terça-feira, 20 de julho de 2021

“1984”, de George Orwell – incentivos da instrutora para os exercícios físicos finais; início do dia de trabalho de Winston no Departamento de Registros; tubos pneumáticos nas paredes da repartição; “buracos da memória” e tipos de matérias analisadas pelos empregados; registros abreviados e em novilíngua apresentam os conteúdos a serem retificados; corrigindo o discurso e previsões do Grande Irmão acerca do desenrolar da guerra na Índia e no norte africano

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/07/1984-de-george-orwell-usando.html antes de ler esta postagem:

Winston foi chamado à atenção pela instrutora da ginástica matinal. Por isso mesmo tratou de se concentrar e manter uma aparência que não permitisse qualquer suspeita. De modo algum podia aparentar desânimo e por isso tratou de assistir à demonstração que a outra exibia desde a teletela. Ele e os demais trabalhadores de escritórios deveriam curvar o corpo e levar a ponta dos dedos ao calcanhar.
A instrutora elevava os braços e incentivava os camaradas dizendo que era mãe de quatro filhos e já estava com trinta e nove anos... Se ela podia fazer o exercício, eles também conseguiriam, e sem dobrar os joelhos. Lembrou que, já que não tinham o privilégio de combater “nas linhas de frente”, como os soldados que estavam na Índia ou nas “fortalezas flutuantes”, tinham de “conservar a linha e a saúde”.
Dirigindo-se ao Winston, garantiu que estava bem melhor. De fato, esforçando-se até o limite, ele acabou conseguindo tocar o calcanhar com as pontas dos dedos “sem dobrar os joelhos, pela primeira vez em vários anos”.
(...)
Já no seu compartimento de trabalho, Winston pôs-se a executar as tarefas da manhã.
Acionou o “falascreve” e organizou uns pequenos rolos de papel que haviam chegado a partir de um tubo pneumático cuja saída estava à direita de sua mesa e do qual recebia mensagens escritas... Havia outras duas aberturas, a da esquerda era maior e por ela chegavam jornais e outras publicações; a do centro era retangular, tinha uma grade de proteção e por ela era descartada a papelada que devia ser eliminada.
Aberturas “de descarte”, apelidadas e mais conhecidas como “buracos da memória”, existiam por todo o grande prédio do Ministério. Eram dezenas de milhares, que estavam instaladas nas diversas salas e corredores exatamente para permitir o imediato encaminhamento de documentos destinados à destruição.
E acontecia mesmo de qualquer funcionário se deparar com algum papel que havia sido rejeitado pelo chão. Em casos assim, o procedimento era imediato, pois se abria a portinhola mais próxima e fazia-se o descarte. Os papéis eliminados eram sugados por uma “corrente de ar morno, até as caldeiras enormes, ocultas nalguma parte, nas entranhas do prédio”.
(...)
Winston passou a analisar os papéis. Neles havia registros que se estendiam por uma ou duas linhas, já que as mensagens que circulavam pelo Ministério eram sempre abreviadas e em “novilíngua”. No caso dos quatro papéis que chegaram à sua mesa, os conteúdos eram:

                   “times 17.3.84 gi disc malrepro africa retifica times 19.12.83 previsão 3 ac 4.º trimestre 83 errata verifica número hoje times 14.2.84 minifarto malnotícia chocolate retifica times 3.12.83 notícia ordemdia gi dupliplusimbom refs impessoas reescreve compl subsuper prearquivo”.

O quarto papel era o que apresentava alguma complexidade e exigiria mais trabalho, mas o rapaz não conseguiu esconder certa satisfação ao tomar conhecimento do conteúdo... Os outros três eram simples, sendo que o segundo certamente demandaria “uma tediosa pesquisa de cifras”.
A primeira medida que tomou foi registrar "números atrasados" no aparelho de teletela. Depois solicitou “os exemplares correspondentes do Times”. Alguns minutos depois o tubo pneumático liberou o material... As mensagens que constavam nos papéis relacionavam-se a “artigos ou notícias” daqueles números. Winston teria de alterar o que havia sido publicado porque de algum modo contradiziam afirmações e decisões oficiais contidas nas mensagens. Dizia-se que os artigos e notícias deviam ser retificados.
Para termos uma ideia, a publicação do dia 17 de março trazia um discurso feito pelo Grande Irmão no dia anterior e no qual afirmava que certamente a frente meridional na Índia prosseguiria sem maiores complicações e que, diferentemente disso, os eurasianos atacariam no Norte da África. Nada disso se efetivou, já que o alto comando inimigo acabou realizando manobras de ataque no sul da Índia e, ao mesmo tempo, não tomou nenhuma iniciativa no norte africano.
Então, qual era a tarefa de Winston neste caso? Ele teve de reescrever um trecho do discurso do grande líder para, desse modo, tornar corretas as suas previsões em relação ao que de fato se sucedeu.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas