Como vimos, a opinião de Luís de Cadamosto era a
de que as caravelas portuguesas estavam tão bem aparelhadas que poderiam
navegar por toda parte.
Graças também à verba
recebida a partir de 1416, para garantir a defesa de Ceuta, o Infante D. Henrique
pôde manter os mouros afastados daquela parte da costa africana. Já em 1426
ordenou que Gonçalo Velho Cabral, um dos navegadores da Companhia, que
avançasse pelo mar aberto a fim de alcançar ilhas que apareciam em algumas
cartas de navegação do século anterior... O livro cita a “segunda carta de
Dulcert, ou Dallorto, de 1339, e o atlas Médici, de 1370”.
(...)
Um dos principais resultados dessa iniciativa foi a descoberta dos
Açores em 1427. Em nota, o livro cita “a carta catalã de Gabriel de Valseque
(1439)” e, especificamente sobre a descoberta dos Açores, emenda que as ilhas
foram “achadas por Diogo de Sénill, piloto de el-rei de Portugal”.
Outras
ações foram deliberadas e colocadas em execução. Consta que não foram
devidamente registradas. Todavia sabe-se que outros navegadores partiram do
Cabo do Não com vistas a ultrapassarem o Bojador. O objetivo quase foi atingido
em 1433, e só não seguiram para além do cabo por falta de certas condições
técnicas.
Transpor o Bojador
foi tarefa que exigiu esforços e superação de dificuldades. Uma delas se
referia à crença na ideia de que havia um dramático abismo em águas mais
afastadas. Achava-se que as embarcações corriam riscos de desastres fatais. Não
eram poucos os que observavam as naus em posições remotas, viam que elas
desapareciam conforme avançavam, e assim alimentavam a paranoia.
O
texto esclarece que havia mesmo certos perigos. Notadamente a ocorrência de
“baixios até longe da costa”. A acumulação de areia trazida ao litoral
Atlântico da África por ventos desde o Saara provocava o “assoreamento das
águas costeiras responsável pela impossibilidade da navegação local de navios
de certo porte”... A falta de profundidade necessária à navegação impedia o
avanço.
A respeito das
dificuldades encontradas pelos navegantes nas águas do Bojador, Gomes Eanes de
Zurara registrou em sua “Crônica de Guiné”:
“O mar é tão baixo, que a
uma légua de terra não há de fundo mais que uma braça (2,20 metros). As
correntes são tamanhas que, navio que lá passe, jamais nunca poderá tornar”.
Por causa da dificuldade salientada por Gomes de Zurara, os pilotos das
embarcações deviam se afastar do rumo traçado originalmente... Tinham de
deslizar “larga curva para oeste”, pois a falta de profundidade se estendia até
“uma légua marítima de distância”, ou seja, mais de cinco quilômetros e meio.
Há que se acrescentar que o peso total de suas embarcações variava entre 50 e
60 toneladas.
Em 1433 os portugueses ainda não contavam com os preciosos recursos que
possibilitariam uma ultrapassagem mais segura e tranquila do Bojador... Ainda
lhes faltavam “cartas de marear seguras” (eles só produziram a sua primeira em
1443) e a “caravela de velas latinas, mais a de bolina” (usadas a partir de
1441).
Como se vê, não foi por acaso que Gil Eanes
desistiu de ultrapassar o Cabo ao alcançá-lo em 1433. O Infante tanto
pressionou que no ano seguinte Eanes realizou o grande feito. Sobre o
acontecimento, Zurara registrou que ao vencer o Bojador Gil Eanes descobriu que
para além do cabo, “as coisas” eram “muito ao contrário do que ele e outros até
ali pressentiam”.
A partir do grande
acontecimento, planejou-se avançar o mais que podiam pela costa africana no
rumo do sul até onde conseguissem chegar sem serem incomodados pela presença
muçulmana... Depois do Marrocos, o território avançava pela costa cheia de
curvas da Mauritânia... E para além do rio Senegal, a “terra dos negros”.
Os lusitanos puderam conferir terras por onde circulavam minguados grupos
berberes e alguns árabes... Mercadores que lidavam com camelos e negociavam
inclusive o sal extraído de lagoas próximas das praias. Um ambiente muito
quente e de difícil acomodação. Considerações de Cadamosto dão conta de que:
“a costa é
toda arenosa, branca e seca, e é terra baixa toda igual e não mostra ser mais
alta, arenosa e branca e seca, num lugar que noutro, até o dito Cabo Branco. O
qual cabo é chamado Branco porque os portugueses, que primeiro o acharam
viram-no arenoso e branco, sem sinal de erva nem de qualquer árvore”.
Como se vê, desde a
ultrapassagem do Cabo do Bojador os lusitanos mantiveram-se atentos às
possibilidades do continente. De acordo com Gomes Eanes de Zurara, Gil Eanes,
com a participação de Afonso Baldaia (copeiro de D. Henrique), avançou cerca de
cinquenta léguas pela costa desértica até que alcançou “rastro de homens e
camelos”... Para D. Henrique o ocorrido foi algo bom, mas ele desejava bem
mais. Ainda segundo o mesmo cronista, o Infante ordenava:
“Pois que assim é, vos
encomendo que vades o mais adiante que puderdes, tratando de falar com essa
gente, ou ganhando alguma”.
O
Cabo Branco citado anteriormente foi atingido por uma expedição portuguesa
liderada por Nuno Tristão (criado da câmara do Infante) em 1441.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_15.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto