segunda-feira, 8 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – ações militares lusitanas durante a década de 1540 em áreas do Mar Vermelho e da Abissínia; D. Estevão de Noronha, “filho segundo de Vasco da Gama” e governador da Índia; confronto e morte de Cristóvão da Gama e Ibrahim Al-Ghazi; o fim de Lebna Dengel; atuação de jesuítas portugueses e o encerramento da crença mítica em Preste João e seu reino maravilhoso; voltando aos temas sobre as navegações do tempo do Infante D. Henrique; fragmentos das memórias históricas de Luís de Cadamosto

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_5.html antes de ler esta postagem:

A década de 1540 foi marcada por ações militares portuguesas no Mar Vermelho e na Abissínia.
Logo em 1541, D. Estevão de Noronha, ”filho segundo” de Vasco da Gama, enviou seu irmão Cristóvão da Gama em socorro às tropas do negus que que lutavam contra guerreiros somalis liderados por Ahmed Ibn Ibrahim Al-Ghazi (também chamado Granhe, Granyé ou ainda Canhoto).
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A respeito de D. Estevão Noronha, sabe-se que esteve em ação em Suez, onde foi derrotado no confronto com a esquadra do paxá do Egito. Sobre Ibrahim Al-Ghazi, sabe-se que suas tropas derrotaram os guerreiros de Lebna Dengel, morto no confronto.
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Depois de três anos, cerca de quatrocentos portugueses voltaram a combater árabes e turcos na região. Os embates resultaram nas mortes de Cristóvão da Gama e de Ibrahim Al-Ghazi.
A ideia a respeito do reino do Preste João foi arrefecida entre os lusitanos após esses episódios de 1544. Alguns anos mais tarde, os turcos dominaram a região do Mar Vermelho que dava acesso à terra dos aliados abexins. Isso resultou no isolamento da Etiópia, que se viu “cercada de maometanos”.
Aos poucos, religiosos jesuítas portugueses passaram a adotar uma discussão mais teológica a respeito do surgimento das crenças no reino do Preste João “na igreja copta de Alexandria ou na católica de Roma” e, dessa maneira, rechaçaram de uma vez por todas seu caráter mítico/lendário.
Missionários portugueses atuaram na Abissínia até 1634, quando foram expulsos por autoridades locais devido ao “viés político” de seus testemunhos entre os nativos.
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Em nota apresentada pelo livro, ficamos sabendo que o ensaio “Etiópia e Portugal”, da historiadora Eliane Sanceau, destacou que os vínculos entre Portugal e Etiópia marcados pelo mito do Preste João foram relembrados pelo imperador etíope, quando, em visita à Europa durante a primeira década do século passado, fez questão de passar por Portugal: “só para agradecer ao pequeno país que tanto sacrifício fez para salvar a terra do Preste João, já lá se vão quase trezentos anos”, sentenciou o etíope.

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Neste ponto, retornamos às navegações portuguesas desde a década de 1420, que buscavam alcançar as regiões às margens do Atlântico mais ao sul.
A navegação era basicamente a que os pescadores chamavam de “cabo a dentro”, já que os que seguiam nas embarcações tinham sempre terras à vista... Já à navegação de alto mar, chamavam de “cabo a fora”.
Como sabemos, o projeto de realizar o reconhecimento costeiro africano para além das Canárias e do Cabo do Não era uma consequência da insistência do Infante D. Henrique em confirmar as informações que havia recolhido desde a conquista de Ceuta.
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O navegante veneziano Alvise de Cadamosto (também conhecido pelos portugueses como Luís de Cadamosto), serviu o Infante e deu prosseguimento às suas memórias em 1454... Elas haviam sido iniciadas por Zurara, que as interrompeu em 1447.
Retomando as ações do Infante desde os anos 1420, Cadamosto registrou:

                   “E, assim, mandou o dito senhor Infante as ditas suas caravelas, e de ano para ano faziam muitos danos aos mouros: de modo que, insistindo o sobredito senhor em fazê-las ir cada ano mais para diante, as fez ir até o cabo designado cabo Não, o qual cabo assim vinha chamado e se chama até hoje”. (...)
                   “De modo que, desejando o dito senhor conhecer mais para além, determinou fazer que as ditas caravelas no ano seguinte passassem o dito cabo Não, com o favor e a ajuda de Deus, pois sendo as caravelas de Portugal os melhores navios que andam no mar, à vela, estando eles bem-aparelhados de todas as coisas precisas, julgo ser possível poder navegar em toda parte”.

Esses fragmentos citados em “Rei do Congo” foram extraídos de “Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra”, edição da Academia Portuguesa de História (1988).
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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