciamento exigido por sua condição de soberano africano de tipo oriental”.
Lebna Dengel ignorou os embaixadores e desprezou os presentes que lhe levaram. A verdade é que sequer podiam ser comparados com os anteriores, largados no depósito de Cochim. Apesar disso, não deixavam de ser significativos, e é o mesmo Gaspar Corrêa, também em “Lendas da Índia”, que faz referência à chegada da embaixada lusitana a Abissínia em 1520 e aos presentes deixados ao negus:

                   “Um mapamundo (...) para lhes dar a entender a grandeza da Terra” e mais: “carta de marear, uma espada, punhal de ouro e de esmalte”, além de “coiraças postas em brocado” e “quatro lanças douradas, as melhores que se poderão achar na armada”.
(...)
Apesar de um tanto decepcionado com os presentes, Lebna Dengel acenou positivamente em relação à aliança proposta pelos portugueses. Todavia adotou um lento ritual de aproximação, de modo que apenas em 1527 o padre Francisco Alvares entregou a carta de amizade transmitida pelo rei abexim a D. João III. O padre-embaixador só conseguiu fazer chegar uma mensagem do negus sobre o reconhecimento da autoridade espiritual do papa Clemente VI em Roma no ano de 1533.
Ainda assim a aliança que os portugueses esperavam não se efetivou imediatamente na prática. E isso porque o país já sentia os altos custos da expansão e administração das terras indianas. Além disso, e por isso, os próprios abissínios se ocupavam sozinhos de intensa luta contra os muçulmanos, que haviam recebido o reforço de turcos conquistadores do Egito,,,
Então, por praticamente duas décadas, o mito do Preste João manteve-se aquietado na Península Ibérica.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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