segunda-feira, 1 de março de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – retomando o texto; Polly apresenta a canção de “Jenny-Pirata”; novo esculacho do Navalha ao capanga Matthias e uma advertência à Polly


Estamos neste ponto em que Polly se propôs a apresentar a canção de Jenny, a pequena e pobre copeira que trabalhava no reles boteco de hotel decadente do Soho e vivia a servir frequentadores embriagados e arrogantes que só sabiam humilhá-la... Entendemos que o maior desejo de Jenny só podia ser o de deixar aquele lugar e partir em um navio para bem longe.
Polly fez os capangas de Mac Navalha participarem com as provocações que os odiosos fregueses dirigiam à Jenny... Um teve de dizer “Então, quando é que vai chegar teu navio, Jenny?”; outro a afrontou perguntando “Você continua lavando os copos, Jenny, sua noiva de piratas?
(...)

A canção de “Jenny-Pirata”

                   “Meus senhores, hoje eu lavo copos
                   E faço a cama de qualquer freguês,
                   Aceitando gorjetas. No papel
                   De pobre empregada num sujo hotel,
                   E ninguém pergunta: quem és?
                   Mas um dia ouvem-se gritos no porto
                   E perguntam: que sons infernais?
                   Ao me verem sorrindo sobre os copos:
                   Por que raios sorri sempre mais?
                            E a nau de oito velas,
                            Com cinquenta canhões,
                            Ancora no cais.
                   E dizem: lava seus copos, menina!
                   E dão-me algum vintém.
                   A grana é tomada, a cama feita ligeiro,
                   Mas ninguém deita mais no travesseiro,
                   E quem sou, não sabe ninguém!
                   Mas um dia ouvem-se gritos no porto
                   E perguntam: que sons infernais?
                   Ao me verem de pé atrás das janelas,
                   Dizem: que sorriso de azar!
                            E a nau de oito velas,
                            Com cinquenta canhões,
                            Bombardeia o lugar.
                   Meus senhores, seu riso logo passa.
                   Estes muros estão por cair,
                   A cidade está por ser devastada,
                   Só um sujo hotel sobra no nada:
                   E quem vivo consegue sair?
                   Nesta noite, ouvem-se gritos em torno
                   E dizem: por que o hotel se salvou?
                   Quando fecho a porta pela última vez,
                   Perguntam: é ela que lá morou?
                            E a nau de oito velas,
                            Com cinquenta canhões,
                            Embandeira o convés.
                   Desembarcam cem homens ao meio-dia,
                   E nas sombras vão se envolver
                   E prendem um em cada lugar,
                   Para eu os presos julgar,
                   Perguntando: quem deve morrer?
                   E reina o silêncio total no porto
                   Quando indagam: quem deve ser morto?
                   Todos! – falo sem pestanejar.
                   E ao tombar a cabeça, digo: - oba!
                            E a nau de oito velas,
                            Com cinquenta canhões,
                            Some comigo no mar”.

(...)
O bandido Matthias foi o primeiro a manifestar aprovação... Disse que achou muito legal... E engraçado, pois madame Polly levava muito jeito para a apresentação. Navalha chamou-lhe a atenção e vociferou que a apresentação de Polly não tinha nada de engraçado ou legal, pois era arte... Parabenizou a esposa, disse que os “bostas” de seus capangas não mereciam, e na sequência pediu desculpas ao reverendo.
Mac Navalha falou baixinho junto ao ouvido de Polly que a apresentação não o agradara e que não gostaria que ela repetisse aquele tipo de encenação no futuro.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas