Para Tinhorão, o conflito político que D. João
II travou com a nobreza explica o fato de o governo manter discrição e certo silêncio
sobre o avanço das relações entre Portugal e a região africana abaixo do
Equador.
E mesmo sobre Diogo
Cão, reconhecido por suas realizações a partir das expedições de 1482-1483 e
1485 à costa africana e ao Congo, não se tem mais notícias depois de 1486, ano
em que retornou a seu país com a embaixada africana e a carta do manicongo ao
rei... Somente três anos depois é que se noticiará na cidade de Beja sobre o recebimento
da embaixada do “rei do Congo” por D. João II.
Como se sabe, depois houve a retomada dos esforços para se estabelecer
contato mais efetivo com as terras do reino africano... Pero de Évora e Gonçalo
Eanes chegaram a Tombuctu em 1487... Na mesma época ocorreram as viagens de
Pero da Covilhã e Afonso de Paiva, além das expedições pelo grande rio.
(...)
Rui
de Pina registra que D. João providenciou o batismo da gente africana que
chegou a Beja, e deu orientações para “que ficassem no seu reino durante todo o
ano de 1490, de maneira que durante aquela temporada aprendessem a língua
vulgar do seu reino e principalmente bem os artigos da fé católica”...
Em relação a essa
última orientação, ainda de acordo com Rui de Pina, consta que o aprendizado
dos africanos foi satisfatório, pois “todas aquelas coisas os tais
compreenderam bem e com empenho de maneira que não partiram ignorantes”.
A
embaixada retornou à África em dezembro de 1490 em frota comandada por Gonçalo
de Sousa, que foi enviado ao manicongo como embaixador português... Seus navios
levavam ainda o solicitado pelo “rei” africano na carta de 1486:
“artesãos, mestres de
pedraria e de carpintaria, trabalhadores da terra, burros e pastores, de
maneira que o rei pudesse mandar construir templos e outras coisas e palácios”.
Como podemos notar, D.
João II fez de tudo para que seu reino cristão conseguisse a simpatia e aliança
do manicongo e sua área de controle não influenciada pela religião muçulmana e mercadores
árabes.
O livro dá conta de que logo que deixaram Lisboa, alguns dos que
embarcaram contraíram peste e acabaram morrendo a caminho do Cabo Verde. Entre
as vítimas da peste estava o próprio Gonçalo de Sousa, que foi substituído por
Rui de Sousa, seu sobrinho. Dois africanos que faziam parte da embaixada também
faleceram, um deles pertencia ao clã do manicongo, chamava-se Caçuta, mas foi
batizado em Portugal e recebeu o nome de João da Silva. O outro africano que morreu
de peste também fazia parte da embaixada e havia recebido o batismo de
religiosos portugueses. Sobre este último não há maiores detalhes.
Apenas no final de março de 1491 é que os navios de Rui de Sousa chegaram
ao rio Padrão, no Congo. Rui de Pina informa que os nativos ficaram felizes ao
reverem os de sua gente que retornavam e tocaram “timbales e outros variados
instrumentos como é costume deles”. No início do mês seguinte, os portugueses
batizaram o chefe local, deram-lhe o nome de Manuel, e o seu filho também
recebeu o batismo... Na sequência dirigiram-se por terra à área onde vivia o
manicongo, o reconhecido chefe superior de toda aquela localidade.
Os “presentes e pesos” enviados pelo rei de Portugal
foram carregados por duzentos negros pelo percurso de 150 milhas em mata... O
longo trajeto foi vencido em 23 dias.
(...)
O manicongo era
costumeiramente visto sentado numa grande cadeira... Ele recepcionou a comitiva
e concedeu alguns dias de descanso aos homens.
Depois Rui de Sousa foi recebido oficialmente e pôde entregar “todos os
ornamentos e as coisas eclesiásticas”... Além disso, apresentou-lhe aqueles que
chegavam especificamente para cuidar dos ofícios solicitados.
A partir dos
registros de Rui de Pina, somos informados de que depois o manicongo recebeu
ainda mais do embaixador Rui de Sousa que:
“ofereceu um cavalo
belíssimo, enfeitado com seu freio e sela, depois vestidos tecidos com ouro e
seda e de diferentes cores e panos de púrpura e caudas de cavalos muito bem
tecidas, e, finalmente, ofereceu-lhe muito liberalmente os navios com toda a
gente e todas as outras coisas do rei de Portugal, e todas essas coisas
causaram ao rei e a todos os seus tão incrível gáudio que muitas vezes se
levantou do estrado abraçando o orador (o próprio Rui de Sousa) e o levantou da
terra, já que naquele momento pensava ser o mais feliz príncipe do mundo...”.
Continua em
https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/07/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_13.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto