sexta-feira, 30 de agosto de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Álvaro fica sabendo que a intervenção de Peri em favor de sua vida se devia à sua devoção à Cecília; poeticamente, Peri explica a convivência dos três jovens; mais poesia no texto de Alencar; sim, Álvaro também devotava-se à donzela

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-o.html antes de ler esta postagem:

Álvaro viu na ação de Peri a consideração que o índio tinha por ele... Por isso agradeceu. De sua parte, Peri respondeu que o rapaz deveria agradecer à senhora. Ele procurava impedir a todo custo que Cecília se entristecesse e por isso interveio impedindo que Loredano o assassinasse...
O rapaz demonstrou certo embaraço, disse que Cecília era uma boa pessoa que certamente sentiria demais a morte de qualquer um dos que faziam parte de seus círculos familiar e de amizade... Peri respondeu garantindo que Cecília o tinha em muito boa consideração. Disse que Álvaro era “o sol que faz o jambo corado, e o sereno que abre a flor da noite”...
De modo poético garantia que o cavalheiro era muito importante para a sua senhora...
O índio explicou que ficava feliz por notar que Álvaro fazia Cecília sorrir: A cana quando está à beira d’água, fica verde e alegre; quando o vento passa, as folhas dizem Ce-ci. Tu és o rio; Peri é o vento que passa docemente, para não abafar o murmúrio da corrente; é o vento que curva as folhas até tocarem a água.
E esse era o juízo que fazia da vivência dos três... Álvaro ficou encantado ao ouvir Peri dizer com tanta naturalidade aquelas belas palavras. Não era comum ouvir poesia como aquela nem mesmo entre os colonos mais abastados... O fato é que Peri era resultado da exuberante natureza brasileira daqueles tempos de fins do século XVI e início do XVII...
Alencar manifesta todo o seu encanto pela terra, poesia que dela emanava, e por Peri, seu personagem:


Não é isso a poesia?
O homem que nasceu embalou-se e cresceu nesse berço perfumado;
No meio de cenas tão diversas, entre o eterno contraste do sorriso e da lágrima, da flor e do espinho, do mel e do veneno, não é um poeta?
(...)
Sua palavra é a que Deus escreveu com as letras que formam o livro da criação;
é a flor, o céu, a luz, a cor, o ar, o sol;
sublimes coisas que a natureza fez sorrindo.

O rapaz disse a Peri que ele só lhe dedicava estima porque imaginava que Cecília o quisesse bem... O índio respondeu de modo afirmativo, e justificou que isso acontecia porque ela era digna de devoção, pois havia deixado a mãe (Lua), irmãos e a terra onde havia nascido... Álvaro, como que testando a fidelidade de Peri a Cecília, perguntou sobre o que aconteceria se a moça não o amasse, ou se ele próprio não fosse apaixonado por ela... O índio esclareceu que, no primeiro caso, sequer o notaria durante os dias; no segundo caso, respondeu que seria impossível o moço não amá-la apaixonadamente... E completou dizendo que se Álvaro se tornasse motivo de infelicidade para Cecília, se revoltaria contra ele e o mataria.
Peri dizia aquelas palavras com a sinceridade (ingenuidade mesmo) que o caracterizava... Ele receava ofender o jovem Álvaro... Então, como que se desculpando, disse-lhe que sua devoção por Cecília era total:

Peri é filho do sol (...), mas o renegaria se ele queimasse a pele alva de Cecília;
Peri ama o vento, mas se ele arrancasse um cabelo de ouro de Cecília, o odiaria;
zangaria-se com o azul do céu, e nem o olharia mais, se ele se tornasse mais azul
que os olhos de Ceci...

Álvaro compreendia Peri, e deixou-o tranquilo ao garantir que também dedicava-se à felicidade de Cecília... Não aconteceria (nunca) de Peri investir contra a sua vida, pois garantia que antes disso ele mesmo se mataria se soubesse que trazia infelicidade à amada. O índio reconhecia a sinceridade do cavalheiro, e disse que queria que a senhora o amasse.
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto 

Páginas