terça-feira, 6 de julho de 2021

“1984”, de George Orwell – teletela, funcionalidade e estopim de paranoias; o prédio do Ministério da Verdade, uma construção gigantesca; estranhos e contraditórios lemas do IngSoc; Winston pensa a respeito de Londres, sua importância para o Oceania e decadência; os outros três ministérios, grandiosos prédios e funções

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/07/1984-de-george-orwell-do-comeco-em-que.html antes de ler esta postagem:

A teletela era equipamento dos mais avançados... Ela tanto transmitia discursos e mensagens do Partido como recebia as imagens de tudo o que estivesse ao alcance de seu “campo de visão”, além dos sons do interior da residência. Qualquer som mais alto que um cochicho podia ser captado pela placa metálica.
As pessoas sabiam que eram vigiadas. Sem terem plena certeza de que isso ocorresse a todo o momento, procuravam não cometer equívocos que lhes trouxessem complicações com a “Polícia do Pensamento”. Esta podia entrar em contato a qualquer momento, e inevitavelmente o indivíduo contatado ficava sem saber se o mesmo ocorria com outros ou se receberia ligações constantes, e por quanto tempo, até serem liberados ou encaminhados a temidas instâncias.
(...)
Como se vê, o anteriormente descrito podia levar toda população a uma verdadeira paranoia, já que pouca coisa escapava da vigilância da “Polícia do Pensamento”, vivia-se sob a tensão de a qualquer momento ser advertido de algum modo...
Também aí é necessário advertir que ninguém tinha plena certeza de que isso realmente ocorreria. Assim, as pessoas se habituaram a aceitar que os movimentos e sons domésticos eram sempre captados e analisados por censores rigorosos. Imaginavam que sua movimentação só podia escapar da vigilância da teletela nas ocasiões em que o ambiente estivesse às escuras.
(...)
Winston era dos que evitava cometer deslizes diante da teletela... Por isso se mantinha de costas para o aparelho o mais que podia. Evidentemente sabia que ainda assim seus movimentos podiam ser interpretados “pelas costas”.
Ainda perto da janela do apartamento, o rapaz refletia sobre o Ministério da Verdade, localizado a um quilômetro de distância de onde morava. Trabalhava naquele prédio e lembrou-se de sua imponência, já que nenhuma outra construção de Londres atingia a sua altura.
O prédio do Ministério da Verdade era realmente algo diferenciado. Nenhum “outro objeto visível” chegava à sua magnitude. Tratava-se de uma gigantesca pirâmide revestida por um cimento muito branco e que possuía uma série de terraços, sendo que o mais elevado estava à altura dos trezentos metros acima do solo. Para termos uma ideia do colossal tamanho da edificação, desde a janela de seu apartamento, Winston Smith podia ler os três lemas do IngSoc inscritos em sua fachada:

                   “Guerra é Paz. Liberdade é Escravidão. Ignorância é Força”.

O gigantesco Ministério se elevava acima da “paisagem fuliginosa” da cidade.
Certo desânimo e repugnância o dominaram quando pensou nela, a mais importante e uma das mais populosas da Oceania. Apesar disso, não conseguia se recordar de tempos mais antigos, os de sua infância, em que o aspecto de Londres fosse diferente do que se lhe apresentava...
Não conseguia se lembrar de outro casario que não fosse aquele constituído por casas do século XIX... A maioria caindo aos pedaços e com a necessidade de serem amparadas por escoras de madeira, com janelas remendadas com papelão e telhados com as chapas envergadas de ferro. E o que dizer dos jardins circundados por muros que ruíam por falta de cuidados?
Praticamente não se recordava de nada da época de sua infância, apenas “uma série de quadros iluminados, que se sucediam sem pano de fundo e (que) eram quase ininteligíveis”. As crateras provocadas por bombas já existiam há muito tempo! Em muitas delas cresceu um mato volumoso que escondia escombros antigos... Certas bombas que caíram sobre a cidade eram tão potentes que abriram grandes clareiras nas quais surgiram barracos de madeira, cujas aglomerações lembravam galinheiros.
Por tudo isso, Winston não podia deixar de lamentar sempre que pensava em Londres. Mas, como veremos, outros assuntos estavam incomodando bem mais.
(...)
Dizia-se que o Ministério da Verdade possuía “três mil aposentos sobre o nível do solo, e correspondentes ramificações no subsolo”. Outros três prédios tão grandes e espantosos quanto este marcavam a paisagem de Londres. Tanto é assim que podiam ser avistados ao mesmo tempo desde o telhado da Mansão Vitória.
Esses outros grandes prédios abrigavam os outros três ministérios que desenvolviam ações de governo. Eram eles: o Ministério da Paz; o Ministério do Amor; o Ministério da Fratura.
A partir das funções que desempenhavam, podemos dizer que:

                   * O Ministério da Verdade se encarregava “das notícias, diversões, instrução e belas artes”;
                   * O Ministério da Paz “se ocupava da guerra”;
                   * O Ministério do Amor “mantinha a lei e a ordem”;
                   * O Ministério da Fartura “amparava as atividades econômicas”.

Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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