Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/07/1984-de-george-orwell-uma-introducao-um.html antes
de ler esta postagem:
Fazia pouco que o inverno terminara... O dia
dera em ensolarado, mas também em frio, e a ventania incomodava os que tinham
necessidade de sair às ruas.
Uma da tarde... Vemos
Winston Smith, um tipo loiro de trinta e nove anos, funcionário do Ministério
da Verdade, chegando à Mansão Vitória, o prédio onde se localizava o seu
apartamento. O homem era franzino, debilitado e tinha uma pele muito clara que
evidenciava os arranhões do costumeiro “sabão ordinário” e das lâminas de
barbear sem corte. O vemos passando apressadamente pela porta envidraçada
tentando escapar da poeira que se levantava desde o calçamento.
(...)
O saguão cheirava a repolho cozido... A parede do fundo exibia o grande
e desproporcional cartaz que dominava o ambiente fechado. Nele se via uma “cara
enorme”, o Grande Irmão, líder do império. Quem se detivesse a observar com
atenção, notaria “o rosto de um homem de uns quarenta e cinco anos, com espesso
bigode preto e traços rústicos, mas atraentes”.
Winston
subiria ao sétimo andar... Não devemos estranhar que recorresse às escadas,
pois ele bem sabia que o elevador era costumeiramente desativado. Somos
tentados a pensar que os tempos eram de contenção de gastos, já que durante o
dia a eletricidade vinha sendo desligada. É bem verdade que até nas épocas em
que não se falava de corte de gastos o elevador raramente funcionava. Os
moradores sabiam que aquele tipo de limitação tinha a ver com a “campanha de
economia” que os preparava para a “Semana do Ódio”. Algumas postagens a mais e
trataremos a respeito de eventos dessa natureza.
Subir os vários
degraus era exercício dos mais extenuantes para Winston, principalmente porque
lhe doía “uma variz ulcerada acima do tornozelo direito”. Por causa disso o seu
caminhar era lento, já que ele tinha de parar para descansar algumas vezes.
A
cada andar, junto ao acesso à porta do elevador, deparava-se com um novo grande
cartaz do Grande Irmão com a inscrição “O Grande Irmão zela por ti”. Ao passar
diante do grande painel tinha-se a sensação de que o olhar do líder máximo acompanhava
seus movimentos.
(...)
Enfim Winston chegou
ao seu apartamento... Assim que abriu a porta ouviu a propaganda oficial que
era transmitida desde a teletela, “uma placa metálica retangular semelhante a
um espelho fosco”.
Toda residência
possuía ao menos um desses equipamentos instalados. Winston pôde perceber que a
matéria era a respeito da mais que satisfatória produção de ferro gusa. Girou
um botão para diminuir o volume do aparelho, que funcionava ininterruptamente e
em nenhuma hipótese podia ser desligado.
Dirigiu-se à janela e pela vidraça contemplou a paisagem fria... A
poeira da rua era agitada pelo vento que provocava pequenos redemoinhos que
espalhavam também tiras de papéis. O céu estava limpo e o sol se fazia
presente, mas tudo em volta parecia descorado... De chamativo só mesmo os
muitos cartazes que estampavam o bigodudo Grande Irmão, que parecia a tudo
observar sem cessar.
Os cartazes estavam por toda parte e transmitiam a mesma mensagem “O
Grande Irmão zela por ti”. Smith observou um desses na casa que estava do outro
lado da rua... Mais uma vez sentiu como se os olhos escuros do grande líder o
estivessem procurando. Outro grande cartaz que podia ser notado mais adiante
tremulava conforme era atingido pela ventania, pois não estava bem afixado e
apresentava um pequeno rasgo. Por causa disso, a inscrição INGSOC era eventualmente
encoberta.
(...)
Como se pode depreender, os cartazes do Grande
Irmão eram parte da propaganda e constante vigilância do governo. O aparelho de
teletela instalado nas residências tinha as mesmas funções...
Desde a janela do
apartamento, Winston notou outro equipamento de patrulhamento utilizado pelo
regime... A certa distância, um helicóptero sobrevoava a baixa altitude e
pairava por alguns instantes junto aos telhados. Tratava-se da “Patrulha da
Polícia” que tinha a missão de “espiar pelas janelas do povo”. Esse tipo de
patrulha era bastante comum, e o rapaz sabia que o que mais devia preocupar as
pessoas era a “Polícia do Pensamento”.
(...)
No interior do apartamento a teletela continuava a transmitir a matéria
a respeito do ferro gusa e sobre a “superação do Novo Plano Trienal”...
Neste ponto vale ressaltar algumas referências críticas descritas pelo
autor a fim de caracterizar a estrutura totalitarista existente no mundo de
Winston Smith... O patrulhamento e a intensa propaganda política de culto à
liderança máxima (bem parecida com o Stalin) se destacam. E o que dizer desse
“Novo Plano Trienal”? Como sabemos, a planificação da Economia era cara aos
comunistas da URSS...
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto