A década de 1540 foi marcada por ações militares
portuguesas no Mar Vermelho e na Abissínia.
Logo em 1541, D.
Estevão de Noronha, ”filho segundo” de Vasco da Gama, enviou seu irmão
Cristóvão da Gama em socorro às tropas do negus que que lutavam contra
guerreiros somalis liderados por Ahmed Ibn Ibrahim Al-Ghazi (também chamado
Granhe, Granyé ou ainda Canhoto).
(...)
A
respeito de D. Estevão Noronha, sabe-se que esteve em ação em Suez, onde foi
derrotado no confronto com a esquadra do paxá do Egito. Sobre Ibrahim Al-Ghazi,
sabe-se que suas tropas derrotaram os guerreiros de Lebna Dengel, morto no
confronto.
(...)
Depois de três anos, cerca
de quatrocentos portugueses voltaram a combater árabes e turcos na região. Os
embates resultaram nas mortes de Cristóvão da Gama e de Ibrahim Al-Ghazi.
A
ideia a respeito do reino do Preste João foi arrefecida entre os lusitanos após
esses episódios de 1544. Alguns anos mais tarde, os turcos dominaram a região
do Mar Vermelho que dava acesso à terra dos aliados abexins. Isso resultou no
isolamento da Etiópia, que se viu “cercada de maometanos”.
Aos poucos,
religiosos jesuítas portugueses passaram a adotar uma discussão mais teológica
a respeito do surgimento das crenças no reino do Preste João “na igreja copta
de Alexandria ou na católica de Roma” e, dessa maneira, rechaçaram de uma vez
por todas seu caráter mítico/lendário.
Missionários
portugueses atuaram na Abissínia até 1634, quando foram expulsos por
autoridades locais devido ao “viés político” de seus testemunhos entre os
nativos.
(...)
Em nota apresentada pelo livro, ficamos sabendo que o ensaio “Etiópia e
Portugal”, da historiadora Eliane Sanceau, destacou que os vínculos entre
Portugal e Etiópia marcados pelo mito do Preste João foram relembrados pelo
imperador etíope, quando, em visita à Europa durante a primeira década do
século passado, fez questão de passar por Portugal: “só para agradecer ao pequeno
país que tanto sacrifício fez para salvar a terra do Preste João, já lá se vão
quase trezentos anos”, sentenciou o etíope.
(...)
Neste ponto, retornamos às navegações portuguesas desde a década de
1420, que buscavam alcançar as regiões às margens do Atlântico mais ao sul.
A navegação era basicamente a que os pescadores
chamavam de “cabo a dentro”, já que os que seguiam nas embarcações tinham
sempre terras à vista... Já à navegação de alto mar, chamavam de “cabo a fora”.
Como sabemos, o
projeto de realizar o reconhecimento costeiro africano para além das Canárias e
do Cabo do Não era uma consequência da insistência do Infante D. Henrique em
confirmar as informações que havia recolhido desde a conquista de Ceuta.
(...)
O navegante veneziano Alvise de Cadamosto (também conhecido pelos
portugueses como Luís de Cadamosto), serviu o Infante e deu prosseguimento às
suas memórias em 1454... Elas haviam sido iniciadas por Zurara, que as
interrompeu em 1447.
Retomando
as ações do Infante desde os anos 1420, Cadamosto registrou:
“E, assim, mandou o dito
senhor Infante as ditas suas caravelas, e de ano para ano faziam muitos danos
aos mouros: de modo que, insistindo o sobredito senhor em fazê-las ir cada ano
mais para diante, as fez ir até o cabo designado cabo Não, o qual cabo assim
vinha chamado e se chama até hoje”. (...)
“De modo que, desejando o
dito senhor conhecer mais para além, determinou fazer que as ditas caravelas no
ano seguinte passassem o dito cabo Não, com o favor e a ajuda de Deus, pois
sendo as caravelas de Portugal os melhores navios que andam no mar, à vela,
estando eles bem-aparelhados de todas as coisas precisas, julgo ser possível
poder navegar em toda parte”.
Esses
fragmentos citados em “Rei do Congo” foram extraídos de “Viagens de Luís de
Cadamosto e de Pedro de Sintra”, edição da Academia Portuguesa de História
(1988).
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_12.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto