A jovem confessou que sua condição também era a
de pedinte... Não que estivesse na sarjeta, embora podemos notar que já não
possuía os recursos para ostentar um status superior. Esteve disposta a
entregar um anel para obter fichas no cassino, ludibriara o taxista e sequer
podia pagar a corrida até o hotel! Em breve veremos que estava a ponto de
sequer ter onde passar as noites.
(...)
Logo que ela disse
que sabia o que era “pedir”, o velho mendigo respondeu que as joias não são
necessárias para viver... Ele mostrou que sabia que há mulheres vaidosas, que
se importam mais em ter pedras preciosas, casacos de peles raras e belos
vestidos para se exibirem. Tipos assim colocam essas superficialidades acima
das necessidades básica. A jovem redarguiu ao afirmar que “nem todos os homens
conhecem a sensibilidade das mulheres”. Apesar disso, começava a admitir que já
não tinha como esconder a miséria de quem só possui a roupa do corpo.
Perguntou ao velho se o policial já havia deixado o local. O tira ainda
permanecia bem diante do “clube”, mas estava se acomodando para tirar um
cochilo. A jovem sentiu necessidade de desabafar e explicou que provavelmente
tiraria a própria vida... Sua infelicidade era extremada porque não conseguia
encontrar o “homem da sua vida”, aquele que a amasse a ponto de se casar com
ela e a sustentasse em seus caprichos.
O
velho ouviu com atenção e respondeu que talvez ela devesse frequentar outros
ambientes... Nas casas de jogos as pessoas buscam a diversão das apostas em
primeiro lugar. Para os jogadores, as mulheres estão em segundo plano. Ele
sugeriu que ela era mulher para frequentar lugares que realçassem sua beleza e
inteligência... Lugares românticos, de formação, de arte... Museus, viagens,
música... Ela não discordou, mas questionou sobre como poderia recomeçar se
estava em dívida com o hotel e logo a ultrajariam e a expulsariam.
O velho destoou um
pouco do seu linguajar manso e responsável... Sugeriu que ela demonstrasse
altivez no hotel, que protestasse por bons serviços e até reclamasse de flores
que não lhe foram entregues por descuido da gerência e funcionários. Devia
deixar claro que alguém importante e rico a contatava sem sucesso por causa do
despreparo da casa. Esse procedimento faria com que esquecessem suas dívidas.
Ela sorriu e manifestou que estava se sentindo bem por conversar com ele.
À
meia-noite o policial dormiu e ela pôde se retirar. Agradeceu a sobriedade dos
conselhos e confessou que esteve a ponto de “vender a alma ao diabo” naquela
mesma noite. Adiante vinha um táxi... Sinalizou afirmando que ao chegar ao seu
destino diria ao motorista que o hotel pagaria a corrida. O velho deu-lhe
dinheiro, ela recusou num primeiro momento... Depois aceitou assim que ouviu que
ela lhe entregara aquela mesma nota na porta da igreja, talvez esperando ter
uma noite de sorte.
A mulher percebeu que
chegara “ao fundo do poço”... Disse que ele também poderia dizer que um dia deu
esmola... Insistiu que queria devolver o que estava “tomando emprestado”. Ele
não aceitou e afirmou que bem podia ser que, no caso de se encontrarem
novamente, ela desviaria o olhar para mostrar que não o reconhecia. Ela não
discordou e então deu-lhe a mesma camélia de tecido que trazia na lapela, a que
ganhou da vendedora de doces à porta do cassino clandestino.
O motorista parou,
ela entrou no veículo e orientou-o a seguir ao “Grande Hotel”. O velho recolheu
o amuleto, abraçou seus pertences e seguiu pela madrugada fria.
(...)
Antes mesmo que chegasse ao hotel, a jovem já era motivo de comentários
do gerente e dos funcionários... O homem estava furioso com o atraso do
pagamento das diárias, exigiu o fechamento da conta e que descessem as malas da
mulher. Com ares de quem sabe comandar, vociferou que com ele a conversa era
outra... reclamou dos auxiliares que a tratavam com benevolência, pois apenas
falavam e no momento de cobrá-la recolhiam as os papéis referentes às taxas.
Ele não havia esperado até tarde da noite em vão, e já estava pronto para
recebê-la sem dar chances a qualquer tentativa de argumentação.
Ela passou pela porta giratória e logo notou a presença do gerente no
balcão... Mas antes que ele dissesse qualquer coisa referente aos papéis que
segurava, antecipou-se em tom de protesto e querendo saber onde estava o “buquê
de orquídeas que lhe enviaram”... Obviamente ninguém ali sabia de qualquer entrega
para ela. Seguindo o conselho dado pelo velho mendigo, anunciou que o buquê
fora enviado pelo senhor Richardson assim que saiu de sua fábrica. No mesmo
instante o gerente se admirou... Para concluir sua armação, a moça emendou que
o aristocrata lhe preparava uma festa.
O gerente ainda tentou dar início ao assunto da
dívida, mas ela o impediu dizendo que o hotel teria de solucionar o sumiço das
flores, pois em caso contrário teria de apresentar uma denúncia à polícia. Para
ainda mais convencer, lamentou que o senhor Richardson vivia a sugerir-lhe que
se mudasse de hotel. E para o espanto do gerente e dos funcionários que a
ouviam, manifestou grande indignação ao revelar que não ficaria calada como
ficou da “vez anterior”, quando o chefe de polícia lhe enviou uma caixa de
rosas que não lhe entregaram.
Quase
que a pedir desculpas, o gerente respondeu que não sabia dos episódios relatados.
Para mais pressioná-lo, ameaçou-o falando que além de não resolver os seus problemas
ainda a aguardava para constrangê-la. O homem desconversou e respondeu que estava
ali para pedir-lhe desculpas pelos inconvenientes.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/filme-dios-se-lo-pague-moca-pode-passar.html
Indicação (não informada)
Um abraço
Prof.Gilberto