Os registros da última postagem apontam que os
portugueses acessaram a embocadura do Rio Poderoso (o Congo, também chamado de
Zaire por um bom tempo) graças à expedição de Diogo Cão (1483).
Vimos que os
lusitanos tiveram acesso a terras de rica floresta habitada por negros não
islamizados, os cacongos.
(...)
A título de mais uma recapitulação, cabe lembrar que a década de 1440
havia sido marcada por expedições predatórias em terras litorâneas da África...
Mais tarde ocorreram as tentativas pacíficas com a intenção de estabelecerem
relações comerciais com árabes que viviam nas localidades costeiras ou que por
elas circulavam.
No
final da década de 1470 e no início da de 1480 os portugueses organizaram
feitorias/fortalezas na ilha de Arguim e em Cacheu (1479), na Guiné, e em São
Jorge da Mina (1482).
Graças a essas
iniciativas, tiveram mais condições de avançar pelo Congo.
(...)
Em
seus manuscritos, Duarte Pacheco afiançou que os exploradores foram
recepcionados pela “gente toda negra, com seu cabelo revolto” com muita
curiosidade. Diogo Cão tratou de fincar à margem esquerda um marco, “padrão de
posse”, que havia levado já trabalhado em pedra... Depois deu a alguns de seus
homens a tarefa de obter informações pela redondeza.
Acontece que os
“línguas” (como eram chamados os que cuidavam de aprender línguas de povos a
serem conquistados; atuavam como intérpretes no caso de contato) que
acompanhavam Diogo Cão eram do Senegal e não compreendiam os dialetos bantos,
próprios da área subtropical. Esses viriam a ser chamados de “grupo congolês”.
Apesar de
praticamente se limitarem à troca de sinais, os portugueses conseguiram saber
que o povo local reconhecia um líder que vivia em área mais distante mata adentro.
É Rui de Pina que, com sua “Crônica d’El-Rei D. João II”, nos dá
informações acerca das iniciativas de Diogo Cão nos primeiros passos lusitanos
no Congo. O capitão seguia as orientações determinadas por El-Rei no documento
“de indústria e ordenação d’El-Rei”.
A partir do estabelecido pelo monarca, Diogo Cão determinou que um grupo
seguisse por terra com o intento de encontrar o chefe citado pelos nativos... O
grupo era constituído principalmente por “intérpretes cristãos conhecedores de
várias línguas”.
Entrementes, o capitão prosseguiria pelo
poderoso rio...
Avançou por mais ou
menos 160 quilômetros, quando suas embarcações chegaram ao “paredão de rochedos
conhecido como ‘pedras do Ielala’”, responsável por cataratas estupendas.
O
acidente geográfico fez Diogo Cão retroceder... Todavia tratou de ordenar que
inscrevessem “dois testemunhos de sua presença” nas pedras da exuberante
paisagem.
Na mais alta foi
esculpido o escudo de seu país, uma grande cruz e os dizeres: “Aqui estiveram
os navios do esclarecido rei D. João, o segundo de Portugal – Diogo Cão, Pero
Anes, Pero da Costa”.
Noutra que se localizava mais abaixo, e ao que tudo indica havia sido
parte da maior que se localizava mais acima, inscreveram uma sigla e “os nomes
Álvaro Pires, Pedro Escobar e, em seguida ao desenho de uma cruz significando
‘falecido’, o nome de Gonçalo Álvares”.
Tinhorão
cita “A inscrição de Ielala”, de Luciano Cordeiro, que saiu na “Revista
Brasil-Portugal” nº 47 (de janeiro de 1901).
A revista está
disponível na internet em sítio próprio (hemeroteca digital) e disponibiliza as
versões digitalizadas. Em acesso na data desta postagem resgatamos as imagens
que ilustram os registros. A leitura atenta nos ajuda a entender que o texto de
Cordeiro foi redigido pouco antes de sua morte. Na página anterior à de sua
redação há uma bela homenagem a ele, que foi fundador e dirigente da “Sociedade
de Geographia de Lisboa”, e à sua colaboração científica ao país.
Luciano Cordeiro recebeu as fotografias das inscrições das “pedras do
Ielala” pouco antes de sua morte. Elas lhe foram entregues pelo Doutor Paulo
Cancella que, em viagem à ilha de São Tomé, contatara certo português que vivia
em Matadi, e este recomendou-lhe o envio das “misteriosas inscrições de difícil
decifração” ao estudioso.
Como podemos notar, algumas
palavras citadas na matéria da revista receberam pequenas adaptações no texto
de “Rei do Congo”. Isso à parte, vale a análise e contemplação do antigo
documento.
E
que belo documento... Que bom que há este “hemerotecadigital.cm-lisboa.pt”!
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_29.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto