sexta-feira, 5 de março de 2021

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – reis do Congo após a morte de D. Antonio I até a passagem do século XIX para o XX; sobre as listagens de Ferronha e de Basil Davidson; fragmento de “Mãe Negra” e citação sobre D. Martinho; retomando Lourenço Farinha, acerca da formação de vários outros “reinos” na região do Congo; “História de Angola”, do Grupo de Trabalho História e Etnologia do MPLA e os reinos no Planalto angolano; introduzindo os próximos temas


As pesquisas realizadas por Tinhorão dão conta de que após a morte de D. Antonio I no confronto em Ambuíla (1665), o Congo teve ainda 27 outros “reis”... Parte deles é conhecida graças aos registros de Alfredo de Sarmento em “Os sertões d’África”, todavia não se conhece o período em que alguns deles governaram.
O livro cita alguns: “D. Pedro III; D. Manuel II; D. Nicolau I; D. Sebastião I; D. Álvaro X; D. José I; D. Afonso IV; D. Antonio II; D. Álvaro XI; D. Aleixo I; D. Henrique I”.
Além desses, o livro cita os nomes de quinze outros “reis” e os períodos em que governaram. A lista foi sistematizada pelo autor graças às pesquisas que realizou, notadamente em “As cartas do ‘rei’ do Congo”, de Antonio Luís Ferronha...
(...)
O último dos “monarcas” citado por Ferronha é D. Pedro V, que reinou entre 1859 e 1860...
Já Basil Davidson publicou “Mãe Negra”, no qual aponta certo D. Martinho como “quinquagésimo quinto manicongo”. Os levantamentos realizados por Tinhorão trazem 48 manicongos “com seus nomes expressamente citados” pelos “autores que contribuíram para a listagem de ‘reis’”.
Apesar de Davidson, pesquisador inglês, não citar a fonte de onde teria obtido a informação, este D. Martinho é tido como último “rei do Congo” e teria morrido na virada do século XIX para o XX.
Uma nota do livro destaca fragmento de “Mãe Negra”, de Basil Davidson:

                   “O último dos ‘Senhores do Congo’ morre a cerca de cinquenta anos (“Mãe Negra” foi lançado em 1961), sem honras nem cânticos, numa apagada discrição cuja autoridade há muito se desvanecera e cujo prestígio jazia escondido nas tradições apenas meio lembradas de um povo cativo. Seu nome de batismo era D. Martinho e, no mundo africano, já não passava de uma recordação. E, todavia, tratava-se de uma recordação grandiosa. D. Martinho descendia de uma longa linhagem de governantes. Era o quinquagésimo quinto manicongo”.

(...)
Tinhorão esclarece que o “apagamento da importância do ‘reino do Congo’” teria se iniciado em 1661, com a morte de D. Garcia II Afonso e se “consumado com o trágico fim de D, Antonio I em 1665 em Ambuíla”... Destaca ainda que por este tempo Angola havia se tornado a colônia mais interessante para Portugal na África, e que o tráfico de escravos para os canaviais do Brasil conferia ainda mais importância à região. O “desastre institucional do Congo” deve ser entendido a partir dessa realidade.
(...)
Por fim, o autor retoma as considerações de Lourenço Farinha (1694), para quem a desolação no Congo se instalara e chegara a tal estado por aquele tempo em que, como já citamos anteriormente, “os lobos, onças e leões ali (na capital, São Salvador) podiam passar muito à vontade”.
O aludido tempo era o do “reinado” de D. Pedro IV (Noaku a Muemba), 1684 a 1710, e no Planalto angolano começaram a se formar “reinos de imitação”.
O próximo fragmento é de “História de Angola”, do Grupo de Trabalho História e Etnologia do MPLA... De acordo com este documento, em Bié, Bailundo e Tchiyaka (os três estados mais importantes do Planalto angolano), entre 1700 e 1898/início do século passado, contaram-se 59 “reis”:

                   “Em 1680, o chefe Tchilulu, saindo de Uamba, veio formar o reino de Tchiyaka. Em 1671, Kutuku-la-Menzu, vindo dos Bângelas, onde havia jagas, fundou o reino Ndulu (hoje esse território chama-se Andulo). Em 1700 pouco mais ou menos, o chefe Katiavala, vindo do Kibala, fundou o reino de Bailundo. Cerca de 1750, Viyé, guerreiro caçador do sul (Kembe), veio instalar-se em Bié. Em 1760, um homem chamado Kakonda, originário de Luanda, foi vendido em Benguela como escravo. Kakonda evadiu-se e veio fundar o reino de Kakonda. Assim se formaram os principais reinos do Planalto”.

(...)
Do que até aqui se expôs, fica claro que a sequência de “reis” do Congo e os de Angola se relacionam à “criação política dos primeiros descobridores/colonizadores lusitanos na África”.
As considerações finais apresentadas nesta postagem concluem a temática... E ao mesmo tempo introduzem os assuntos que são tratados no final do livro, sobre as congadas no Brasil e ainda a sobre “origem e cultura dos negros de Lisboa dos séculos XV a XIX”.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas