segunda-feira, 15 de março de 2021

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – barreiras à imigração no Reino Unido, a “Lei dos Estrangeiros”; nacionalismo e recrudescimento do antissemitismo na política; o caso Dreyfus; Karl Lueger, um dos inspiradores de Hitler; “explicações biológicas” como fundamentação do racismo, xenofobia e sexismo

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_11.html antes de ler esta postagem:

Ainda em relação às leis de proibição à imigração, em 1905 o governo inglês aprovou uma “Lei dos Estrangeiros” que na prática impedia “a imigração de ‘indesejáveis’”... Muitos entendiam que o objetivo de tal legislação era o de barrar a entrada de judeus do leste europeu no país. Lynn Hunt observa que os países ocidentais começaram a impor as restrições ao mesmo tempo e na medida em que os “trabalhadores e criados” nacionais passavam a obter direitos políticos e de cidadania.
O nacionalismo, então, impregnou-se do xenofobismo e do racismo... A princípio a aversão foi direcionada a diversos grupos estrangeiros, e assim verificou-se a perseguição aos “chineses nos Estados Unidos, aos italianos na França, aos poloneses na Alemanha”. Todavia, conforme o século XIX se aproximava do fim, notou-se um recrudescimento do antissemitismo.
Tanto na Alemanha, quanto na França e Áustria, os antissemitas publicavam jornais, criavam clubes e até fundavam partidos para fomentar o ódio em relação aos judeus. Incutiam nas consciências dos cidadãos que eles eram os maiores inimigos da proposta nacional.
As táticas deram tanto resultado que o Partido Conservador Alemão tornou o antissemitismo um dos “artigos oficiais” de seu programa (1892). Por essa mesma época ocorreu o “Caso Dreyfus” na França...
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A verdade é que o “Caso Dreyfus” dividiu os franceses...
Tudo começou quando, em 1894, Alfred Dreyfus, oficial judeu do exército francês foi acusado de atuar como espião para a Alemanha. Uma intriga... Apesar de inocente, e muitas evidências provavam isso, Dreyfus foi julgado e sentenciado culpado.
O caso tornou-se polêmico... Emile Zola publicou um contundente artigo nos jornais franceses em que acusava “o exército e o governo francês de acobertar as tentativas de incriminar falsamente Dreyfus”. Muitos passaram a apoiar as ideias de Zola e a defender o oficial... Mas os antissemitas radicalizaram e, através de sua “Liga Antissemítica Francesa”, realizaram vários tumultos pelo país, daí resultando, inclusive, o ataque a propriedades de judeus.
O sucesso da mobilização promovida pela “Liga Antissemita” devia-se em grande parte à atuação de gráficas de várias cidades que imprimiam jornais a ela vinculados com ataques aos judeus... Apesar de o governo ter oferecido o perdão a Dreyfus (1899), e de o ter exonerado em 1906, os ânimos permaneceram exaltados e o antissemitismo promoveu ainda mais ataques.
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O livro registra que Karl Lueger, político austríaco de ideais conservadores, elegeu-se prefeito de Viena em 1895. Seu programa de governo apresentava várias propostas antissemitas... Não por acaso tornou-se exemplo para Hitler.
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Como se vê, o nacionalismo passou a se relacionar cada vez mais à questão da etnicidade. Isso fez com que “explicações biológicas” surgissem e se tornassem a base esclarecedora das “diferenças”. Algo oposto do que havia ocorrido anteriormente, entre os defensores dos direitos do homem, que se baseavam “na pressuposição da igualdade da natureza humana em todas as culturas e classes” apesar das diferentes tradições, costumes e história de cada povo.
Entre os xenofóbicos, racistas e sexistas, valorizou-se as diferenças para se patentear a suposta superioridade (de homens em relação às mulheres; de brancos sobre os negros; cristãos sobre os judeus...). Assim, “o século XIX presenciou uma explosão de explicações biológicas da diferença”.
A autora afirma que sexistas, racistas e antissemitas inverteram as alegações dos defensores dos direitos a partir da “igualdade natural de toda a humanidade” e articularam juízos em defesa da “diferença natural”... A título de comparação, verifica-se que esses que se opunham aos defensores dos direitos tornaram-se mais radicais, poderosos e sinistros “do que os tradicionalistas”.
A Biologia passou a ser usada para explicar “o caráter natural da diferença humana”... No caso dos judeus, por exemplo, não se pregava a aversão apenas por serem “os assassinos de Cristo”, mas porque eles representavam uma ameaça à “pureza dos brancos” com a miscigenação... Já os negros tornaram-se alvo de um racismo ainda mais “venenoso” que os classificava como “inferiores” desde os tempos da escravatura.
Em relação às mulheres, os que apelavam à Biologia para justificar a desigualdade (e incompatibilidade com as atividades exercidas pelos homens) diziam que sua constituição física (biológica) “as destinava à vida privada e doméstica e as tornava inteiramente inadequadas para a política, os negócios ou as profissões”.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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