domingo, 31 de maio de 2020

“Rei do Congo – A mentira que virou folclore”, de José Ramos Tinhorão – registros de frades missionários sobre viagens ao Oriente: Odorico da Pordenone e Jourdain de Séverac; notícias sobre os domínios do Preste João na África; avanços na ciência e produções cartográficas mais precisas contribuíram para a mudança da referência em relação ao lendário rei; sugestivo registro no atlas de Abraão Cresques; Matias Viladestes, navegador maiorquino e suas informações sobre o Preste João; mapa-múndi de Guillaume de Fillastre; voltando a Portugal: novos projetos do Infante D. Henrique

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2020/05/rei-do-congo-mentira-que-virou-folclore_31.html antes de ler esta postagem:

Logo no início do século XIV apareceram os primeiros relatos de frades a respeito da localização africana do Preste João e seu reino...
O primeiro de que se tem notícia é do frei Odorico da Pordenone, que teria viajado em missão para longínquas terras durante 12 ou 14 anos (teria partido de Veneza em 1316 ou 1318) e retornado, passando pela Pérsia, em 1330...
As situações vivenciadas durante a longa viagem teriam sido ditadas por Pordenone ao confrade Solagna, um de seus colegas de mosteiro que as redigiu em latim. A respeito do Preste João, o missionário disse que “nem a centésima parte do que se disse sobre ele é verdade”...
O segundo foi o frade dominicano Jourdain de Séverac. Ele percorreu as mesmas regiões da África Oriental e da Ásia vencidas por Odorico da Pordenone. Também Séverac fez viagem missionária durante as primeiras décadas dos anos 1300 e produziu um relatório geográfico denominado “Mirabilia descripta” no qual garantiu que o Preste João era senhor soberano na “Terceira Índia”, ou seja, “na Etiópia” e sobre os seus vizinhos ao sul e a oeste”.
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"Atlas Catalão"-google 31.05.20; 19:25
Em fins do século XIV os registros que afiançavam a presença do Preste João em terras da África sustentaram-se em bases mais científicas. Diferentemente dos relatos da época das cruzadas, documentos produzidos por religiosos, comerciantes, navegadores e cartógrafos demarcaram com maior precisão as localidades a que se referiam os narradores e cronistas... Como se sabe, os antigos relatos eram envoltos em lendas e limitações de ordem geográfica e circunscritas ao Mediterrâneo.
Tinhorão faz referência ao primeiro dos mapas a trazer maiores detalhes, ilustrações e informações a respeito de paragens situadas muito além do conhecido Mediterrâneo... O “Atlas Catalão” foi produzido em 1375 (faz parte do acervo da Biblioteca Nacional da França) e é de autoria do judeu maiorquino Abraão Cresques. Além de um calendário, o Atlas traz mapa que apresenta a Europa e a África do Norte com muitos pormenores, além de proporcionar um vislumbre do Atlântico e contornos do continente Indiano... O Egito está devidamente destacado e onde Cresques desenhou o Nilo Superior, fez questão de registrar: “Seyñoria del emperador de Ethiopia dela terra del Preste Johã”.
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Essas e outras informações levaram os debatedores do século seguinte a cravarem a área de domínio do Preste João nos “altos da Abissínia-Etiópia”. E cada vez mais na África, voltada ao “Mar Vermelho e Golfo de Áden, no Índico, a olhar para a Arábia”.
O navegador Matias Viladestes, também maiorquino, apontou em 1413 que o Preste João tinha suas possessões em região “logo abaixo de onde se dá, no Nilo, a confluência dos rios Azul e Branco, ou seja, exatamente na altura da Etiópia, a oeste”.
Guillaume de Fillastre (ou Filastro; cardeal francês) era um estudioso da Geografia. Ele se destaca por ter desenhado um detalhado mapa da Europa em que nas águas mais afastadas se nota o contorno do que seria a Groenlândia. Em 1418, Fillastre produziu um mapa-múndi que sugeria a existência de terras desconhecidas tanto ao norte quanto ao sul... No mesmo trabalho, grafou um registro na costa leste da África: “Ind. Prb. Jo”, que deve ser entendido como “Índia do Preste João”.
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O fato é que todas essas informações sobre o domínio de um rei cristão em terras orientais, e mais exatamente na África, fizeram com que os europeus continuassem a crer na existência do Preste João, todavia entenderam que não deviam mais buscá-lo na Ásia.
Não foi por acaso que o Infante D. Henrique, que obtivera muitas conquistas desde a ocupação de Ceuta e as expedições pelo oceano Atlântico e águas abaixo do Cabo do Não, chegasse à conclusão de que devia investir em incursões pelo continente africano na busca de um aliado cristão que deviam encontrar no interior.
Mas isso é assunto para as próximas postagens. Até lá.
Leia: Rei do Congo. Editora 34.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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