O aventureiro italiano conseguiu irritar Álvaro e exigia dele uma satisfação sobre o ataque que acabara de sofrer... A situação só podia resultar em um duelo. Mas o cavalheiro recusou-se a travá-lo com arma nobre, como a espada. Esclareceu que a arma mais adequada a Loredano, e a aventureiros bandidos como ele, era o punhal...
O confronto teve início e de imediato o italiano percebeu que seria derrotado... Por duas vezes ele quase teve o pescoço perfurado... Então levantou a mão esquerda demonstrando que pretendia uma trégua.
Ele parou o confronto para explicar a Álvaro que podiam resolver a situação num ambiente em que do assassinado não restaria nenhum vestígio que pudesse incomodar o vencedor do duelo... Evidentemente Loredano concluía que não tinha a menor chance de vencer o cavalheiro, então tratou de planejar uma situação traiçoeira para derrotá-lo de vez... Álvaro quis ouvir a proposta... Loredano explicou que deveriam seguir até o rio que estava ali perto, cada um se acomodaria sobre uma ponta do rochedo, e seria com a clavina que resolveriam o entrevero... O derrotado cairia no rio e seria levado para a cachoeira... Não haveria incômodo para o sobrevivente mesmo que o infeliz ficasse apenas ferido do tiro que o alvejasse.
Álvaro não colocou nenhuma objeção. Não gostaria mesmo que soubessem que estivera em duelo com um tipo baixo como o italiano. Os dois seguiram para o rio... Álvaro andou tranquilamente à frente, apesar de reconhecer no outro apenas a vilania, não imaginava que seu adversário ousasse atirar pelas costas...
Loredano deu sequência à sua ideia... Deixou sua cinta de espada cair propositadamente... Enquanto baixou para pegá-la, concluiu que não poderia perder a chance de eliminar o seu inimigo... Em meio à mata, sem testemunhas, o mais esperto deveria sair-se vencedor... Levantou-se calmamente e armou a sua clavina.

Tão envolvido estava nessas reflexões que não tinha condições de imaginar quais eram as intenções do covarde vilão que já se encontrava em seu encalço... Chegou a pensar que o outro havia fugido da disputa... Em vez disso, porém, Loredano estava prestes a dar-lhe o tiro pelas costas naquele mesmo instante.
Loredano disparou sua arma... Não havia como errar o tiro, mas ocorreu que Álvaro não foi atingido... A bala passou próxima à sua cabeça sem provocar nele nenhuma reação mais agitada... No mais completo desprezo, apenas voltou-se para olhar o bandido de frente...
O que viu não deixava dúvida a respeito da impotência de Loredano, que se encontrava dominado por Peri... Álvaro viu que o índio segurava a nuca do bandido, que estava ajoelhado e sem suportar a pressão que sofria... Peri, de faca em punho, estava pronto para eliminar o malfeitor com uma cravada certeira na cabeça.
Porém, Álvaro impediu que ele tirasse a vida do traste... Argumentou que ele próprio deveria acertar as contas com aquele que à pouco ousava tirar-lhe a vida... Armou a sua clavina e ordenou que o outro fizesse a sua última oração... Peri afastou-se... Loredano nada disse... Por dentro era todo palpitação agitada e lamento por perder o precioso pergaminho para Álvaro... Com a arma encostada em sua cabeça, aguardava o tiro que colocaria um fim à sua tumultuada existência...
Continua
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto