A respeito do senhor elegante, cavalheiro conhecedor
da música clássica, podemos imaginar muita coisa. A mulher que certamente não conhecia
a atmosfera do grande teatro não sabia o que esperar daquele encontro. O tipo parecia
se divertir ao falar da música de Wagner e não dava mostras de que havia lhe
enviado a entrada, então a cada minuto que passava ela se sentia mais
constrangida.
(...)
Os dois permaneceram
em silêncio enquanto a orquestra terminou a peça. Na sequência ele se levantou
dando a entender que se retiraria. Ela quis saber o motivo e como resposta
ouviu que de modo algum ele queria comprometê-la... Então, por que entrou no
camarote? Ele explicou que o dele ficava ao lado e tinha visto o taxista incomodá-la...
Ela argumentou que ele poderia a ter defendido do próprio camarote...
O homem deu a entender que se aproximou para ajudá-la. Mantendo postura
altiva, ela pegou a bolsa mostrando que estava disposta a pagar-lhe o dinheiro
que havia entregado ao taxista... Talvez esperasse que o tipo recusasse, mas
como isso não ocorreu, teve de admitir que deixara o dinheiro em casa. Ele
apenas pediu que o deixasse continuar a ouvir o concerto junto dela e emendou
que, nesse caso, seria ele quem ficaria lhe devendo.
O
maestro retoma a regência... O silêncio volta a imperar no auditório e
camarotes.
(...)
A moça nota que uma
família acabava de chegar ao camarote que estava vazio... Perguntou-lhe sobre
quem eram. Ele respondeu que não sabia... Isso obviamente derrubava sua afirmação
de que o estava ocupando. Ela disse exatamente isso e ele redarguiu dizendo que
também ela dissera que esperava alguém... Como sabia que ela havia mentido? A
mulher quis saber. O tipo que se tornava cada vez mais misterioso respondeu que
descobriu logo que observou os olhos dela. Seria uma “cantada”? Ela
perguntou... Ele respondeu que isso talvez fosse “uma influência da música”.
Os
dois passaram a falar da beleza da música, de como ela aproxima as pessoas e “aviva
os sentidos”... Isso a fez se lembrar do mendigo da noite anterior e de suas
palavras, então disse que “um amigo lhe dissera coisas parecidas”. Na sequência
o lembrou que ainda não havia se apresentado... Ele desconversou e anunciou que
a orquestra tocava “Lohengrin”...
Este é o seu nome?
Não, ele teve de responder e explicar que “Lohengrin” é uma das mais belas composições
de Wagner... O personagem chega desde as nuvens num barco puxado por cisnes
brancos e deposita sua espada bem aos pés de Elsa, “dos cabelos de ouro”, e lhe
oferece seu braço e seu amor. Como condição pede a ela que nunca lhe pergunte “quem
é e de onde vem”...
A jovem concordou que
se trata de um enredo poético, mas vê-se que não tinha a menor condição de
prosseguir a conversa ou de se manter na audiência porque se levantou e se
dirigiu à saleta anexa ao camarote... Preocupado, o homem quis saber se ela
estava se sentindo mal... Ela respondeu que não era nada, logo melhoraria, além
disso não queria estragar a poesia de Wagner. Com a insistência do outro, ela
acabou dizendo que com a pressa de se dirigir ao concerto acabou saindo de casa
sem se alimentar e que desde o dia anterior não havia comido nada.
(...)
Na cena seguinte vemos o casal em um restaurante... O jantar é farto,
pessoas alegres dançam numa concorrida pista, onde eles também se encontram.
O ambiente fez muito bem aos dois. Conversam animadamente e ele tem a
chance de dizer que graças à música podia abraçá-la... Ela se diverte e num
dado instante diz que o absurdo da situação era que ainda não sabia quem era
ele... Ele podia dizer o mesmo em relação a ela, então estavam empatados. Ela decidiu
arriscar e mentiu ao afirmar que era uma senhora respeitável, possuía rendas e
vivia numa mansão com um lindo jardim, tinha empregados, joias e muitos
vestidos... Isso sem contar os três automóveis e as muitas viagens ao exterior!
O homem quis saber o que ela diria se
encontrasse alguém que oferecesse a vida que ela lhe descrevera... Ela
mostrou-se indignada porque ele não acreditara em suas palavras. A música havia
acabado, então ele sugeriu que quando a banda voltasse a tocar ela lhe contasse
tudo o que pensava enquanto dançassem. Queria saber se ela aceitaria um homem que
lhe oferecesse tudo o que ela demonstrava apreciar... Ela respondeu que “dependeria
do preço”.
O preço, segundo ele,
seria não perguntar nada a respeito de sua vida, sobre o que faz ou de onde
vem, e saber apenas o que ele disser... Ela associou o tal tipo ao Lohengrin...
Ele aceitou o jogo e perguntou o que ela diria ao Lohengrin...
Ela
respondeu que não era o que esperava... E que, além disso, não sente falta de
nada em sua vida, pois já tem tudo o que sempre desejou.
Indicação (não informada)
Um abraço,
Prof.Gilberto