Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/07/1984-de-george-orwell-sobre-o-conteudo.html antes
de ler esta postagem:
Parsons notou que Syme lidava com anotações num
papel, então fez uma observação admirada sobre sua dedicação ao trabalho
durante o almoço e chamou a atenção de Winston a respeito da própria
incompetência, pois admitia não ter capacidade para tarefas difíceis como aquela.
Na sequência anunciou o que pretendia...
Queria mesmo falar
com o camarada a respeito de certa “conta”. Winston adiantou que não sabia do
que se tratava, embora já estivesse abrindo a carteira porque talvez tivesse se
esquecido de quitar alguma “contribuição voluntária”. Não era fácil lembrar-se de
todas.
Parsons explicou que estava fazendo a arrecadação para organizar a “Semana
do Ódio”. Todos deviam contribuir, já que uns vinte e cinco por cento do
salário recebido eram destinados a esse tipo de evento. No caso, o tesoureiro
estava responsável pelos preparativos do evento na área residencial onde
moravam. Empolgado, disse que a Mansão Vitória se destacaria mais do que as
ruas da vizinhança.
(...)
Winston
retirou os dois dólares que havia prometido... Parsons fez o registro da
quitação numa caderneta e disse que ficara sabendo da traquinagem do filho que
o havia atacado com um estilingue no dia anterior. Comentou que o advertira e
que ameaçou tomar-lhe o brinquedo.
Winston comentou que
talvez o garoto estivesse agressivo por não ter ido à execução. Parsons
concordou e admitiu que não podia esperar outra coisa de suas crianças, “peraltas
esforçados” que só pensavam na campanha militar do país e no grupo dos Espiões
do qual faziam parte.
A
respeito da caçula, Parsons comentou que no último sábado havia participado de
um passeio nas proximidades de Berkhamsted e que liderou duas de suas colegas
numa “perseguição de investigação” a um desconhecido... Por duas horas
estiveram neste brinquedo, tendo percorrido trilhas pelo bosque. Ao chegarem a Amersham
apresentaram denúncia às patrulhas e o entregaram... Winston não escondeu o
espanto e perguntou por que agiram daquele modo... Com empolgação, o outro
respondeu que sua “pirralha” estava convencida de que o desconhecido era um “agente
estrangeiro” que poderia ter chegado à área depois de saltar de paraquedas.
Para o ingênuo
Parsons, a garota se destacava por sua astúcia. E não é que ela havia notado
que o tipo calçava “uns sapatos esquisitos”? Desconfiou porque nunca vira
ninguém com aquele modelo, então tudo indicava que ele era estrangeiro.
Winston quis saber o
que aconteceu depois. Parsons não tinha informações, mas adiantou que não se
surpreenderia se... Não chegou a terminar a frase, pois com alguns gestos imitou
uma execução com tiro de fuzil.
Syme, que permanecia concentrado em suas anotações, pronunciou um “bom”
em sinal de aprovação. Winston aproveitou para concordar, emendando que “não
podemos nos arriscar”. Parsons concluiu o assunto afirmando que “estamos em
guerra”.
(...)
Na sequência a teletela emitiu um som de clarim. Os três estavam bem
próximos do aparelho e levantaram os olhos em sua direção. Pelo teor da
conversa bem podia se tratar de algo relacionado às campanhas militares... Em
vez disso, ouviu-se “um anúncio do Ministério da Fartura”.
A narração estava por conta de um jovenzinho que
trazia “gloriosas notícias” a respeito dos excelentes resultados da produção. O
anúncio era extremamente animador, já que houve “superação nos dados de todos
os artigos de consumo”. Isso significava “que padrão de vida” aumentara em
vinte por cento em relação ao ano anterior.
Na sequência,
destacou-se que pela manhã havia ocorrido inúmeras manifestações espontâneas de
trabalhadores que, desde as fábricas e escritórios, marcharam com bandeiras e
faixas de agradecimento ao Grande Irmão e à sua “sábia liderança”. Graças a
ele, todos passariam a ter uma “nova vida feliz”. Por fim a matéria divulgou os
resultados.
Parsons permaneceu boquiaberto o tempo inteiro e era dos que dedicavam
atenção com satisfação. Mais do que as cifras, sentia-se encantado pelo “toque
marcial”. Emocionado, tirou um “cachimbo imundo” do fundo do bolso. Via-se a
precariedade do objeto um tanto chamuscado e raramente abastecido por fumo.
Winston
acendeu um de seus cigarros Vitória com todo cuidado para conservá-lo na
horizontal. Sabemos o motivo... Ainda mais que só tinha mais quatro. Apesar do
alvoroço que dominou o refeitório, procurou manter-se atento aos resultados
espalhafatosos que estavam sendo divulgados. Em determinado fragmento ouviu que
ocorreram manifestações “de agradecimento ao Grande Irmão por aumentar para
vinte gramas a ração semanal de chocolate”.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um
abraço,
Prof.Gilberto