quinta-feira, 4 de março de 2021

“Deus lhe pague”, peça de Joracy Camargo – as mentiras de Péricles para conseguir subtrair cem contos do velho milionário; “irmão desajustado” de Nancy precisa repor o caixa do banco; muitos conselhos e a bondade de nada cobrar; vaidade e “um tostão na mão de um jovem vale mais do que na de um velho”

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_4.html antes de ler esta postagem:

“Deus lhe pague”, peça de Joracy Camargo – as mentiras de Péricles para conseguir subtrair cem contos do velho milionário; “irmão desajustado” de Nancy precisa repor o caixa do banco; muitos conselhos e a bondade de nada cobrar; vaidade e “um tostão na mão de um jovem vale mais do que na de um velho”
Mas a curiosidade do velho era grande e com energia exigiu que o tipo ficasse, pois não sairia sem lhe contar o tal segredo. Por sua vez, o moço insistiu que precisava ouvir um juramento que lhe garantisse que tudo ficaria em segredo, poia o que tinha a dizer era vergonhoso. Apesar de achar ridícula aquela história de “juramento”, o velho decidiu jurar que nada diria a respeito do que ouvisse.
Péricles disse que era irmão de Nancy... O velho não se mostrou chocado, e o tipo prosseguiu que estava precisando urgentemente de 100 contos de réis (mais ou menos R$20 mil). O dono da casa sugeriu que se sentasse, queria ouvir mais a respeito do “caso escabroso”. O moço deu a entender que contaria “tudo”, mas o velho o interrompeu dizendo que não precisava, pois “concluía” que Nancy se envergonhava de tê-lo como irmão.
O rapaz confirmou que a “irmã” não o tinha em boa consideração e que ela tinha razão... O velho deu a entender que estava antecipando um enredo, por isso adiantou-se a perguntar a respeito do banco onde Péricles “trabalhava”... Ele respondeu que era “caixa” no Banco de Crédito Agrário. Ainda “adivinhando” o problema do outro, o velho quis saber se o “balanço” seria no dia seguinte. Sim!
Até mesmo aquele homem rico, que não tinha a menor ideia do ofício de um simples bancário, sabia que “dia de balanço é dos diabos” e que um desfalque de cem contos devia trazer problemas terríveis ao funcionário.
Certamente Péricles gostou do modo como o velho conduzia a conversa... Tudo se encaminhava bem porque o outro estava colaborando mais do que se podia esperar. O “desafortunado” até corrigiu o valor do desfalque para 98 contos... Então pretendia repor o valor? Foi o que o velho quis saber... E depois?
O tipo admitiu que reporia o dinheiro durante o balanço e que depois fugiria.
(...)
Essas últimas respostas levaram o velho a entender que o rapaz era mesmo um canalha... Então fugiria sem dinheiro? Evidentemente não lhe fez essa pergunta, em vez disso deu uns conselhos. Disse que “a Terra é pequena demais para conter, sequer, a ideia de fugir”. Ele devia sossegar o espírito. Devia pensar em sua irmã. Acrescentou que, por ela, ele mesmo seria capaz de pedir esmolas. Achava um absurdo? Devia repor o dinheiro e depois retornar à casa para ter com ele.
O tipo quis saber se precisaria trazer o dinheiro... O velho garantiu que não. Na sequência o outro beijou-lhe a mão e agradeceu. Não entendeu por que o homem se retirou, mas logo este lhe esclareceu que ia pegar o dinheiro que guardava em casa mesmo, pois não confiava nos bancos. O velho falou e quis saber se o rapaz concordava com ele. Sim, ele concordava, Péricles disse isso cabisbaixo. Ainda tinha um pedido a fazer... “Pelo amor de Deus, não conte nada a Nancy”.
(...)
O golpista podia ficar descansado em relação à última preocupação... O velho garantiu que nada revelava à mulher e que só não lhe poupava o desgosto da idade por ser algo evidente demais.
Enquanto o velho estava providenciando o dinheiro, Péricles ficou só e não conseguiu conter a empolgação. Mas assim que seu oponente retornou à sala com dois pacotes de dinheiro, reassumiu a postura humilde.
Dois pacotes de cinquenta contos cada! Péricles agradeceu mais uma vez. O velho o orientou a guardar o dinheiro nos bolsos do casaco, e ainda que chegasse mais cedo ao banco e que permanecesse calmo. Depois se despediu com um “até amanhã”, garantindo que Nancy apareceria para se despedir também... Por fim, ainda aconselhou que tivesse juízo, pois “fugir não é negócio”.
(...)
Nancy retornou à sala e foi logo perguntando ao seu pretendente o que havia dito ao velho. Obviamente o rapaz mentiu... Respondeu que nada dissera ao velho, pois pretendia contar-lhe que a amava, mas considerou a iniciativa cruel e inútil.
Ela quis saber... Por que inútil? Ele respondeu que era porque ela não nutria por ele o mesmo sentimento. Nancy disse que o amava, todavia tinha consciência de que não o queria sofrendo... Então continuaria a viver junto do velho rico e manteria distância em relação a ele.
Péricles perguntou-lhe se o dinheiro e a vaidade eram mais fortes do que o amor... Ela respondeu que o dinheiro não, mas a vaidade sim, e sem dinheiro a vaidade se tornava uma cretinice. E quanto a mocidade? O rapaz perguntou se ela tinha algum valor para a sua pretendida.
Nancy foi direta ao ponto e respondeu que, no momento, a mocidade de seu pretendente não valia nada... Mocidade sem dinheiro? É o mesmo que “operário sem trabalho”! O máximo que podia considerar é o fato de a mocidade “aumentar o valor do dinheiro” que o jovem ostenta.
Essa foi a “deixa” para Péricles perguntar quanto valiam 100 contos em sua mão... Ela respondeu que nas mãos de um moço, um tostão vale mais do que na mão de um velho... O rapaz suspirou e deixou escapar que seria bom se tivesse cem contos... Nancy concordou que, se assim fosse, poderiam fugir e seriam as criaturas mais felizes do mundo.
Leia: “Deus lhe pague”. Ediouro.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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