segunda-feira, 15 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – descrevendo as paisagens litorâneas da África Atlântica; registros de Luís de Cadamosto; Golfo de Arguim, Rio do Ouro, Senegal; pardos azenegues e negros; região do Cabo Verde, rios Gâmbia e Níger; floresta tropical; expedições portuguesas de captura de nativos e de extração de ouro; resistência africana e revezes lusitanos

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_12.html antes de ler esta postagem:

As navegações pela costa africana de além do Cabo do Bojador em direção ao sul do continente revelaram um extenso litoral de areias brancas e desérticas... Paisagens monótonas de terras baixas sem elevações proeminentes.
Como vimos, o primeiro marco geográfico de destaque a chamar a atenção dos navegadores portugueses foi o Cabo Branco que, de acordo com os registros de Luís de Cadamosto, dava para uma vista em que ”a terra se mete para dentro, e forma um golfo que se chama a Furna de Arguim”.
Após o referido Golfo de Arguim, os portugueses prosseguiriam no rumo sul, passando pela Costa do Rio do Ouro e, novamente sem qualquer destaque geográfico que chamasse a atenção, chegariam ao “fim do território seco dos pardos azenegues”... Na sequência avistariam savanas anunciando vasta área tropical habitada por negros. Ainda de acordo com as anotações de Luís de Cadamosto:

                   “Depois da passagem do dito Bojador, com ele à vista, navegamos por nossas jornadas, e chegamos ao rio chamado Senegal, que é o primeiro rio das terras dos negros, naquela costa; o qual rio separa os negros dos pardos chamados azenegues; e separa também a terra seca e árida, que é o sobredito deserto, da terra fértil, que é o país dos negros”.

Passando pelo Senegal, a costa africana se apresenta ainda rasa... Apenas na região do Cabo Verde contemplam-se terras mais elevadas... Na altura dos “rios Gâmbia e Níger até o Zaire” (área do Golfo da Guiné) a paisagem é marcada pela floresta tropical... Os navegadores lusitanos observaram extensões litorâneas vazias, marcadas por áreas pantanosas e desabitadas.
Por quase quarenta anos eles navegaram o litoral africano no rumo sul e, até ultrapassarem a linha do Equador, observaram núcleos muçulmanos... Conforme atingiram a floresta mais densa puderam constatar que mais adiante a influência dos árabes já não era verificada.
(...)
Em 1441, Nuno Tristão e Antão Gonçalves retornaram de uma das muitas viagens à África. Trouxeram “os primeiros negros filhados em solo africano”... A partir de então, e muito provavelmente inaugurando as velas latinas, seguiram mais ao sul até a ilha de Arguim... Nuno Tristão navegou o Rio do Ouro, de cuja região recolheu para Portugal mais escravos e a primeira quantidade de ouro extraído de terras africanas.
As missões concluídas por Nuno Tristão e Antão Gonçalves ocorreram em territórios certamente influenciados por incursões muçulmanas...
Sabia-se que os mouros circulavam a Costa da Mauritânia, o Rio do Ouro e o Senegal. Os registros portugueses davam conta da presença de árabes, berberes, azenegues e, como dirigiram-se mais ao sul, toparam com grupamentos negros. Estes eram sempre abordados com muita agressividade pelos lusitanos que normalmente se aproximavam para capturá-los.
Nuno Tristão chegou a Arguim em 1443... Um dos marcos de sua expedição foi a organização de uma feitoria a fim de firmar relações comerciais com os árabes... Em 1444, Diogo Afonso, Lançarote e Garcia Homem comandaram quatorze embarcações preparadas por mercadores de Lagos com o objetivo de sequestrar nativos da ilha de Naar. Mais de 230 foram capturados.
No ano seguinte, Gonçalo de Sintra, também navegador de Lagos, partiu com dezoito homens para a mesma ilha com a intenção de sequestrar mais nativos e fazê-los escravos. Dessa vez, porém, foram surpreendidos por bem organizada resistência e acabaram mortos.
Outros casos semelhantes se sucederam. Em 1446, por exemplo, o experiente Nuno Tristão acabou morto por habitantes de uma ilha “na Costa da Guiné, logo abaixo do arquipélago de Bijagós”. O livro dá conta de que a ilha em questão foi batizada com o nome de Tristão pelos portugueses.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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