terça-feira, 2 de junho de 2020

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – referências a declarações nos debates franceses; interesse pelos documentos produzidos na América do Norte; Condorcet e seus senões em relação aos eventos nos Estados Unidos; crise econômica de 1788 e convocação dos Estados Gerais; listas de queixas e de direitos reivindicados; nobres de Béziers e povo comum da região de Paris; abertura dos Estados Gerais e declaração de Assembleia Nacional pelos delegados do Terceiro Estado

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_30.html antes de ler esta postagem:

Apesar da grande decepção de Rousseau, as discussões a respeito da humanidade e sua organização social prosseguiram, e as referências aos “direitos do homem” permaneceram no centro das atenções. Ainda que o filósofo iluminista ignorasse o desenrolar dos fatos na América do Norte, a Independência dos Estados Unidos deu ainda mais “poder de fogo” aos defensores da causa dos direitos na Europa.
Para termos uma ideia, a Declaração de Independência de 1776 foi traduzida para o francês pelo menos nove vezes até 1783... Também as declarações estaduais e constituições despertaram o mesmo interesse e receberam traduções para o francês. Isso contribuiu para que algumas doutrinas formuladas na França passassem a defender que o governo local também se estabelecesse a partir de novas fundamentações.
Havia reformadores franceses que consideravam a Monarquia Constitucional, como a britânica, o melhor modelo... Havia ainda os que, como Condorcet, não se animavam com a Constituição norte-americana e a consideravam carregada do “espírito aristocrático”. Isso à parte, a maioria se sentia animada com o exemplo dos norte-americanos e sua capacidade de livrarem-se do “peso morto do passado e estabelecer o autogoverno”.
(...)
Em 1788 a França passou a enfrentar uma difícil crise econômica... O país ficou à beira da bancarrota. Lynn Hunt aponta que um dos motivos dessa crise foi a participação francesa na guerra estadunidense. Para resolvê-la, o rei Luís XVI convocou os Estados Gerais, assembleia que não se reunia desde 1614. Assim que se anunciaram as eleições, uma série de ideias a respeito de declarações foram discutidas entre os que se agrupavam nos mais diversos locais.
Em janeiro de 1789, Lafayette, que era amigo de Jefferson, começou a redigir um rascunho de declaração... Logo, o próprio Condorcet dispôs-se a elaborar o seu sem muito alarde. De fato, Luís XVI havia anunciado que cada segmento social* elegesse seus delegados e apresentassem “listas de suas queixas”.

                   *Todos aqui conhecem a estratificação social que havia no Antigo Regime, herança dos tempos feudais: Primeiro Estado, clero; Segundo Estado, Nobreza; Terceiro Estado, o povo comum.

De fevereiro a abril muitas listas foram elaboradas... Elas faziam referências aos “direitos inalienáveis do homem”, “direitos imprescindíveis dos homens livres”, “direitos e dignidade do homem e do cidadão” e até aos “direitos dos homens livres e esclarecidos”. Enfim predominava a ideia dos “direitos do homem”.
Certamente a crise econômica aqueceu ainda mais as reivindicações por direitos.
(...)
Em “A Invenção dos Direitos Humanos” conhecemos um pouco das listas das queixas da nobreza e do Terceiro Estado...
Mais do que o clero ou o povo comum, os nobres “exigiam de forma explícita uma declaração de direitos”, além disso solicitavam uma Constituição. Os nobres de Béziers, região mais ao sul do país, pretendiam uma “assembleia geral que adotasse como sua verdadeira tarefa preliminar o exame, rascunho e declaração dos direitos do homem e do cidadão”.
Da região da capital surgiu uma lista do Terceiro Estado que deu à sua segunda seção o título de “Declaração de Direitos”. As listas solicitavam alguns direitos mais específicos “de uma ou outra forma: liberdade de imprensa, liberdade de religião em alguns casos, tributação igual, igualdade de tratamento perante a lei, proteção contra a prisão arbitrária”...
Os Estados Gerais foram oficialmente abertos a 5 de maio de 1789... Depois de mais de um mês de debates infrutíferos, os representantes do Terceiro Estado decidiram se declarar “membros de uma Assembleia Nacional” (17/junho). Em seus discursos, garantiram que representavam toda nação, e não simplesmente o segmento estamental. Vários representantes do clero se juntaram a eles... Boa parte dos delegados da nobreza deixou os Estados Gerais enquanto alguns deles resolveram aderir ao movimento.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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