Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_14.html antes
de ler esta postagem:
Será
que Mackie virá hoje? É o que uma prostituta da casa pergunta à outra... Há um
corte de cena e passamos a ver um cartaz colado numa parede. O papel apresenta
uma fotografia do perigoso “Mackie Messer”, procurado pela polícia, e o anúncio
de recompensa pela sua captura.
A outra prostituta respondeu que achava que nunca mais ele voltaria.
(...)
O Navalha parou diante do
cartaz, leu atentamente e pareceu aprovar o que viu... Algumas pessoas passavam
pela mesma calçada, mas ninguém notava o cartaz ou o bandido, que seguiu
caminho rumo à casa das “mulheres de Turnbridge”.
Quem também chegou à casa foi a mãe de Polly, a
Senhora Peachum... Afinal era ela quem pretendia falar com Jenny... A vemos
lamentar-se à prostituta ao narrar sobre “o rapto” de sua filha pelo Mac
Navalha, que acabou casando-se com ela. Jenny se entristeceu com o que ficou
sabendo, pois era devotada ao tipo... Que lástima! Casou-se com a outra? Na
noite passada! A Senhora Peachum puxou a cabisbaixa Jenny pelo corredor e
pediu-lhe para avisá-la caso o Navalha viesse à casa. Devia fazer isso soprando
um apito junto à janela. A outra pegou o apito oferecido pela indignada senhora
e o escondeu em sua longa meia.
Do corredor onde estavam, Jenny pôde notar que Mackie acabara de passar
pela porta de entrada. Chegou pedindo café e logo foi saudado alegremente pelas
companheiras de Jenny. Esta nada disse a respeito do que acabara de ver à
Senhora Peachum e a despachou garantindo que a avisaria conforme lhe
solicitara.
(...)
Mac Navalha foi recebido pelas garotas na maior sala
da casa das “mulheres de Turnbridge”... Eles não esconderam sua felicidade e
espanto... O que o levara a aparecer? Evidentemente estavam assustadas, pois
sabiam que ele corria perigo. Não teria visto os cartazes? Porém a atitude dele
foi de muita tranquilidade. Tirou o casaco e voltou a pedir o café. Sim, ele
havia visto os cartazes, mas o que podia fazer se marcava presença na casa às
quintas-feiras? Bobagens como aquela não podiam perturbar sua rotina!
As moças se acomodaram ao seu redor e o encheram de abraços e carícias.
Jenny o observou à certa distância, cumprimentou-o e parabenizou-o pelo
casamento. Cercado pelas moças, o Navalha disse apenas que foi uma pena Jenny
não ter comparecido, pois a festa havia sido divina...
As bajulações ao principal cliente da casa não cessavam... Uma das
garotas lhe trouxe um bolo para acompanhar o café. Outras pediam à Jenny que se
juntasse a elas. Então ela se aproximou do grupo e pegou a xícara que o Navalha
lhe oferecia... Aproveitou e segurou sua mão, logo as demais pediram-lhe que
“lesse a sorte” do capitão.
Jenny analisou a palma da
mão esquerda do Navalha... Sua fisionomia tornou-se tão intrigante que uma das
companheiras lhe pediu que se explicasse. O bandido adiantou-se e disse que só
queria ouvir notícias boas, mas Jenny sentenciou que “quando os sinos da
coroação soarem em Westminster”... Fez uma pausa e acrescentou que ele “estaria
em apuros”.
Depois desse vaticínio,
houve um silêncio perturbador... O Navalha fechou e recolheu a mão, retomou o
chapéu e a bengala que estavam com as moças, levantou-se e anunciou que estava
se retirando... Algumas delas o seguiram e o ajudaram a vestir o paletó. Elas
pediram para que ficasse, pois não podia saber quando poderia voltar à casa.
Sua fisionomia era de indignação e eventualmente dirigia o olhar à Jenny.
Depois abraçou uma e garantiu-lhes que podiam apostar, pois voltaria. Mas em
vez de sair, resolveu acomodar-se com as que o seguiram até uma mesa de canto.
Elas continuaram a atendê-lo com os afagos “de sempre”.
Jenny
permaneceu em silêncio, colocou a xícara sobre uma das mesas e seguiu para
junto da janela... Ao abri-la, pôde observar a Senhora Peachum acompanhada de
policiais na calçada oposta. A mãe de Pollly a reconheceu e notou que ela lhe dirigiu
um sinal de mão e depois voltou a fechar a janela.
Entrementes, Mac e suas acompanhantes continuaram a se divertir...
Fumavam e bebiam alegremente. Garantiram maior privacidade ao fecharem a
cortina que escondia mesa e convivas foliões.
(...)
A câmera focaliza Jenny,
que permaneceu junto à parede da janela. Sua postura é a de quem pretende
vingar-se dos muito desaforos sofridos... Pelo visto o Navalha a mantinha
esperançosa quanto a levarem uma vida em comum, ele dava a entender que ela era
a sua preferida... Tanto é que costumavam se encontrar fora do casarão. No
início do filme a vemos sendo barrada na porta da taberna onde ele acertou o
casório com Polly (ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/01/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_14.html).
Jenny estava decepcionada, porém sabia que os que
sofrem a opressão podem alterar a realidade a qualquer momento... No filme, a canção
de “Jenny-Pirata” (que no texto é cantada por Polly durante as comemorações
pelo casamento; ver https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold.html) é
apresentada pela própria... O contexto dá ainda mais sentido à sua mensagem.
A certa altura, quando canta que a cidade será destruída pelos canhões
do navio pirata, e apenas o hotel imundo restará, o Mac Navalha se põe a
observá-la com atenção enquanto solta baforadas de seu charuto... “Os homens do
navio entrarão em cada casa para capturar os que vivem na cidade”... Serão apresentados
acorrentados a ela, que decidirá quem deverá ser executado... “Todos eles! Opa!”.
(...)
Em meio à fumaça do charuto, o bandido perguntou-lhe
se se lembrava de quando chegara à cidade, mesmo depois de ele ter se tornado o
“Mac Navalha”, jamais a esqueceria.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/03/a-opera-de-tres-vintens-peca-de-bertold_17.html
Leia: “A
ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um
abraço,
Prof.Gilberto