Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo.html antes
de ler esta postagem:
Péricles
estranhou a maneira de falar do velho... Estranhou também o modo como ele
insistia a respeito da importância de a sociedade eliminar o egoísmo e colocar
um fim na miséria... Perguntou se ele era comunista. O velho sabia que o tema
era tabu para tipos como o jovem, por isso brincou pedindo para falarem mais
baixo e acrescentou que “Comunismo” é palavra que pretende fazer parte do
dicionário, “com escalas pela polícia”.
O rapaz perguntou se é por isso que as pessoas têm “medo dessa
palavra”... Nancy quis saber se há motivo para isso. O velho respondeu
afirmativamente e justificou com uma analogia curiosa... Disse que o “Comunismo
é como o boneca de palha do qual a gente tem medo quando é criança”...
(...)
Para explicar melhor,
contou que quando ele mesmo era criança tinha em sua casa um desses bonecos,
que lembrava os manipansos (bonecos/ídolos utilizados em feitiços)...
Naturalmente sentia medo, e esse sentimento só aumentava porque sua mãe usava o
artefato para obrigá-lo a dormir mais cedo. Certa vez aconteceu de sentar-se
distraidamente sobre o “boneco aterrorizante”, mas em vez de assustar-se,
pegou-o nas mãos e pôde entender que aquilo era “incapaz de fazer mal às
crianças”... Depois de ajeitar o boneco fez dele um grande amiguinho...
O velho finalizou dizendo que sua mãe ficou encabulada
com a sua descoberta, mas ele jamais a chamou de mentirosa... No momento tinha
a dizer que “o comunismo é o boneco de palha das crianças grandes”. Péricles
concordou e disse que, quando pensava em comunismo, as imagens que vinham à sua
mente eram sempre de um “velho feio, barbado, de nariz torto e vesgo”...
(...)
Depois que o “amigo de infância de Nancy” deu essa definição, o dono da
rica casa perguntou-lhe o que pensaria se o visse “à porta de uma igreja,
pedindo esmolas”... Pensaria que o pedinte podia ser ele, um homem rico?. O
rapaz respondeu que não... Nancy se intrometeu e disse que a suposição era das
mais absurdas. O velho observou que o que dissera era tão absurdo quanto a
própria ideia que o jovem Péricles tinha sobre o comunismo. Emendou que “o
maior absurdo é a própria realidade”.
Nancy aceitou o desafio dizendo que não se pode
relacionar “realidade” a “absurdo”... No mesmo instante o velho redarguiu
dizendo que, então, “não há absurdo” e “tudo é real”... Inclusive o que
imaginamos, pois não há como se imaginar “fora da realidade! E mais disse: “do
nada não é possível tirar nada” (sabemos que ele tinha a experiência própria
como prova do que acabara de dizer).
(...)
O rapaz respondeu que tal iniciativa é das mais trabalhosas... O velho
devolveu-lhe que certamente o moço era dos que consideravam o “ignorar” a
“suprema felicidade”... Perguntou se ele sabia ler e Péricles respondeu que era
bacharel em Direito. Evidentemente sua resposta não se encaixava exatamente à
pergunta, então o velho observou isso e repetiu... Sabe ler? O moço disse que
sim... E para quê? Para viver melhor... Foi a sua resposta.
(...)
Novamente o velho implicou...
Sentenciou que não era o que parecia... Quer dizer que lê para viver melhor?
Pelo visto não era bem este o caso do jovem... Péricles pediu perdão “ao sábio”
e o outro respondeu que “os sábios não condenam a ignorância”, eles a
respeitam. Disse isso e emendou que “Adão, antes do pecado original, era o
homem mais feliz do mundo”. O rapaz arriscou manifestar sua conclusão: “porque
(Adão) era o único”! O velho admitiu e completou que depois “vieram os outros”
e então se tornou infeliz... Partindo-se deste raciocínio, poderíamos dizer que
há homens felizes em nosso tempo? “Avis rara”!
Nancy quis saber se o mesmo
podia ser dito a respeito das mulheres... Seu companheiro filósofo ironizou ao
responder que “há muitas, no céu”, “as onze mil virgens”... Ela cismou com o
pequeno número e ele disse que as demais “não alcançaram o bom tempo”.
Péricles
aproveitou para provocar Nancy e se intrometeu dizendo que na atualidade temos “o
tempo do dinheiro”... O velho estranhou e quis saber se o moço sabia o que dizia.
(...)
A pergunta do velho “caiu como uma luva”... Péricles baixou a cabeça,
disse que sabia o que dizia e que gostaria de falar em particular com ele.
Nancy pediu licença para que os dois pudessem ficar a sós na grande sala.
Assim que ela se retirou, o velho pediu que o
rapaz falasse logo. Este aquiesceu, mas pediu encarecidamente segredo a
respeito do que lhe diria.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_30.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto