A obra se tornou um clássico da literatura do
pós-segunda guerra, num momento em que a ordem mundial passava a ser
caracterizada pela bipolarização marcada pela disputa da hegemonia entre
Estados Unidos e União Soviética.
Há algumas hipóteses
que explicam o título que faz referência ao ano de 1984. Uma delas dá conta de
que George Orwell (como ficou conhecido Eric Arthur Blair, escritor e
jornalista nascido na Índia dominada pelos ingleses em 1903) simplesmente
inverteu o “48”, já que o livro havia sido finalizado em 1948 para dar o nome
ao livro.
Dois anos depois, Orwell morreu apenas alguns meses após a publicação de
sua distopia que nos alerta a respeito da possibilidade monstruosa de a
sociedade ser organizada (melhor seria dizer controlada) a partir de um
totalitarismo brutal.
(...)
Orwell
foi dos intelectuais humanistas que se tornaram adeptos das ideias socialistas
e se envolveram na luta contra o fascismo... Como outros, engajou-se na guerra civil
espanhola e elaborou severas críticas contra as perseguições das liberdades
individuais. Evidentemente denunciou as atrocidades cometidas pelo nazismo e o
modelo que Hitler havia imposto à Alemanha.
Também ele se
decepcionou com os rumos que o socialismo tomava na União Soviética, onde Stalin
assumiu amplos poderes, perseguiu revolucionários históricos, impôs trabalhos
forçados à população e o culto à sua imagem. Como já salientamos neste blog, o
seu “A Revolução dos Bichos” constitui narrativa alegórica sobre o totalitarismo
stalinista.
(...)
O
cenário de “1984” é o de uma Inglaterra dirigida por um partido socialista
extremamente centralizador, que tem na figura do “Grande Irmão” um líder que “a
tudo vê” e controla. A movimentação dos cidadãos e mesmo os seus afazeres
domésticos são capturados cotidianamente através da “teletela”, equipamento de
vigilância instalado nas residências... Algo realmente assustador e intimidante,
já que impossibilitava a plena autonomia e privacidade, além de incutir o
ideário da doutrina do “IngSoc” (o Partido do Socialismo Inglês) e o culto ao “Grande
Irmão”.
Todos acreditavam que
o líder máximo a tudo via. Entretanto não havia quem garantisse o ter visto em
algum momento... Isso nos leva a relacioná-lo mais a um poderoso instrumento ideológico
a serviço da manipulação das massas do que a uma personalidade política real.
(...)
Em “1984” temos um
panorama geopolítico bem definido. Há três grandes impérios, sendo que o maior
de todos é o da “Oceania” que, liderado pelo “Grande Irmão”, incluía a própria Grã-Bretanha,
a Irlanda, as terras do Atlântico norte, o continente americano e o sul da
África.
Os domínios da “Eurásia” correspondiam ao território europeu que não fazia
parte da “Oceania”, grande parte da Rússia e algumas terras na Ásia. O menor
dos impérios era o da “Lestásia”, que atingia a China, o Japão, Índia, Península
da Coreia e imediações.
As demais regiões (norte africano, grande parte da Ásia e a Antártida) que
não sofriam influência direta dos três grandes impérios eram disputadas por
eles.
(...)
No topo da sociedade inglesa retratada em “1984”
estavam o “Grande Irmão”, os graduados membros do partido, responsáveis diretos
pelos ministérios, burocracia e elaboração das estratégias de cooptação e
vigilância.
Abaixo dessa minoria estava
outra pouco mais numerosa e constituída por membros do partido, pessoas que exerciam
“serviços externos” e que sofriam rigoroso patrulhamento ideológico. Apesar
disso, devidamente doutrinadas, podiam ser consideradas privilegiados em
relação à esmagadora maioria, os “proles”.
(...)
Acompanharemos a trajetória de um dos membros do partido e funcionário
do Ministério da Verdade, Winston Smith... Como veremos, este Smith ousou pensar
a respeito da própria condição, a questionar a superestrutura imposta pelo “IngSoc”
e os métodos aplicados pelos Ministérios da Verdade, da Paz, da Fartura e do
Amor, que pareciam trabalhar no sentido oposto ao que se esperaria que fizessem*,
e a duvidar que a obediência cega ao “Grande Irmão” pudesse propiciar uma
organização social saudável aos indivíduos.
* A título de exemplificação, algo como um Ministério que
deveria cuidar da preservação do meio ambiente e que, em vez disso, permite (e
até proporciona) a sua destruição.
Conforme estudarmos a jornada do Winston Smith, veremos que ele se tornou
um elemento nocivo ao regime... Conheceremos os mecanismos de dominação e
controle definidos pela superestrutura de poder, além de outros significativos personagens
que nos proporcionarão uma compreensão mais abrangente dos tipos que o
totalitarismo pode gerar.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/07/1984-de-george-orwell-do-comeco-em-que.html
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto