segunda-feira, 15 de março de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – ainda o filme; as “mulheres de Turnbridge”; cartazes de “procura-se” com anúncio de recompensa; o acerto da Senhora Peachum com Jenny; Mac Navalha no prostíbulo, companhia das garotas e vaticínio de Jenny; a canção de “Jenny-Pirata” por ela mesma; a vingança paira na atmosfera enfumaçada


Será que Mackie virá hoje? É o que uma prostituta da casa pergunta à outra... Há um corte de cena e passamos a ver um cartaz colado numa parede. O papel apresenta uma fotografia do perigoso “Mackie Messer”, procurado pela polícia, e o anúncio de recompensa pela sua captura.
A outra prostituta respondeu que achava que nunca mais ele voltaria.
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O Navalha parou diante do cartaz, leu atentamente e pareceu aprovar o que viu... Algumas pessoas passavam pela mesma calçada, mas ninguém notava o cartaz ou o bandido, que seguiu caminho rumo à casa das “mulheres de Turnbridge”.
Quem também chegou à casa foi a mãe de Polly, a Senhora Peachum... Afinal era ela quem pretendia falar com Jenny... A vemos lamentar-se à prostituta ao narrar sobre “o rapto” de sua filha pelo Mac Navalha, que acabou casando-se com ela. Jenny se entristeceu com o que ficou sabendo, pois era devotada ao tipo... Que lástima! Casou-se com a outra? Na noite passada! A Senhora Peachum puxou a cabisbaixa Jenny pelo corredor e pediu-lhe para avisá-la caso o Navalha viesse à casa. Devia fazer isso soprando um apito junto à janela. A outra pegou o apito oferecido pela indignada senhora e o escondeu em sua longa meia.
Do corredor onde estavam, Jenny pôde notar que Mackie acabara de passar pela porta de entrada. Chegou pedindo café e logo foi saudado alegremente pelas companheiras de Jenny. Esta nada disse a respeito do que acabara de ver à Senhora Peachum e a despachou garantindo que a avisaria conforme lhe solicitara.
(...)
Mac Navalha foi recebido pelas garotas na maior sala da casa das “mulheres de Turnbridge”... Eles não esconderam sua felicidade e espanto... O que o levara a aparecer? Evidentemente estavam assustadas, pois sabiam que ele corria perigo. Não teria visto os cartazes? Porém a atitude dele foi de muita tranquilidade. Tirou o casaco e voltou a pedir o café. Sim, ele havia visto os cartazes, mas o que podia fazer se marcava presença na casa às quintas-feiras? Bobagens como aquela não podiam perturbar sua rotina!
As moças se acomodaram ao seu redor e o encheram de abraços e carícias. Jenny o observou à certa distância, cumprimentou-o e parabenizou-o pelo casamento. Cercado pelas moças, o Navalha disse apenas que foi uma pena Jenny não ter comparecido, pois a festa havia sido divina...
As bajulações ao principal cliente da casa não cessavam... Uma das garotas lhe trouxe um bolo para acompanhar o café. Outras pediam à Jenny que se juntasse a elas. Então ela se aproximou do grupo e pegou a xícara que o Navalha lhe oferecia... Aproveitou e segurou sua mão, logo as demais pediram-lhe que “lesse a sorte” do capitão.
Jenny analisou a palma da mão esquerda do Navalha... Sua fisionomia tornou-se tão intrigante que uma das companheiras lhe pediu que se explicasse. O bandido adiantou-se e disse que só queria ouvir notícias boas, mas Jenny sentenciou que “quando os sinos da coroação soarem em Westminster”... Fez uma pausa e acrescentou que ele “estaria em apuros”.
Depois desse vaticínio, houve um silêncio perturbador... O Navalha fechou e recolheu a mão, retomou o chapéu e a bengala que estavam com as moças, levantou-se e anunciou que estava se retirando... Algumas delas o seguiram e o ajudaram a vestir o paletó. Elas pediram para que ficasse, pois não podia saber quando poderia voltar à casa. Sua fisionomia era de indignação e eventualmente dirigia o olhar à Jenny. Depois abraçou uma e garantiu-lhes que podiam apostar, pois voltaria. Mas em vez de sair, resolveu acomodar-se com as que o seguiram até uma mesa de canto. Elas continuaram a atendê-lo com os afagos “de sempre”.
Jenny permaneceu em silêncio, colocou a xícara sobre uma das mesas e seguiu para junto da janela... Ao abri-la, pôde observar a Senhora Peachum acompanhada de policiais na calçada oposta. A mãe de Pollly a reconheceu e notou que ela lhe dirigiu um sinal de mão e depois voltou a fechar a janela.
Entrementes, Mac e suas acompanhantes continuaram a se divertir... Fumavam e bebiam alegremente. Garantiram maior privacidade ao fecharem a cortina que escondia mesa e convivas foliões.
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A câmera focaliza Jenny, que permaneceu junto à parede da janela. Sua postura é a de quem pretende vingar-se dos muito desaforos sofridos... Pelo visto o Navalha a mantinha esperançosa quanto a levarem uma vida em comum, ele dava a entender que ela era a sua preferida... Tanto é que costumavam se encontrar fora do casarão. No início do filme a vemos sendo barrada na porta da taberna onde ele acertou o casório com Polly (ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_14.html).
Jenny estava decepcionada, porém sabia que os que sofrem a opressão podem alterar a realidade a qualquer momento... No filme, a canção de “Jenny-Pirata” (que no texto é cantada por Polly durante as comemorações pelo casamento; ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold.html) é apresentada pela própria... O contexto dá ainda mais sentido à sua mensagem.
A certa altura, quando canta que a cidade será destruída pelos canhões do navio pirata, e apenas o hotel imundo restará, o Mac Navalha se põe a observá-la com atenção enquanto solta baforadas de seu charuto... “Os homens do navio entrarão em cada casa para capturar os que vivem na cidade”... Serão apresentados acorrentados a ela, que decidirá quem deverá ser executado... “Todos eles! Opa!”.
(...)
Em meio à fumaça do charuto, o bandido perguntou-lhe se se lembrava de quando chegara à cidade, mesmo depois de ele ter se tornado o “Mac Navalha”, jamais a esqueceria.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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