sexta-feira, 12 de março de 2021

“A Ópera de Três Vinténs” – peça de Bertold Brecht musicada por Kurt Weill – retomando o filme; um narrador canta o infortúnio do homem metido em embustes, seus planos e fé na sorte; no esconderijo, momento de balanço, apuração das ações do bando e divisão de tarefas das próximas empreitadas; Polly traz notícias da audiência de sua família com o chefe Brown; acusações gravíssimas; um bandido perseguido; Polly deverá assumir o comando


Um narrador...
Acompanhado pelo realejo, ele canta ao seu público que “um homem vive pela própria cabeça”, que “ele precisa de um número maior”... Sugere que também a gente expectadora poderia experimentar tentar... “sua cabeça não alimentará um par de piolhos”... E mais: “entenda, nesta existência”; “um homem nunca é esperto o suficiente”; “por causa de sua fraqueza”; “por enganar e blefar”; “então faça o seu plano”; “sim, seja uma luz brilhante”; “e faça um segundo plano”; “nenhum deles dará certo”; “entenda, nesta existência”; “não há homem mau o suficiente”; “mas é bonito observá-los”; “tentando ser valentes”; “é claro, busque a sua sorte”; “mas não precisa ter pressa”; “homens valentes sempre correm atrás da sorte”; “a sorte sempre corre por último”; “entenda, nesta existência”; “as exigências do homem são difíceis demais”; “todo seu esforço clamoroso”; “é auto ilusório”.
A mensagem é sobre Mac, suas artimanhas, decisões e enrascadas.
(...)
A tela se escurece novamente...
Vemos Mac Navalha em seu esconderijo. Ele estava ditando uma série de itens que eram datilografados por um de seus capangas. Ele ostentava seu tradicional chapéu, vestia longo casaco e fumava um cachimbo que lhe conferia ares importantes.
A lista se referia à divisão de tarefas do bando, levantamento do que haviam realizado e novas missões a serem atribuídas a cada um.
Em relação ao item número oito, cofres na Oak Street, acabava de dizer que nenhuma apólice foi surrupiada e que subtraíram somente dinheiro. Aos risos, o capanga datilógrafo concluiu que o bando não se envolveria em “fraude de apólices”. Na sequência, o chefe dita a missão de certo Jimmy Two, que se encarregaria do comando de um comboio de explosivos... Novamente o datilógrafo se intrometeu sorrindo para cravar que “tudo bem” se outro morresse, pois não estava “produzindo” o suficiente...
O Navalha dirigiu um olhar de repreensão e disparou um “olha só quem fala!”... Ele consultou um volumoso calhamaço e fez a leitura do “aproveitamento” do capanga datilógrafo no último mês, “três, quatro, cinco relógios de ouro”... Sem dúvida, bem pouco. O outro não conseguiu disfarçar a vergonha e voltou a golpear as teclas da máquina... Impassível, o chefe retomou a lista e ditou o item número nove, que continha as informações sobre a “hora do assalto; 8:30; durante a coroação”... No mesmo instante, o capanga datilógrafo agitou-se e observou assustado que haveria muitos guardas no evento.
Mac Navalha acrescentou no mesmo instante que “seria uma moleza, pois todos os guardas estariam bêbados”. O capanga datilógrafo animou-se e pôs-se a rir novamente.
(...)
Neste momento Polly chegou apavorada e alertando o marido sobre a necessidade de ele fugir imediatamente. Ele não deu muita atenção e disse que aquilo era uma bobagem, mas Polly insistiu que ele devia sair urgentemente.
Os demais capangas foram se aproximando para ouvir o que Polly tinha a dizer. Ela puxou o Navalha para o fundo do esconderijo e começou a falar que tinha ido ao Tiger Brown e que seu pai, J.J. Peachum, também esteve lá. Disse que tiveram uma reunião e que decidiram prendê-lo, por isso era preciso fugir.
Mais uma vez ele disse que Polly só estava lhe trazendo bobagens. Disse que ela precisava manter a calma, pois preferia “fazer outra coisa” a fugir... Ela protestou e lembrou que o momento não estava para curtirem a paixão dos recém-casados... Depois explicou que Brown o havia defendido no começo da audiência, mas depois “o entregou”. O chefe de polícia conseguiu conversar com ela à parte e explicou que não podia fazer mais nada por ele.
Não podia ser! Mac pensou que tudo aquilo era um disparate. Como podia ser? Confiava plenamente no velho amigo Brown! Além do mais, tinha convicção de que a polícia nada tinha contra ele... Polly respondeu que a situação podia ter mudado de um dia para outro. Ontem havia sido “outro dia”... No momento a polícia tinha muito contra ele.
Mac tirou o casaco e largou a tradicional bengala... Polly pegou os acessórios e observou a atitude do marido. O que ele faria? Sem pestanejar, ela começou a expor uma das acusações. Entristecida, disse que em Winchester, Mac havia seduzido duas irmãs, ambas menores de idade... Ele se defendeu dizendo que elas lhe garantiram que tinham mais de trinta anos.
Polly não escondeu sua indignação... Quis saber se ele aprontara com as duas ao mesmo tempo... Tudo o que Mac respondeu foi que o velho Peachum era um ingrato. Então era daquele modo que o agradecia por ter se casado com sua filha?
Por fim admitiu que devia se retirar... E se era assim, Polly devia assumir os “negócios”.
Leia: “A ópera de três vinténs”. Editora Paz e Terra.
Indicação do filme (14 anos)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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