terça-feira, 23 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – breve recapitulação das viagens lusitanas ao litoral atlântico da África; informações de Duarte Pacheco sobre a expedição de Diogo Cão ao Congo; dificuldades de comunicação com os nativos e notícias sobre a existência de liderança política mata adentro; fragmentos de Rui de Pina e as pedras do Ielala; informações sobre as inscrições nas pedras extraídas da Revista Brasil-Portugal nº47; Luciano Cordeiro, um cientista português, paixão pela pesquisa; as fotografias das inscrições do Ielala

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_19.html antes de ler esta postagem:

Os registros da última postagem apontam que os portugueses acessaram a embocadura do Rio Poderoso (o Congo, também chamado de Zaire por um bom tempo) graças à expedição de Diogo Cão (1483).
Vimos que os lusitanos tiveram acesso a terras de rica floresta habitada por negros não islamizados, os cacongos.
(...)
A título de mais uma recapitulação, cabe lembrar que a década de 1440 havia sido marcada por expedições predatórias em terras litorâneas da África... Mais tarde ocorreram as tentativas pacíficas com a intenção de estabelecerem relações comerciais com árabes que viviam nas localidades costeiras ou que por elas circulavam.
No final da década de 1470 e no início da de 1480 os portugueses organizaram feitorias/fortalezas na ilha de Arguim e em Cacheu (1479), na Guiné, e em São Jorge da Mina (1482).
Graças a essas iniciativas, tiveram mais condições de avançar pelo Congo.
(...)
Em seus manuscritos, Duarte Pacheco afiançou que os exploradores foram recepcionados pela “gente toda negra, com seu cabelo revolto” com muita curiosidade. Diogo Cão tratou de fincar à margem esquerda um marco, “padrão de posse”, que havia levado já trabalhado em pedra... Depois deu a alguns de seus homens a tarefa de obter informações pela redondeza.
Acontece que os “línguas” (como eram chamados os que cuidavam de aprender línguas de povos a serem conquistados; atuavam como intérpretes no caso de contato) que acompanhavam Diogo Cão eram do Senegal e não compreendiam os dialetos bantos, próprios da área subtropical. Esses viriam a ser chamados de “grupo congolês”.
Apesar de praticamente se limitarem à troca de sinais, os portugueses conseguiram saber que o povo local reconhecia um líder que vivia em área mais distante mata adentro.
(...)
É Rui de Pina que, com sua “Crônica d’El-Rei D. João II”, nos dá informações acerca das iniciativas de Diogo Cão nos primeiros passos lusitanos no Congo. O capitão seguia as orientações determinadas por El-Rei no documento “de indústria e ordenação d’El-Rei”.
A partir do estabelecido pelo monarca, Diogo Cão determinou que um grupo seguisse por terra com o intento de encontrar o chefe citado pelos nativos... O grupo era constituído principalmente por “intérpretes cristãos conhecedores de várias línguas”.
Entrementes, o capitão prosseguiria pelo poderoso rio...
Avançou por mais ou menos 160 quilômetros, quando suas embarcações chegaram ao “paredão de rochedos conhecido como ‘pedras do Ielala’”, responsável por cataratas estupendas.
O acidente geográfico fez Diogo Cão retroceder... Todavia tratou de ordenar que inscrevessem “dois testemunhos de sua presença” nas pedras da exuberante paisagem.
Na mais alta foi esculpido o escudo de seu país, uma grande cruz e os dizeres: “Aqui estiveram os navios do esclarecido rei D. João, o segundo de Portugal – Diogo Cão, Pero Anes, Pero da Costa”.
Noutra que se localizava mais abaixo, e ao que tudo indica havia sido parte da maior que se localizava mais acima, inscreveram uma sigla e “os nomes Álvaro Pires, Pedro Escobar e, em seguida ao desenho de uma cruz significando ‘falecido’, o nome de Gonçalo Álvares”.
(...)
Tinhorão cita “A inscrição de Ielala”, de Luciano Cordeiro, que saiu na “Revista Brasil-Portugal” nº 47 (de janeiro de 1901).
A revista está disponível na internet em sítio próprio (hemeroteca digital) e disponibiliza as versões digitalizadas. Em acesso na data desta postagem resgatamos as imagens que ilustram os registros. A leitura atenta nos ajuda a entender que o texto de Cordeiro foi redigido pouco antes de sua morte. Na página anterior à de sua redação há uma bela homenagem a ele, que foi fundador e dirigente da “Sociedade de Geographia de Lisboa”, e à sua colaboração científica ao país.
Luciano Cordeiro recebeu as fotografias das inscrições das “pedras do Ielala” pouco antes de sua morte. Elas lhe foram entregues pelo Doutor Paulo Cancella que, em viagem à ilha de São Tomé, contatara certo português que vivia em Matadi, e este recomendou-lhe o envio das “misteriosas inscrições de difícil decifração” ao estudioso.
Como podemos notar, algumas palavras citadas na matéria da revista receberam pequenas adaptações no texto de “Rei do Congo”. Isso à parte, vale a análise e contemplação do antigo documento.
E que belo documento... Que bom que há este “hemerotecadigital.cm-lisboa.pt”!
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas