Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_11.html antes
de ler esta postagem:
Ainda
em relação às leis de proibição à imigração, em 1905 o governo inglês aprovou
uma “Lei dos Estrangeiros” que na prática impedia “a imigração de ‘indesejáveis’”...
Muitos entendiam que o objetivo de tal legislação era o de barrar a entrada de
judeus do leste europeu no país. Lynn Hunt observa que os países ocidentais
começaram a impor as restrições ao mesmo tempo e na medida em que os “trabalhadores
e criados” nacionais passavam a obter direitos políticos e de cidadania.
O nacionalismo, então, impregnou-se do xenofobismo e do racismo... A
princípio a aversão foi direcionada a diversos grupos estrangeiros, e assim verificou-se
a perseguição aos “chineses nos Estados Unidos, aos italianos na França, aos poloneses
na Alemanha”. Todavia, conforme o século XIX se aproximava do fim, notou-se um
recrudescimento do antissemitismo.
Tanto na Alemanha, quanto
na França e Áustria, os antissemitas publicavam jornais, criavam clubes e até
fundavam partidos para fomentar o ódio em relação aos judeus. Incutiam nas
consciências dos cidadãos que eles eram os maiores inimigos da proposta
nacional.
As táticas deram tanto resultado que o Partido
Conservador Alemão tornou o antissemitismo um dos “artigos oficiais” de seu
programa (1892). Por essa mesma época ocorreu o “Caso Dreyfus” na França...
(...)
A verdade é que o “Caso Dreyfus” dividiu os franceses...
Tudo começou quando, em 1894, Alfred Dreyfus, oficial
judeu do exército francês foi acusado de atuar como espião para a Alemanha. Uma
intriga... Apesar de inocente, e muitas evidências provavam isso, Dreyfus foi
julgado e sentenciado culpado.
O caso tornou-se polêmico... Emile Zola publicou um contundente artigo
nos jornais franceses em que acusava “o exército e o governo francês de
acobertar as tentativas de incriminar falsamente Dreyfus”. Muitos passaram a
apoiar as ideias de Zola e a defender o oficial... Mas os antissemitas
radicalizaram e, através de sua “Liga Antissemítica Francesa”, realizaram
vários tumultos pelo país, daí resultando, inclusive, o ataque a propriedades
de judeus.
O sucesso da mobilização promovida pela “Liga Antissemita” devia-se em
grande parte à atuação de gráficas de várias cidades que imprimiam jornais a
ela vinculados com ataques aos judeus... Apesar de o governo ter oferecido o
perdão a Dreyfus (1899), e de o ter exonerado em 1906, os ânimos permaneceram
exaltados e o antissemitismo promoveu ainda mais ataques.
(...)
O livro registra que Karl
Lueger, político austríaco de ideais conservadores, elegeu-se prefeito de Viena
em 1895. Seu programa de governo apresentava várias propostas antissemitas...
Não por acaso tornou-se exemplo para Hitler.
(...)
Como se vê, o nacionalismo
passou a se relacionar cada vez mais à questão da etnicidade. Isso fez com que “explicações
biológicas” surgissem e se tornassem a base esclarecedora das “diferenças”.
Algo oposto do que havia ocorrido anteriormente, entre os defensores dos
direitos do homem, que se baseavam “na pressuposição da igualdade da natureza
humana em todas as culturas e classes” apesar das diferentes tradições,
costumes e história de cada povo.
Entre
os xenofóbicos, racistas e sexistas, valorizou-se as diferenças para se
patentear a suposta superioridade (de homens em relação às mulheres; de brancos
sobre os negros; cristãos sobre os judeus...). Assim, “o século XIX presenciou
uma explosão de explicações biológicas da diferença”.
A autora afirma que sexistas, racistas e antissemitas inverteram as
alegações dos defensores dos direitos a partir da “igualdade natural de toda a
humanidade” e articularam juízos em defesa da “diferença natural”... A título
de comparação, verifica-se que esses que se opunham aos defensores dos direitos
tornaram-se mais radicais, poderosos e sinistros “do que os tradicionalistas”.
A Biologia passou a ser
usada para explicar “o caráter natural da diferença humana”... No caso dos
judeus, por exemplo, não se pregava a aversão apenas por serem “os assassinos
de Cristo”, mas porque eles representavam uma ameaça à “pureza dos brancos” com
a miscigenação... Já os negros tornaram-se alvo de um racismo ainda mais “venenoso”
que os classificava como “inferiores” desde os tempos da escravatura.
Em relação às mulheres, os que apelavam à Biologia
para justificar a desigualdade (e incompatibilidade com as atividades exercidas
pelos homens) diziam que sua constituição física (biológica) “as destinava à
vida privada e doméstica e as tornava inteiramente inadequadas para a política,
os negócios ou as profissões”.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_21.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um
abraço,
Prof.Gilberto