sexta-feira, 19 de junho de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – revisitando navegações lusitanas pelo litoral africano durante a segunda metade do século XV; das dificuldades de percorrer territórios de nativos islamizados; contatando diferentes sociedades negras; chegando à foz do grande Rio Poderoso, o Rio Congo

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_15.html antes de ler esta postagem:

Entre 1457 e 1460, D. Afonso V concentrou esforços em tropas que receberam missão de combate a Alcácer-Ceguer (Marrocos). Neste breve período as navegações para o sul africano estiveram interrompidas...
Apesar dos revezes da década anterior, e após a campanha militar no Marrocos, os portugueses lograram alguns êxitos:
         * Com Pedro Sintra que, em 1460, desceu a Costa da Guiné tendo alcançado Serra Leoa alguns anos mais tarde;
         * Em 1470 foi a vez de Soeiro da Costa chegar à Costa do Marfim;
         * No ano seguinte, Pero de Escobar e João Santarém atingiram a Costa da Mina (Daomé);
         * Fernando Pó navegou o Delta do Níger (Camarões) em 1472);
         * Lopes Gonçalves chegou ao Gabão em 1473, tendo alcançado a “costa vazia e pantanosa que do rio Ogouê, ultrapassando a linha do Equador, conduz ao Zaire ou Congo”.
(...)
Durante os reinados de D. João I, D. Duarte, D. Afonso V e D. João II, Portugal dedicou-se à navegação pelo litoral africano em direção ao sul. Quase meio século de história náutica, conquistas e frustrações se passou até que embarcações comandadas por Diogo Cão chegaram ao Congo em 1483...
Como devemos saber, as muitas dificuldades para ultrapassar as regiões influenciadas pelos árabes alimentaram ansiedade e esperança lusitanas numa aliança com um soberano cristão em terras africanas... Anteriormente vimos os esforços realizados durante a década de 1490, sobretudo aquelas protagonizadas por Pero da Covilhã.
Ocorre que os árabes já circulavam pelos territórios africanos há muito tempo. Por pelo menos quinhentos anos eles converteram nativos à fé islâmica, por isso grupos nômades e os negros que habitavam a região da floresta tropical desde a foz do Senegal seguiam os princípios maometanos.

(...)

Contatando os negros.
Dinis Dias navegou do Senegal ao Cabo Verde em 1444. No ano seguinte o rio Gâmbia foi alcançado por Vicente Dias e Luís de Cadamosto... Toda essa região era habitada por negros jalofos. O citado Pedro de Sintra chegou à Serra Leoa em 1461 ou 1462... Ali viviam “os mandingas descendentes do antigo Império Mandeu do Mali, do qual conservavam certos costumes, ao lado de um dialeto próprio, o bambara”.
Na Costa da Guiné, além das sociedades dos jalofos (Senegal) e dos mandingas (Gâmbia), se organizavam negros “fulas, saracolés, balantas e manjacas” da Guiné-Bissau... Na Costa do Ouro encontravam-se os hauçás que se espalhavam até o Delta do rio Níger. A partir dali a costa era desabitada e abria caminho para o Congo.
O encontro com toda essa gente negra influenciada religiosa e politicamente pelos muçulmanos, levou os portugueses a reconhecerem que a esperada aliança com o reino cristão em terras orientais da África, num tempo em que ainda apostavam na existência do Preste João, que sua tarefa era das mais difíceis.
A também citada expedição de 1483 comandada por Diogo Cão avançou pela baía de Cabinda e alcançou uma área habitada por negros cacongos... A surpresa maior para os lusitanos foi conhecerem um rio poderoso, cuja embocadura se estendia por vinte quilômetros... Suas águas desaguavam com violência no oceano, provocando fenomenal estrondo. Não foi por acaso que lhe deram o nome de rio Poderoso.
De acordo com Tinhorão, os portugueses constataram que:

                   “depois de tantas praias desertas, ou só de longe em longe vista habitadas por raros nômades islamizados” (...) “viam-se agora, afinal, um pouco abaixo da linha do Equador, diante da floresta tropical do Congo, onde a influência árabe ainda não chegara”.

Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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