domingo, 28 de março de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – “balada da servidão sexual”; “idílio burguês” entre as prostitutas de Turnbridge e Jakob-dedo-de-gancho entre elas; Mac Navalha surpreende a todos e reaparece no casarão; graves acusações e denuncias contra todos do bando; Jenny quer “ler a sorte” do bandido


A Senhora Peachum planejou a conversa com as “mulheres de Turnbridge” porque estava convencida de que era entre elas que a polícia encontraria o Mac Navalha... Jenny Espelunca duvidava que o bandido ousaria visitá-las estando a polícia em seu encalço.
Mesmo se toda Londres o perseguisse, ele não renunciaria a seus prazeres. Assim pensava a Senhora Peachum e é por isso que na sequência ela cantou a “Balada da servidão sexual”.
(...)
Balada da servidão sexual

“Aquele é um sem-vergonha excomungado,
Que vê nos outros miserável gado,
Um cão danado, um sedutor vadio,
Quem vence o espertalhão? O mulherio!
Queira ou não, ergue-se o animal:
É esta a servidão sexual.
         A Bíblia não é sua leitura,
         Um egoísta, eis a verdade pura!
         Só sabe rir de todos e de tudo,
         Ao canto da sereia é surdo-mudo.
         Porém à noite vai mudando o ar:
         Seu esporte favorito é trepar.  (...)
Assim termina, geralmente, a luta:
Quem vence o herói é sempre a puta!
E os pretensos seres elevados
Pelas piranhas foram sepultados.
Queira ou não, ergue-se o animal:
É esta a servidão sexual.
         Um prende-se ao Código Civil; o outro, à Bíblia Sagrada,
         Um torna-se cristão; o outro, anarquista;
         De dia come apenas as torradas com salada,
         À tardinha, suas ideias reconquista,
         Porém à noite vai mudando o ar:
         Seu esporte favorito é trepar”.

(...)
Os sinos ainda tocavam quando o Navalha acabava de chegar ao casarão que servia de prostíbulo em Turnbridge...
Na casa, as prostitutas passavam a tarde com entretenimentos e afazeres do dia a dia. Parte delas vestia apenas os trajes íntimos e lidavam com as roupas que tinham de passar a ferro... Outras cuidavam da higiene pessoal ou se divertiam com jogos de tabuleiro. Segundo o próprio texto, um “idílio burguês”.
No filme vemos mais ou menos o mesmo cenário... Uma das diferenças que podemos notar no texto da peça é que entre as garotas estava o Jakob-dedo-de-gancho, que estava lendo o jornal e certamente as notícias a respeito da perseguição ao Mac Navalha. Apesar de atrapalhar a movimentação pela casa, ninguém dava atenção ao capanga.
Jakob se dirigiu a uma das mulheres dizendo que o Navalha não apareceria mais... Ela respondeu que “seria uma pena”. Assumindo ares de sabichão, o tipo sentenciou que, conhecendo bem o capitão, ele já devia estar fora da cidade, pois não havia o que ser feito dessa vez...
O dedo-de-gancho nem terminou de falar e Mac Navalha entrou no recinto... Foi pendurando o chapéu e pedindo café... Acomodou-se no estofado atrás de uma das mesas enquanto a prostituta conhecida como Encrenqueira repetiu admirada o que abacara de ouvir, “meu café”.
(...)
O “dedo-de-gancho” não podia acreditar... Perguntou ao capitão se ele não devia estar em Highgate. O Navalha respondeu que não renunciaria os hábitos “por causa de ninharias”. Disse isso ao mesmo tempo que atirava ao chão o folheto que trazia sua acusação e indicação de “procura-se”. Justificou ainda que, além do mais, estava chovendo.
Jenny tomou o folheto e leu: “Em nome do rei, acusamos o Capitão Macheath por três...”. Mas as informações não chegaram a ser lidas na totalidade porque o “dedo-de-gancho” tirou-lhe o papel para saber se também ele “aparecia” no informativo.
Mac Navalha adiantou que os nomes de todos do bando haviam sido impressos no papel... Jenny espantou-se tanto com as acusações que pediu para “ler a mão” do “procurado pela justiça”.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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