Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_9.html antes
de ler esta postagem:
Evidentemente,
o texto para a apresentação teatral não traz muitas das situações que foram
escritas para o roteiro do filme... Nada de festas para a alta sociedade na
mansão do velho, nada de especuladores, bajuladores ou aproveitadores ao seu
redor (como se vê em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/06/filme-dios-se-lo-pague-uma-noite-de.html).
(...)
No início do terceiro ato, o velho e seu companheiro conversam
demoradamente sobre a “história da vida” e a respeito dos dramas humanos
causados pela ganância dos mais ricos...
O diálogo começou quando
Barata comentou que a vida do velho era bem “mais complicada do que a história da
própria vida”... Este não discordou, mas fez questão de dizer que “a história
da vida é muito mais simples do que a vida de qualquer um”...
Barata admitiu desconhecer o tema e salientou que,
embora já tivesse lido “livros de história”, nenhum trazia esclarecimentos
sobre a história da vida”. O velho explicou que não seria nos livros de história
que encontraria as respostas... Acrescentou que há pessoas que procuram ocultar
a questão para que os demais viventes imaginem que “a vida sempre foi como é e
que há de ser eternamente assim”.
Barata não viu sentido em saber como havia sido o passado se não se pode
voltar no tempo, O velho levou em consideração, mas observou que pelo menos, a
partir do conhecimento do passado, “pode-se estabelecer um presente melhor”. Essas
palavras instigaram o interesse do “aprendiz” pela “história da vida”, então o
outro pôs-se a falar...
(...)
Em síntese, o velho explicou que “a verdadeira vida” é
diferente da “vida que vivemos”... Comentou que, ao amigo, aquele entendimento
parecia complicado porque na verdade ele apenas “pensa que pensa”... Se realmente
pensasse chegaria às conclusões a que ele havia chegado. Depois, sempre
apresentando algumas perguntas ao interlocutor, falou dos três reinos da natureza
(animal, vegetal e mineral), cravou que cada um abarca formas diferentes de
vida e que “nenhuma escapou à tirania dos homens”, assim, animais foram domesticados
e “atrelados às carroças para o transporte das riquezas”; já os minerais e os
vegetais foram extraídos ou produzidos e, “trancafiados nos armazéns”, forçaram
“a alta dos preços”.
Lembrou ainda que até a água passou a ser engarrafada para ser
comercializada... restaria o ar? Foi o que Barata quis saber... O velho
lamentou que do jeito que as coisas se encaminhavam, e graças à “ciência
oficial”, monopolizariam também o ar e as pessoas teriam de comprar “balões de
oxigênio para prolongar a vida”.
Barata perguntou se a ciência é inimiga do homem. O velho respondeu que “o
inimigo do homem é o próprio homem” e citou que “o inventor da guilhotina foi
guilhotinado”. O outro disse que a tragédia tinha sido “bem feito” para o inventor.*
* Na verdade, o médico
Joseph-Ignace Gillotin morreu em 1814; o Guillotin decapitado durante a
Revolução foi, o também médico (de Lyon), certo J M V Guillotin.
O velho prosseguiu falando
que “tudo o mais tem sido assim”, já que “todas as armas dos homens foram
fornecidas pelas suas próprias vítimas”. Na sequência criticou os capitalistas,
que nada inventam, mas aproveitam “as invenções dos outros”...
Sem
dúvida, este último trecho faz referência no drama do operário Juca, o inventor
de uma máquina revolucionária cujos papéis foram roubados pelo próprio patrão. Também
por isso o velho chamou-os de “homens inúteis que se utilizam de tudo”!
(...)
De acordo com o entendimento do Barata, alguém devia ser o culpado, já
que “todos temos o mesmo direito à vida”...
Em resposta, o outro cravou
que a culpa era dos egoístas, que “privam a maioria da satisfação de suas
necessidades”. A natureza dá a vida a todos indiscriminadamente, e todos
possuem “as mesmas necessidades”, todavia os egoístas provocam o desequilíbrio
e as consequentes injustiças.
Barata concluiu que o caso
não tem solução... O velho o contrariou novamente ao dizer que uma nova organização
corrigiria as desigualdades...
Seria justo um “burro” ter a mesma vida de um “inteligente”?
Foi o que o simplório mendigo perguntou.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/deus-lhe-pague-peca-de-joracy-camargo_21.html
Leia: “Deus
lhe pague”. Ediouro.
Um
abraço,
Prof.Gilberto