segunda-feira, 5 de julho de 2021

“1984”, de George Orwell – uma introdução; um pouco do contexto em que a obra foi finalizada; sobre o IngSoc e o “Grande Irmão”, sociedade e geopolítica evidenciadas pela distopia; Winston Smith, o personagem a ser acompanhado

A obra se tornou um clássico da literatura do pós-segunda guerra, num momento em que a ordem mundial passava a ser caracterizada pela bipolarização marcada pela disputa da hegemonia entre Estados Unidos e União Soviética.
Há algumas hipóteses que explicam o título que faz referência ao ano de 1984. Uma delas dá conta de que George Orwell (como ficou conhecido Eric Arthur Blair, escritor e jornalista nascido na Índia dominada pelos ingleses em 1903) simplesmente inverteu o “48”, já que o livro havia sido finalizado em 1948 para dar o nome ao livro.
Dois anos depois, Orwell morreu apenas alguns meses após a publicação de sua distopia que nos alerta a respeito da possibilidade monstruosa de a sociedade ser organizada (melhor seria dizer controlada) a partir de um totalitarismo brutal.
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Orwell foi dos intelectuais humanistas que se tornaram adeptos das ideias socialistas e se envolveram na luta contra o fascismo... Como outros, engajou-se na guerra civil espanhola e elaborou severas críticas contra as perseguições das liberdades individuais. Evidentemente denunciou as atrocidades cometidas pelo nazismo e o modelo que Hitler havia imposto à Alemanha.
Também ele se decepcionou com os rumos que o socialismo tomava na União Soviética, onde Stalin assumiu amplos poderes, perseguiu revolucionários históricos, impôs trabalhos forçados à população e o culto à sua imagem. Como já salientamos neste blog, o seu “A Revolução dos Bichos” constitui narrativa alegórica sobre o totalitarismo stalinista.
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O cenário de “1984” é o de uma Inglaterra dirigida por um partido socialista extremamente centralizador, que tem na figura do “Grande Irmão” um líder que “a tudo vê” e controla. A movimentação dos cidadãos e mesmo os seus afazeres domésticos são capturados cotidianamente através da “teletela”, equipamento de vigilância instalado nas residências... Algo realmente assustador e intimidante, já que impossibilitava a plena autonomia e privacidade, além de incutir o ideário da doutrina do “IngSoc” (o Partido do Socialismo Inglês) e o culto ao “Grande Irmão”.
Todos acreditavam que o líder máximo a tudo via. Entretanto não havia quem garantisse o ter visto em algum momento... Isso nos leva a relacioná-lo mais a um poderoso instrumento ideológico a serviço da manipulação das massas do que a uma personalidade política real.
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Em “1984” temos um panorama geopolítico bem definido. Há três grandes impérios, sendo que o maior de todos é o da “Oceania” que, liderado pelo “Grande Irmão”, incluía a própria Grã-Bretanha, a Irlanda, as terras do Atlântico norte, o continente americano e o sul da África.
Os domínios da “Eurásia” correspondiam ao território europeu que não fazia parte da “Oceania”, grande parte da Rússia e algumas terras na Ásia. O menor dos impérios era o da “Lestásia”, que atingia a China, o Japão, Índia, Península da Coreia e imediações.
As demais regiões (norte africano, grande parte da Ásia e a Antártida) que não sofriam influência direta dos três grandes impérios eram disputadas por eles.
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No topo da sociedade inglesa retratada em “1984” estavam o “Grande Irmão”, os graduados membros do partido, responsáveis diretos pelos ministérios, burocracia e elaboração das estratégias de cooptação e vigilância.
Abaixo dessa minoria estava outra pouco mais numerosa e constituída por membros do partido, pessoas que exerciam “serviços externos” e que sofriam rigoroso patrulhamento ideológico. Apesar disso, devidamente doutrinadas, podiam ser consideradas privilegiados em relação à esmagadora maioria, os “proles”.
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Acompanharemos a trajetória de um dos membros do partido e funcionário do Ministério da Verdade, Winston Smith... Como veremos, este Smith ousou pensar a respeito da própria condição, a questionar a superestrutura imposta pelo “IngSoc” e os métodos aplicados pelos Ministérios da Verdade, da Paz, da Fartura e do Amor, que pareciam trabalhar no sentido oposto ao que se esperaria que fizessem*, e a duvidar que a obediência cega ao “Grande Irmão” pudesse propiciar uma organização social saudável aos indivíduos.

                   * A título de exemplificação, algo como um Ministério que deveria cuidar da preservação do meio ambiente e que, em vez disso, permite (e até proporciona) a sua destruição.

Conforme estudarmos a jornada do Winston Smith, veremos que ele se tornou um elemento nocivo ao regime... Conheceremos os mecanismos de dominação e controle definidos pela superestrutura de poder, além de outros significativos personagens que nos proporcionarão uma compreensão mais abrangente dos tipos que o totalitarismo pode gerar.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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