Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_7.html antes
de ler esta postagem:
Ainda
em relação às informações de Münzer, médico alemão de passagem por Portugal no
final do século XV, o livro destaca em nota fragmentos de seus registros
verificados em “Itinerário do Dr. Jerónimo Münzer (excertos)”, organizado por
Basílio de Vasconcelos:
“o rei possui negros
de várias cores, acobreados, pretos carregados, e de línguas diferentes,
conhecendo, porém, todos, a língua portuguesa; servindo-se de seus intérpretes,
percorre quase toda a Etiópia e obtém continuamente pelos seus presentes a
proteção dos reis mais importantes”.
(...)
A entrada de negros na Espanha também foi intensa. Aliás,
em comparação com Portugal, a Espanha (Castela) já recebia escravos do norte da
África desde o século XIV...
Richard Twiss, viajante inglês que esteve em Lisboa e em Castela ao
tempo do reinado de Henrique III (1390-1406) constatou que Málaga, na
Andaluzia, era um entreposto movimentado pelos negócios que envolviam os
escravos trazidos da África.
Twiss havia se admirado com a grande variedade de
fenótipos resultantes da miscigenação que ocorria em Portugal... Em Málaga pôde
conhecer um painel explicativo e devidamente ilustrado que destacava dezesseis “variantes
étnicas” resultantes da miscigenação dos negros com os espanhóis e outros
miscigenados... O inglês não teve dúvida e copiou as informações. O autor
relacionou algumas dessas “variantes”:
“para os espanhóis,
‘mulato’ era o resultado do cruzamento de espanhol com negro; ‘morisco’, de
espanhol com mulato; assim como o cruzamento de mulher espanhola com um
‘morisco’ dava um ‘alvino’” (...) “o cruzamento entre um negro e uma índia
gerava um ‘lobo’, que cruzado com um índio dava um ‘sambaigo’’ (...) “este –
‘sambaigo’ – cruzado com uma ‘mulata’, gerava um ‘albanassado’, que com uma
mulata dava um ‘barzino’, que, finalmente, cruzado com uma ‘mulata’ originava
um ‘moreno bem escuro de cabelo liso’”.
(...)
Retomando a questão da população negra e de mestiços em Portugal,
Tinhorão cita trecho de carta do cronista Damião de Góis acerca da grande
quantidade de negros que foram transferidos para o país nos primeiros anos da
década de 1510: todos os anos vêm para Lisboa dos reinos da Nigrícia dez a doze
mil escravos, além dos que chegam da Mauritânia, da Índia e do Brasil”.
Há informações de que, a
partir da segunda metade do século XVI, os escravos em Lisboa ultrapassavam os
10% do contingente populacional. O livro cita “Sumário em que brevemente se
contam algumas coisas (assim eclesiásticas como seculares) que há na cidade de
Lisboa”, de Cristóvão Rodrigues de Oliveira (1551), e “Tratado da majestade,
grandeza e abastança da cidade de Lisboa na segunda metade do século XVI”, de
João Brandão (1552), que corroboram a informação sobre a grande quantidade de
escravos, das mais diversas etnias, em Lisboa. De fato, por aquela época contavam-se
80.050 lisboetas livres, ao passo que o contingente de escravos era de 9.950.
Há ainda as informações obtidas
por “levantamentos censitários”, como os que foram compilados por João Maria Nogueira
e publicados na revista “O Panorama”... Além dos quase 10 mil escravos, em
Lisboa viviam 3.800 estrangeiros residentes; homens de armas e a gente da Corte
somavam 11.500; “frades, freiras e empregados de conventos, 926”; 1.000 pessoas
estavam de algum modo relacionados aos hospitais, já que eram “médicos,
enfermeiros ou internados”.
Os escravos urbanos realizavam tarefas sujas e
pesadas ao ar livre... Daí a grande movimentação de negros e mestiços “saltar
aos olhos” dos observadores estrangeiros. Não por acaso chamavam Lisboa de “cidade
dos negros”, pois para onde olhavam viam-nos em atividade: fazendo todo tipo de
serviço: descarregando barcos e navios; distribuindo carvão, peixe e carne”;
descartando fezes, transportadas em “canastras equilibradas à cabeça”, no rio; vendendo
água “ao pote e quartas”, caiando paredes de casas; lavando “trapos velhos”;
esfolando animais para a obtenção de couro...
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_17.html
Leia: Rei
do Congo. Editora 34.
Um
abraço,
Prof.Gilberto