domingo, 28 de fevereiro de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – visconde de Bonald contra a Revolução e a Declaração, favorável ao fortalecimento da Igreja Católica e à restauração; atuação contra os direitos e pela censura; sobre as movimentações das tropas napoleônicas e a propagação dos direitos; emancipação dos judeus, avanços e retrocessos ao tempo das guerras napoleônicas; um líder contrário às liberdades na França e aos sediciosos das colônias nas Antilhas

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/02/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_25.html antes de ler esta postagem:

O Visconde de Bonald se colocou contra a Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos... Ainda em sua opinião, a Declaração levava as pessoas a relaxarem em relação aos deveres, pois concentravam seus esforços a exigir direitos e a possibilidade de realizar “desejos individuais”... Como a Declaração não colocou termo às ansiedades individualistas e proporcionou o descaso aos deveres, a França se encaminhou “direto à anarquia, ao terror e à desintegração social”.
Para o filósofo conservador, seria necessário que a Igreja Católica recuperasse a importância que havia perdido. A monarquia “restaurada e legítima” a protegeria e assim os “princípios morais verdadeiros” voltariam a ser inculcados na população.
Bonald tornou-se considerado entre os mais conservadores e, logo que a dinastia dos Bourbon foi reinstalada, tomou a frente do processo de revogação dos direitos, como as leis do divórcio. Ele também encabeçou a defesa da volta da censura aos textos antes de sua publicação.
(...)
As conquistas militares francesas ao tempo da República e de Napoleão foram propícias à
divulgação da Revolução... A mensagem sobre os direitos seguiu em meio ao avanço imperialista e à truculência bélica. Foi assim que os franceses influenciaram a abolição da tortura na Suíça e na Holanda (1798)... O mesmo ocorreu na Espanha em 1808, quando o trono estava ocupado pelo irmão de Napoleão.
Depois da derrota de 1814, e a partir das restaurações, as alterações introduzidas foram revogadas. A tortura foi reintroduzida tanto na Suíça quanto na Holanda... Já o rei da Espanha decidiu restabelecer a Inquisição, que recorria às torturas em seus processos.
A questão judaica também foi abalada por onde as tropas francesas passaram ou se instalaram... Entre os povos que sofriam a invasão havia sempre quem relacionasse a emancipação concedida aos judeus à atuação das tropas imperialistas... Muitos “bandoleiros” engajados no combate aos franceses se articulavam para ataques agressivos contra os judeus.
Os judeus foram emancipados, todavia, após o fim das guerras napoleônicas, os poderes políticos restaurados eliminavam os direitos concedidos à minoria religiosa. Isso ocorreu em estados da Itália e Alemanha, mas nos Países Baixos a emancipação aos judeus foi mantida.
(...)
As iniciativas de Napoleão em relação aos direitos não garantiam o exercício em sua totalidade e eventualmente podiam ser aplicados a uma região e indeferidos a outra. O livro destaca que ”a tolerância religiosa e direitos políticos e civis iguais” foram introduzidos por ele nos diversos locais onde governou, todavia, na França, limitou a liberdade de expressão e foi inflexível em sua perseguição à imprensa.
De acordo com o próprio Napoleão:

                   “os homens não nascem para serem livres. (...) A liberdade é uma necessidade sentida por uma pequena classe de homens a quem a natureza dotou com mentes mais nobres do que a massa dos homens. Consequentemente, ela pode ser reprimida com impunidade. A igualdade, por outro lado, agrada às massas”.

Ainda de acordo com Napoleão, os franceses não aspiravam “a verdadeira liberdade”... Eles pretendiam obter as condições que os levassem “ao topo da sociedade” e desprezariam os direitos políticos se isso assegurasse a “igualdade legal”.
(...)
Em relação à escravidão, Napoleão não titubeou...
Logo que percebeu certa folga nos conflitos na Europa (1802), enviou tropas ao Caribe para combater as sedições de escravos. De início não deixou claro quais eram as suas intenções, pois isso poderia agitar ainda mais os rebelados, mas um dos generais (seu cunhado) levava orientações precisas para “ocupar pontos estratégicos”, controlar a região e “perseguir os rebeldes sem piedade”. Os negros deviam ser desarmados, as lideranças seriam presas e enviadas à França... Dessa forma poderia restaurar a escravidão.
Para Napoleão, espanhóis, ingleses e americanos também não aceitariam o estabelecimento de “uma república negra”. Como sabemos, em Saint Domingue, a repressão napoleônica, apesar da matança de 150 mil negros, foi derrotada e a independência do Haiti foi vitoriosa...
Em outras colônias, as tropas de Napoleão massacraram os insurgentes. Segundo Lynn Hunt, “um décimo da população de Guadalupe foi morta ou deportada”.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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